6 - Notícias do front

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- Não, não é um bom dia – Tatiana estava relutante. – Já te falei que é final de mês e isso aqui fica uma loucura. Sem sair para almoçar, eu normalmente só vou para casa depois das dez, imagine se queimar uma hora de almoço com você. Vamos deixar para a sexta? Eu durmo aí, enchemos a cara ao seu estilo e você me conta o que provavelmente eu já sei.

Não, ela não sabia. Na cabeça dela, a festa de formatura deve ter sido mágica. Eu arrumado, Juliana linda, não aguentamos a onda, nos agarramos e começamos um relacionamento no mesmo dia. Claro que ela estava pensando nisso. Por mais que me conhecesse como poucos e soubesse que comigo as coisas menos improváveis são as mais corriqueiras, ela estava convincente de que foi um episódio em que tudo deu certo com um final feliz. Analisando com calma, até teve um final relativamente feliz, mas não como imaginava.

De qualquer forma, Tatiana tinha razão em relutar ao meu convite de almoço. Cansei de sair tarde da noite de casa para busca-la só para que não voltasse sozinha. Era uma rotina escrota de todo fim de mês. Algumas das vezes foram no meio da madrugada. Isso sem falar da possibilidade de colocar o emprego em risco ao demonstrar falta de dedicação nessa época tão atribulada.

- Só vou te disser uma coisa... Está me ouvindo? Juliana ficou com um cara na minha frente e voltei para casa de mãos abanando.

- AHÁ! SE FUDEU! TROUXA – ela emendou uma rápida gargalhada e prosseguiu. – Passe aqui uma e meia da tarde. Quero cada detalhe dessa história.

Para o inferno, né? Jamais aguentaria até a sexta-feira. Precisava contar para alguém o que tinha acontecido no último final de semana. Deixar para falar com qualquer outra pessoa, soaria como uma adolescente apaixonada que não aguenta com a língua entre os dentes e, convenhamos, sou um adulto maduro. Sem risos, por favor. Para a Tatiana não teria problema algum, afinal somos confidentes um do outro. O que importa é que, antecipando o fato da Juliana e o rapaz na festa, surgiu a curiosidade e, logo, foi ela quem desistiu de esperar até sexta. Portanto, não tem mais como ela ficar resmungando que a convenci a fazer algo contra a sua vontade. Mal sabe ela que a tendência é piorar.

De imediato, ela se indignou com a escolha do restaurante. Ela queria ir a pé até um pequeno restaurante a quilo quase na esquina da rua da sua empresa. Além de ser a quilo, era um lixo de local. Não bastante, teria de passar boa parte da conversa na fila para se servir. Todos sabem que isso não tem funcionalidade alguma, exceto em novela para fazer marcação de cena. Subimos na moto e fomos para outro restaurante um pouco distante. Nada mais que cinco quadras ou seis. Entramos, pegamos a primeira mesa que estava disponível e Tatiana já acenou ansiosa para o garçom. Eu fui mais rápido quando ele chegou:

- Uma cerveja, dois copos e o cardápio.

- Dois copos? Você está bêbado?

- Não, mas pretendo começar nesse momento.

- Pois fique apenas você. Já não basta me foder, quer enfiar o dedo no meu cu?

- Ainda bem que não estamos na fila do restaurante a quilo com pessoas ao redor – interrompi para o garçom entregar o cardápio à Tatiana e servir a cerveja nos dois copos. – Larga de palhaçada. Vai saber de um evento histórico de boca seca? É um copinho apenas! Depois você enche a boca de bala de hortelã.

Escolhido os pratos, brindamos e demos um bom gole cada. Voltei a encher os dois copos e ela nem percebeu. Iniciamos a ação automática de beber.

Comecei a contar a história da formatura com detalhismo de causar inveja a Kerouac. Roupas, músicas, pessoas e até nas falas fui cirúrgico. Momentos pontuais eram interrompidos por reflexões ou devaneios complementares. Algo que já devem ter visto em algum lugar por aqui. Tamanho foi o cuidado em contar o ocorrido que, quando finalmente chegaram os pratos, tinha acabado de contar apenas sobre ter pegado a melancia no balcão de bebidinhas coloridas. No momento que diria sobre avistar Juliana beijando o outro rapaz, fiz uma pausa dramática e aproveitei para pedir uma segunda garrafa de cerveja.

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