|3| Traficante de Droga?

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Após aquele pequeno-almoço infernal retirei tudo de cima da mesa e lavei a loiça, arrumando tudo de seguida. Eu sou a única a fazer este tipo de coisas nesta família, nunca ninguém me ajuda, eu mais pareço a Cinderela sem a fada madrinha.

Retirei as luvas de borracha das mãos e pendurei-as num pequeno estendal dentro de casa, para que estas pudessem secar. Já perto da porta de entrada, calcei uns ténis usados e saí de casa subindo as escadas até à cobertura. Coloquei a senha de quatro dígitos na porta e entrei, pronta para retirar as minhas coisas dali. Vendo bem não eram assim tantas coisas, apenas precisava de levar a roupa e alguns pertences pessoais. Os móveis eu ia deixá-los ali caso alguma coisa.

Fechei a porta e fui até ao centro do quarto. Vestia umas leggins pretas e uma sweater azul-escura com algumas letras brancas estampadas na frente. Levei as mãos à cabeça e retirei a peruca, para que assim pudesse tratar da minha queda de cabelo, colocando-a sobre a escrivaninha à minha esquerda.

À minha esquerda existia também um espelho na vertical, nele eu conseguia ver todo o meu corpo. Aproximei-me dele e observei o meu cabelo, com a ajuda das minhas mãos desviei um pouco do mesmo no topo da minha cabeça, e lá estava ela, a falta de cabelo. "Ah, a sério..."

Com isso lembrei-me da última vez que fui ao médico resolver este problema.

"Tem andado muito stressada ultimamente?" O médico pergunta observando a falta de cabelo na minha cabeça.

"Sim... Eu acho que vou morrer por não conseguir encontrar um emprego." Afirmo mordendo o meu lábio inferior.

"É queda de cabelo por nervosismo, e o stress de não conseguir encontrar um emprego é a causa."

Nesse mesmo dia o médico receitou-me uma pomada para ajudar o cabelo a crescer, mas até então, tenho posto-a duas vezes ao dia e nada... Tenho a certeza que isto só vai passar quando todos os stresses da minha vida acabarem. "Será que ele vai voltar a crescer se eu arranjar um trabalho efetivo?"

Uma vez mais pego no tubo da pomada e coloco um pouco da mesma sobre o meu indicador, espalhando a mesma sobre a região da falta de cabelo, e em seguida guardo a pomada, fazendo então um rabo-de-cavalo, e assim que me preparo para voltar a colocar a peruca o meu telemóvel vibra dentro do bolso da sweater. Era uma mensagem de um número que eu não conhecia.

"Eu quero alugar a cobertura."

Um sorriso aparece no meu rosto. "Existe outra pessoa interessada em se mudar para cá, mas se pagar o aluguer hoje, eu alugo-lhe o quarto."

"Eu vou pagar o aluguer."

"Podemos encontrar-nos num parque que existe perto da morada presente no anúncio? Daqui a 20 minutos?"

"Claro, lá estarei."

E sem mais demoras guardei o telemóvel e coloquei a peruca o melhor possível para que não ficasse torta. Saí da cobertura e entrei dentro de casa para trocar os meus ténis usados por uns mais novos, brancos. Sem avisar ninguém saí de casa indo então até ao nosso ponto de encontro. Não demorou muito, talvez uns 5 minutos, não sou pessoa de deixar os outros à espera, prefiro ser eu a esperar.

Ao chegar ao parque andei um pouco pelo mesmo a ver se via alguém com ar de quem andava também à procura de alguém, e foi aí que eu o vi novamente. Aquele brutamontes vigarista. Mas o quê? Ele vive aqui perto? Estava a jogar basquete com alguns miúdos mais novos que ele e a sua maneira de vestir deixava um pouco a desejar, t-shirt branca, um casaco desportivo cinzento, umas calças de ganga e... Uns chinelos? Não se pode querer tudo não é mesmo. Mas ele até que não é feio, tem uma pele clara e um corpo médio, dá para notar que é um pouco musculado. O seu cabelo é castanho-escuro, curto, em formato característico e vulgar,  mas deixando-lhe um ar sexy devido à sua franja desfraldada.

Inside Out » kthOnde histórias criam vida. Descubra agora