|9| O Pedido de Desculpas

127 11 2
                                    


MIN AH

Advogado? Ele é um advogado? Mas como? Ele não me parecia uma pessoa que tivesse uma profissão tão humilde.

Depois de todas as suas acusações perante a minha pessoa, sentia-me um pouco relutante em pedir-lhe ajuda, mas a verdade é que não tinha mais ninguém com quem contar. Para além do Seo Woo é claro, que fez os possíveis para me encontrar um advogado que fosse barato e eficaz. Mas nunca me viria a passar pela cabeça que num país tão grande me calha-se logo ele.

"Tu por acaso és um advortido?"

(junção de advogado com pervertido)

Ele mantém o olhar sobre mim e tenta conter o riso. "Advortido? Em todos os anos da minha vida, foi a primeira vez que ouvi isso." E agora com um tom mais sério. "O que é que esse tipo de pessoa faz da vida?"

"Esse tipo de pessoas não existe, eu é que misturei as palavras."

"Advortido...Advor-ti-do..." Profere pensativo passando a mão pelo maxilar. "Ah, já sei!" Estala os dedos e aponta para mim. "É uma pessoa com uma licença de pervertido, não é? Para se tornarem pervertidos, vão para a escola de pervertidos, e então aí fazem uma prova para finalmente se tornarem num. E no final eles seguram nas suas licenças e dizem 'Eu sou um advortido'." E com a sua explicação ridícula começa a rir.

Finjo um sorriso e então com um ar sério respondo. "Não teve piada."

Ele para de rir sentindo-se humilhado. "Sim, eu também não achei muita piada." Reviro os olhos. "Tu, vieste aqui porque precisavas de um advogado?"

"Não, eu passei aqui por acaso." Na verdade não, mas não quero que sejas o meu advogado.

Ele assente e eu faço o mesmo, criando um silêncio constrangedor entre nós. Mantive o meu olhar fora do seu alcance para que ele não pensasse que estava ali apenas para o apreciar, e com as minhas duas mãos apertei a mala de tiracolo contra a minha barriga.

Apanhada desprevenida sinto os seus braços à volta dos meus ombros, e assim me puxa para si com uma das suas mãos agarradas ao meu braço. O que foi isto?  Com a cara encostada ao seu peito, protegido por uma t-shirt branca, consigo ouvir os batimentos do seu coração, que bate com força, porém num ritmo normalizado.

Uma sensação quente percorre as minhas bochechas e ao saber porquê afasto-me rapidamente dele empurrando-o para trás.

"Mas o que é que tu pensas que estás a fazer? Estás maluco?!" Meio envergonhada ajeito a peruca vendo-o a apontar para algo no chão.

"Cocó de pássaro." Ele diz. "Se tu não te desviasses podias ter levado com aquilo em cima da cabeça, este bairro está cheio de pássaros por causa das montanhas." Ao olhar para onde ele apontava reparei no cocó de pássaro de que ele estava a falar, e era verdade, aquilo não estava ali antes. Mas como é que ele conseguiu ver aquilo a cair antes de me acertar? E o mais estranho é que já não era a primeira vez que isto acontecia, ele fez o mesmo quando o vaso de flores caiu na direção dele, ele é algum guru das artes marciais? "De qualquer das maneiras, é suposto eu desistir do meu rámen?" Questiona ao passar os olhos por mim, direcionando-se para a porta do prédio. "Vamos entrar."

"Desculpa mas..." Antes que ele desse mais algum passo agarrei numa parte do seu casaco e puxei-o para trás, impedindo que ele andasse. "Esquece okay?"

Confuso, volta atrás e de frente para mim comenta. "Mas porquê? Tu não vieste aqui porque precisavas de um advogado de graça? Eu conheço muito bem a tua situação Min Ah. Tu não tens dinheiro porque já pagaste um mês adiantado do aluguer. Então? Vamos entrar ou não?" E com um sorriso vitorioso afasta-se novamente de mim, subindo as escadas do prédio em direção ao tal escritório. E eu vejo-me forçada a ir atrás dele por não ter mais nenhuma esperança.

Inside Out » kthOnde histórias criam vida. Descubra agora