Quase irmãos

25.Take it easy!

  >>Camila<<
"~Caique,por que voce me provoca desse jeito?"
"~Porque eu odeio voce."
Virei de costas e simplesmente sai. Além de estar tarde eu ja tava farta de olhar pra ele.
O domingo passou ligeiro e eu fui dormir cedo pois no dia seguinte teria aula, e eu queria esquecer aquele baile.
Como toda segunda-feira, acordei um pouco mais tarde pois minha mãe deixaria a gente na escola.
"~Camila!!! Vamos logo já está atrasada!!" - minha mae gritou do andar de baixo, provavelmente da cozinha.
"~To descendooo!"
Chamei o Paulo, o Harry e bati na porta do Caique. Meia hora depois ja estavamos todos no carro, liguei o rádio e tava tocando uma das minhas musicas preferidas,eu cantava.
"~Bela voz" -Harry disse do banco de trás
"~Que musica de menininha" -Caique no seu mais belo humor matinal
"~Cala a boca,garoto!" -respondi no mesmo tom, desde aquela noite eu tinha decidido uma coisa: tratar ele como ele sempre me trata.
Minha mae mandou a gente ficar quieto, desligou o radio e ficamos em silencio ate a escola.
No fim das aulas eu e a Bea fomos pra casa dela estudar pra prova do dia seguinte.
"~Camila? Terra chamando Camila! Alô alô!" - bea me tirou de um pensamento longe
"~Ai, onde a gente tava mesmo? eletroquimica?"
"~A gente tava estudando biologia, Cams!''
''~Eu realmente nao to pensando direito...acho q eu vou pra casa."
"~Foi o baile neh? Você precisa esquecer isso!!"
Era isso. Eu tinha que esquecer daquele dia e de todos os outros que vieram antes, me despedi dela e peguei o caminho de casa, mas eu precisava ficar sozinha. Precisava por as coisas no lugar na minha cabeça, decidi entao mudar a rota e isso me levou pro terraço que o Caique tinha me levado. Era fim do dia e o sol tava quase se pondo, me sentei ali e fiquei observando.
"~Esse lugar ja foi mais bem frequentado!" -uma voz atras de mim, eu sabia de quem era, mas eu queria acreditar que talvez nao fosse.
"~Verdade...Você podia parar de vir aqui"
"~ esse lugar era meu"
"~Nao to vendo"
"~nao ta vendo o que?"
"~seu nome aqui"
"~haha engraçadinha" -ele sentou do meu lado
"~voce ta vendo isso?"
"~o sol indo embora porque nem ele aguenta olhar pra voce? to"
"~rum.. a gente conversando numa boa,sem brigar"
"~as vezes voce é legalzinha"
"~admite! voce nao vive sem mim!"
"~eu vivi 19 anos da minha vida sem voce. posso viver mais 80 sem problemas"
"~nao da pra falar com voce, na boa"-me levantei
- ele puxou minha mão- "quer? voce ta precisando relaxar" -ele tirou o cigarro do bolso.
"~voce ta louco que eu vou fumar essas suas merdas?" -exaltei minha voz
"~Take it easy,Cams!"
Me sentei balançando a cabeça negativamente e peguei o cigarro da mão dele.
"~Voce sempre consegue o que quer?"
"~nao vou negar, a maioria das vezes!"
Eu traguei rápido demais, mal pude sentir o gosto na minha boca, e por incrível que pareça não senti nada diferente. Caique do nada começou a rir sem controle, suas pupilas dilatadas, suas covinhas bem em destaque no meio daquele lindo sorriso com o seu cenho franzido..
"~ Além de tudo, você também não sabe fumar?" - Caique falou debochando, rindo .
"~ óbvio que não, eu nunca fumei, porque eu deveria saber fazer uma coisa que eu nunca fiz? Até porque eu nem quero isso"
"~ então me fala Camila, oque você quer?"
"~ Big Apple"
"~ Puta que pariu, até aqui você fica pensando nessas coisas, esquece um pouco isso e tenta relaxar."
Naquele momento tudo oque eu não conseguiria era relaxar.
"~ posso tentar te ensinar?"
Balancei a cabeça e ele veio por traz de mim, com um sorriso, colocou a mão sobre a minha apertou meu dedo e no instante eu fiquei toda arrepiada, ele pegou o beck e colocou entre os meus dedos.
" só você segurar assim, entendeu? Agora você puxa e inspira a fumaça, não deixa ela na sua boca, se arder não liga não, é assim mesmo! Depois passa.
Naquele momento senti a fumaça passando pela minha garganta e senti arder um pouco. Caique me observava com um olhar sexy, fascinado.
"~ é assim?"
"~ é, cuidado pra você não tragar muito rápido"
Ficamos ali no terraço conversando numa boa até que ele mudou o rumo daquela conversa.
"~Eu quero te mostrar uma coisa" - ele levantou e foi até uma pilha de coisas velhas e tirou uma coisa de lá.
>>Caique<<
Eu ia realmente mostrar uma coisa que nunca mostrei a ninguem. Fui até uma pilha de coisas velhas no terraço e peguei um violão que eu escondia ali.
"~um violão? o que mais voce esconde por aqui?" - ela disse com aquela carinha meiga dela.
Sentei na beirada do prédio e fiz um sinal pra ela sentar ao meu lado, e então comecei a tocar e cantar uma das minhas letras.
"E mais, por mais
Que seja difícil de entender
E mais, por mais
Eu sei eu preciso te dizer
Passe o tempo
Eu vou te esperar
Na cabeça o momento eu posso imaginar
Eu vou jogar ao vento
Eu posso te trazer
Eu sei que aqui é o seu lugar
Sei que aqui é seu lugar..."
Ela ficou um tempo me olhando depois que eu parei de tocar.
"~ainda não ta pronta..."
>>Camila<<
Uau, que música linda, quando ele pegou aquele violão eu pensei que ele iria zoar, ou alguma coisa do tipo, mas não, aquela música era linda, era impossível acreditar que foi ele quem escreveu aquilo, nunca pensei que ele já tinha se apaixonado, só alguém que já se apaixonou pode ter escrito isso.
"~ você é...isso foi incrivel"
Ele deu de ombros e continuou concentrado no seu violão.
"~Hum...posso te fazer uma pergunta?"
"~pode.." -ele disse meio cabisbaixo-
"~Essa letra...é pra alguem especial?''
"~sim...ela era especial.." - ele começou a falar-
"~era... - falei baixo- tudo bem, nao precisa falar se nao quiser"
"~a gente tava no nono ano...e ela era a menina mais bonita,mais inteligente,mais doce da sala...''
Pude ver seus olhos encherem d'agua. Nem parecia o Caique que eu conheço, ele tava quase chorando ao falar de uma garota.
"~ai a gente começou a namorar, e no começo os pais dela nao gostavam muito de mim, mas eles viram que ela gostava e aceitaram, ela me fazia bem, o sorriso dela me passava a paz que eu nunca tive, essa felicidade durou só sete longos meses.''
''~ Eii! Se não quiser falar não precisa...'' -apoiei minha mão no ombro dele-
"~eu quero falar. eu nunca mais falei dela com ninguem, e as vezes é bom lembrar. Ela sumiu sem deixar nem um bilhete, e na epoca eu tinha quinze anos sei la, eu achei que ela nao gostasse de mim, que ela nao me quisesse, mas ai a mae dela me procurou e me explicou tudo. Ela tava doente. Ela tinha cancer, e as quimioterapias nao tavam mais adiantando e o medico disse pra ela aproveitar a vida como se nao houvesse amanha. Ela foi viajar com a irma dela pelo mundo...Curtir os ultimos meses, dias dela... -ele limpou umas lagrimas que escorriam- ...ela nao me deu noticia durante uns dois meses, quando a irma dela me ligou e falou que ela queria me ver, o que era mentira, mas ela queria ajudar. E nós nos encontramos numa praça, eu a vi de longe, ela estava magra demais e nao tinha mais as bochechas rosadas como antes, e nem aquele sorriso lindo no rosto, entao ela me viu e correu pra me abraçar,e chorou. Nós sabiamos que aquelas lagrimas valiam mais que muito discurso por ai, e eu dei um beijo nela, sem saber que seria o ultimo, porque no dia seguinte recebi uma ligaçao da mae dela, que ao ouvir minha voz apenas falou que ela me amava...''
Ele terminou de falar e eu o abracei, foi a primeira coisa que me veio a cabeça depois de uma historia dessa,alem de limpar algumas lagrimas com a manga do casaco.