33. Quando Caique pede desculpa...

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  >>Caique<<
Hoje o dia estava uma merda, eu rejeitei um bebê, e ainda "perdi" a Camila, naquela festa eu falei tudo aquilo com raiva, sem pensar sem saber oque eu estava falando, toda aquela situação estava me deixando confuso, eu não sabia oque falar e acabei magoando ela. Eu tenho certeza de que se eu soubesse de outra forma talvez eu reagiria diferente, eu não sei se iria aceitar de primeira, mais tudo oque eu queria era ensinar pro meu filho tudo oque o meu pai me ensinou e não me ensinou, eu queria levar ele pra esfola, brincar de luta e mostra pra ele como se enfrenta a vida como um homem, mostrar pra ele que a vida não é resumida em pegar mulher e ficar bebado, queria que ele tivesse a chance de ter uma família, e eu tenho certeza que se esse filho nascesse agora ele não teria metade disso, de um lado foi um alívio a Camila ter perdido, mais de outro, foi péssimo, porque aquilo era fruto do nosso amor, a Camila vai ter alta do hospital, deve ser mais ou menos a hora da saida da escola. E tudo oque eu queria era ir pra casa logo poder encontrá-la e dar um abraço muito forte e pedi desculpa por tudo oque aconteceu naqueles últimos dias. Me despedi da galera, e ja tava indo andando pra casa pela calçada quando escuto uma buzina.
"~ Caique! Entra ai!" -era meu pai.
O que meu pai tava fazendo me buscando na escola em plena quarta-feira? Acho que ele nao faz isso desde que eu tenho uns nove anos.
Entrei no carro, e o Paulo ja tava la.
"~que dia é hoje? é aniversario de alguem e eu nao sei, pai?"
"~muito engraçadinho ein caique"
"~ é que voce nunca busca a gente na escola"
"~e nem precisa neh! ja passamos dessa fase" - paulo resmungou no banco de tras.
"~fiquei sabendo que voce mandou seu carro pra oficina... alguma coisa grave,filho?"
"~a bateria arriou, devo pegar amanha" - falei colocando os pes no painel do carro-
Ele dirigiu o percurso todo sem muitas palavras.
"~que caminho é esse? a gente nao vai pra casa nao?" - disse paulo ao ligar o som do carro.
Ele estacionou na praia que a gente sempre ia quando era criança. Ele desceu do carro e nós dois descemos e fomos andando atras dele e nos sentamos na beira da pista de skate em Venice.
"~Quanto tempo eu nao venho aqui..." - falei olhando pra pista-
"~Eu queria começar falando pra voces nunca deixarem de fazer o que voces querem, porque eu me arrependo de tanta coisa que eu nao fiz. Eu poderia ter aproveitado cada minuto da infancia de voces, cada brincadeira, a primeira namorada, a primeira recuperaçao, eu queria ter sido um pai melhor pra voces, talvez seja tarde pra acompanhar as primeiras coisas de voces mas eu quero mesmo me aproximar de voces, buscar voces na escola, nas festas, e nem adianta falar que voces sao meninos e nao precisam disso. Eu quero passar meu tempo com voces. Poxa, voces ja tao com 16 e 19 anos. Daqui a pouco vao ter a propria familia, eu quero ficar com voces, viajar pelo mundo só com uma mochila. Eu quero ser mais que um pai , eu quero poder ser melhor amigo de voces. São essas que fico remoendo a cada instante na minha cabeça. Acontece, às vezes você tem que fazer a coisa errada, Às vezes você tem que fazer um grande erro para descobrir como fazer as coisas direito. Os erros são dolorosos, mas eles são a única maneira de descobrir quem você realmente é.Desejo que seus caminhos sejam sempre percorridos sem quedas, sem deslizes, sem desatinos, mas com muita firmeza e dignidade. Vocês foram esperados com muito amor e profunda alegria e hoje vocês são tudo pra mim. Sinto-me muito orgulhoso em ver vocês crescerem, realizando seus sonhos, conquistando seus ideais sem que nada e ninguém impeça vocês. Somos rebeldes, teimosos e sempre se achando com a razão. Fazemos muitas besteiras das quais iremos nos arrepender arduamente. Guarde essa lição para o seu futuro, meus filhos. Antes de vocês nascerem, perguntaram como seria o filho dos meus sonhos. Talvez uma miniatura de mim, alguém com os mesmos interesses, alguém que quisesse escutar tudo o que eu teria a dizer, que quisesse aprender coisas que só eu pudesse ensinar. Mas eu nunca precisei sonhar um filho. Tenho algo muito melhor: vocês! Do jeito que apenas vocês podem ser. Não importa o quanto vocês cresçam, ainda tentarei te ensinar tudo. Pode parecer excesso de proteção, mas são apenas coisas de pai." -Nathan disse emocionado como se aquilo estivesse dentro dele durante anos-
Muito obrigado pai por ter me entendido enquanto eu crescia e por ter aceitado minhas tão rápidas mudanças.Deve ter sido difícil manter se em calma comigo, mas você sempre tentou e quase sempre conseguiu.Por ter me ouvido e ter me dado claras e breves respostas às dúvidas e perguntas que eu levava a você.Por ter reforçado minha confiança para continuar revelando meus pensamentos e sentimentos. Por ter me aplaudido quando fui verdadeiro, por ter me compreendido quando eu disse mentiras, por ter me provado que elas maculam nosso caráter. Por ter me falado sobre os seus erros e sobre as coisas que você aprendeu com eles. Isso fez com que eu aceitasse meus próprios erros, que também aprendesse e que me perdoasse. Por ter me ensinado que para ser feliz eu tinha que ser eu mesmo e não como você ou igual a outros que você admirava. Por ser você mesmo e por não desistir da felicidade. - falei com os olhos marejados e a voz tremula-
Ser pai é aceitar as responsabilidades que ultrapassem o limite de suas forças, mas mesmo arquejado pelo peso que o sufoca se ergue e supera, sempre lutando e alcança a vitória. Ser pai é vencer o cansaço de um dia de trabalho e com o coração em festa ao sentar com o filho para ver um desenho animado, por mais que você não tenha feito metade disso pela gente, a gente nunca vai deixar de te amar, e eu entendo que a saudade é como esse amor que temos por voce, nunca para de crescer, porque o amor faz parte de quem nós somos mesmo estando longe. E eu te amo,pai! - Paulo disse abraçando o pai um pouco emocionado.
*
>>Camila<<
Todas as lamúrias que engoli desde a notícia que meu bebê morreu parecem cair agora, e não tem previsão de parar. Eu levanto da cama, e vou em direção ao banheiro, ligo o chuveiro, mas não entro debaixo da água. Por aquele segundo coloco a mão sob a minha barriga e fico imaginando o que estaria acontecendo agora, se eu ainda estivesse com aquele pequeno caroço de feijão dentro da minha barriga, se nada disso tivesse acontecido eu poderia estar encarando a primeira ultrassom, fazendo a linha mamãe feliz, imaginando aquele pequeno carocinho do tamanho de um amendoim, crescendo e se tornando um bebê, dentro de mim? Deslizo o meu corpo pela parede do box e abraço as minhas pernas, deitando minha cabeça na parede deixando minhas lágrimas escorrerem. Eu tento me convencer que, em um mundo pelo qual eu não perdi aquele bebê, eu estaria chorando, querendo não estar grávida, ignorando todos e pensando na possibilidade de quando aquele bebê nascer fazer uma doação. Mas eu sei bem que fundo eu não faria isso. Eu sei que eu não iria colocar aquele bebê para adoção. Eu iria cria-lo, dar tanto amor para ele que eu iria esquecer tudo oque eu passei diante daquela gestação. Eu o levaria para a escola todos os dias, ensinaria a andar de bicicleta, faria piqueniques em Venice, durante o verão, o levaria e pegaria nas festas, teria aquela conversa sobre sexo, que a minha mãe nunca conversou comigo, quando ele tivesse idade, ensinaria para ele os valores da vida. Eu o veria crescer, veria ele cair e se reerguer com mais força, vencendo os medos e cresceria com ele, até que fosse a vez de ele crescer e aprender com os seus próprios filhos. Mas agora isso não importa mais, até porque eu não moro em um outro mundo , e meu pequeno amendoim já não passa de nada.
Após sair do banho, eu coloquei meu pijama e me deitei, eu não estava com um pingo de com sono, fecho os olhos para não ter que lidar com minha mãe. Acabo dormindo e acordando quando já estava de noite.
'Toc Toc'
"~quem é?"
~"Posso entrar?" -Disse Caique já entrando no quarto, sem camisa com aquele abdômen perfeito que me levava a loucura.
"Já entrou né"
~"vim saber se você tá bem, cê tá melhor?"
~" To me sentindo ótima, parece que nem aconteceu nada" -falei com uma feição tentando disfarçar que eu estava destruída por dentro
~" voce nao ta bem.. nao precisa mentir pra mim.Deixa eu cuidar de voce,por favor!" - ele sentou do meu lado e me olhou nos olhos-
~" CLARO QUE EU NAO TO BEM CAIQUE. CLARO QUE NAO!" -desabei em lagrimas e ele me abraçou.
~'' pode chorar..poe tudo pra fora, vai fazer bem...desculpa por tudo aquilo que eu disse na festa, eu tava fora de mim, nunca deveria ter dito nada daquilo. A verdade é que quando voce ficou inconsciente la no hospital eu perdi o chao, porque...porque eu te amo camila! e eu nao sei se eu sou capaz de viver sem voce!" - ele me envolvia nos braços
~" nao me deixa sozinha..." - falei entre lagrimas
~" eu nao vou te deixar nunca"
Eu estava em prantos nos braços dele.
~" nunca,cams! eu prometo!" - ele apoiou uma das mãos na minha nuca e a outra na minha cintura e então nós nos beijamos.
Ali, eu não conseguia pensar em nada. Só existia ele, eu e nosso intenso beijo. 

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