- Bem filha, foi um dia bastante agitado, hun?
- Sim, foi. Ah, e a Zoe foi aceita nas líderes de torcida... - digo, levando a última garfada de lasanha à boca.
- Finalmente aquela menina conseguiu. - Meu padrinho sorri, mas logo fica sério. - Você não parece muito feliz.
Dou de ombros.
- Nada demais. Medo de elas... sei lá... fazerem alguma coisa ruim. Isso parece uma pegadinha. Por que só a aceitaram esse ano?
- Dê uma chance a Zoe. Talvez ela tenha conquistado isso por mérito próprio. Não se preocupe, peixinha. - Ele dá um peteleco na minha testa, já que está ao meu lado na mesa, e minha mãe ri.
- Johnny tem razão, querida. Não se preocupe com isso. Aliás, todos terminaram de comer? - ela deu um sorriso maligno.
- ORA! VEJAM COMO ESTÁ TARDE! - Meu padrinho se levanta, olhando para o relógio com o rosto em pânico. - Tenho que ir, tenham uma excelente noite!
- Nem vem que não tem, Jonathan Hawkins, é sua vez de lavar a louça.
Eu rio e me levanto disfarçadamente, correndo para meu quarto.
Jonhny é meu padrinho. Ele é o cara que eu deliberadamente escolhi como figura paterna, já que meu pai biológico nunca deu as caras.
Minha mãe tinha apenas 15 anos quando engravidou de mim. Como era de se esperar, o namorado dela deu no pé e nem quis saber. Meus avós também a expulsaram de casa quando descobriram, e ela era julgada por todos.
Por todos, menos por seu melhor amigo Jonathan Hawkins. Ele era uns dois anos mais velho que ela, e eles se conheceram quando era crianças.
Meghan, minha mãe, tinha quatro anos, e um garoto da vizinhança roubou seu giz de cera favorito e quebrou. Jonathan, com seis anos, viu, e em resposta bateu no garotinho. Ele nunca mais encheu o saco, e Johnny e Meghan viraram melhores amigos inseparáveis.
Portanto, quando Meghan mais precisava, Johnny estava lá, e brigou com os pais para a aceitarem na casa. Ajudou-a durante a gravidez e prometeu que sempre estaria lá quando uma de nós duas precisasse. Então eu nasci e ele virou meu padrinho. E desde pequena ele me chama de peixinha.
Uma vez perguntei para a minha mãe porque eles não namoravam. Ela disse que estragaria as coisas. Nunca entendi muito bem, mas parecia ser aqueles lances de "isso vai acabar estragando a amizade" ou algo assim.
De qualquer forma, meu padrinho praticamente vivia aqui em casa. Passava mais tempo conosco que no seu apartamento, do outro lado da cidade.
Depois de fazer o dever de casa, tomar banho e vestir meu pijama, desci para beber água. Os dois dormiam no sofá.
Claro que não era uma cena fofa de filme romântico. Meu padrinho babava e roncava de um dos extremos do sofá, e minha mãe dormia no outro, toda jogada, com um dos pés em cima do ombro dele, e na TV estava passando um episódio de Largados e Pelados.
Tive que me controlar para não ter um ataque de riso. Peguei a água, bebi, e quando voltei ao quarto bati o dedinho do pé.
Mais de uma semana se passou, e as aulas continuavam a mesma coisa.
Só o que não estava igual é que agora só via Zoe ao almoço, na saída e em algumas aulas em comum.
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Black Cat
RomansaLilian Montgomery é a garota mais azarada do planeta. Em seus 17 anos de existência, já foi assaltada 3 vezes, perdeu 2 celulares (e quebrou mais dois), ficou doente as férias inteiras e não pode viajar, derramou cola mil no vestido do Baile de Calo...