Capítulo sem título 28

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23h45min.

Eu ainda estava tentando convencer as paredes do quarto de que o sonho que tive em que o portador do segredo havia assassinado Ricardo não tina conexão nenhuma com a realidade.

Mas por duas vezes quase fui arrastado para a mesma cena enquanto adormecia, imaginei ser necessário contar ao doutor Willian.

Em fim, amanheceu! Acho que sou o único ser humano que, com enorme frequência, tem a impressão de que a noite é maior que o dia.

Após tomar café com o senhor Caetano e conversamos sobre o dia anterior fui até a casa de Renata.

Dessa vez foi o senhor Mauricio quem me recebeu na porta.

-Bom dia senhor Mauricio!

-Bom dia Filipe! Já lhe aguardava ansioso pra que fofocássemos sobre a gente bacana que vimos ontem! Ra, Ra, Ra.

-Quem é meu amor? –Pergunta dona Roberta lá de dentro.

E de imediato o senhor Mauricio diz.

-Rápido, prende o trovão!

-O trovão? Á Renata! É o Filipe! –De lá de fora eu podia ouvir dona Roberta rindo.

Entrei e sentei ao lado de minha amada após beija-la.

-Como passou a noite depois daquela experiência maravilhosa Filipe? –Diz dona Roberta.

-Teria dormido melhor se o sonho com tal portador do segredo assassinando meu irmão não ficasse me perseguindo...

-Isso maltrata muito a gente Filipe! –Diz o senhor Mauricio. –Esses tipos de pesadelos são como monstros que aos poucos devoram nossas almas enquanto Dormimos.

-Credo papai!

-É duro de imaginar, mas é assim que me sinto Renata!

E quanto à terapia Filipe? Não está te ajudando? –Diz dona Roberta.

-Está sim dona Roberta! As lembranças que resgato na clinica se tornam menos intensas, a pesar de permanecerem lá, são como cicatrizes que não doem mais! Mas sempre tenho medo do que poderei encontrar.

-Então não sofra por antecipação Filipe! –Diz dona Roberta. –Vamos nos lembrar apenas de coisas felizes ou engraçadas.

-É mesmo meu amor! –Diz o senhor Mauricio. –Você me fez lembrar o teatro no asilo.

-Papai!

-É mesmo Renata! –Diz dona Roberta. –Filipe você vê essa mocinha tranquila e nem imagina que quando tinha sete anos ela era muito difícil; osso duro mesmo!

Sua professora desenvolveu uma pequena peça teatral com eles e como o assunto naquela semana tinha sido sobre o amparo ao idoso, resolveram encenar a peça em um asilo.

Poucos minutos antes da peça começar Renata havia ficado muito brava por saber que o Mauricio teria que trabalhar no final de semana e não poderíamos ir à praia como tínhamos combinado.

A peça dava inicio com alguns idosos fazendo piruetas no chão. Em função da idade dos doseis velhinhos a grande maioria deles deitava-se no chão e movia as pernas de um lado para outro; alguns mais ousados conseguiam girar por cima dos ombros.

Renata emburrada foi até a mesinha em que estava o microfone e cantou:

-Uma pirueta, duas pirueta, pescoço quebrou!

O portador do segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora