23h45min.
Eu ainda estava tentando convencer as paredes do quarto de que o sonho que tive em que o portador do segredo havia assassinado Ricardo não tina conexão nenhuma com a realidade.
Mas por duas vezes quase fui arrastado para a mesma cena enquanto adormecia, imaginei ser necessário contar ao doutor Willian.
Em fim, amanheceu! Acho que sou o único ser humano que, com enorme frequência, tem a impressão de que a noite é maior que o dia.
Após tomar café com o senhor Caetano e conversamos sobre o dia anterior fui até a casa de Renata.
Dessa vez foi o senhor Mauricio quem me recebeu na porta.
-Bom dia senhor Mauricio!
-Bom dia Filipe! Já lhe aguardava ansioso pra que fofocássemos sobre a gente bacana que vimos ontem! Ra, Ra, Ra.
-Quem é meu amor? –Pergunta dona Roberta lá de dentro.
E de imediato o senhor Mauricio diz.
-Rápido, prende o trovão!
-O trovão? Á Renata! É o Filipe! –De lá de fora eu podia ouvir dona Roberta rindo.
Entrei e sentei ao lado de minha amada após beija-la.
-Como passou a noite depois daquela experiência maravilhosa Filipe? –Diz dona Roberta.
-Teria dormido melhor se o sonho com tal portador do segredo assassinando meu irmão não ficasse me perseguindo...
-Isso maltrata muito a gente Filipe! –Diz o senhor Mauricio. –Esses tipos de pesadelos são como monstros que aos poucos devoram nossas almas enquanto Dormimos.
-Credo papai!
-É duro de imaginar, mas é assim que me sinto Renata!
E quanto à terapia Filipe? Não está te ajudando? –Diz dona Roberta.
-Está sim dona Roberta! As lembranças que resgato na clinica se tornam menos intensas, a pesar de permanecerem lá, são como cicatrizes que não doem mais! Mas sempre tenho medo do que poderei encontrar.
-Então não sofra por antecipação Filipe! –Diz dona Roberta. –Vamos nos lembrar apenas de coisas felizes ou engraçadas.
-É mesmo meu amor! –Diz o senhor Mauricio. –Você me fez lembrar o teatro no asilo.
-Papai!
-É mesmo Renata! –Diz dona Roberta. –Filipe você vê essa mocinha tranquila e nem imagina que quando tinha sete anos ela era muito difícil; osso duro mesmo!
Sua professora desenvolveu uma pequena peça teatral com eles e como o assunto naquela semana tinha sido sobre o amparo ao idoso, resolveram encenar a peça em um asilo.
Poucos minutos antes da peça começar Renata havia ficado muito brava por saber que o Mauricio teria que trabalhar no final de semana e não poderíamos ir à praia como tínhamos combinado.
A peça dava inicio com alguns idosos fazendo piruetas no chão. Em função da idade dos doseis velhinhos a grande maioria deles deitava-se no chão e movia as pernas de um lado para outro; alguns mais ousados conseguiam girar por cima dos ombros.
Renata emburrada foi até a mesinha em que estava o microfone e cantou:
-Uma pirueta, duas pirueta, pescoço quebrou!
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O portador do segredo
RomanceAos vinte e cinco anos e uma carreira promissora como hábil palestrante, poderia estar satisfeito com o rumo que tudo tomou. Mas em contraste com outros aspectos da vida ele se vê em um triste paradoxo; Filipe vem sofrendo de maneira indescritível...