O portador do segredo

Capítulo 31

Nesse momento dona Angela usando de modéstia elegância abaixou a cabeça demonstrando reconhecer que a resposta às perguntas não eram mais de sua alçada.

Rick tentou dizer alguma coisa, más a emoção não deixou sequer que as palavras saíssem.

Então dona Carmem levantou-se chorosa de onde estava e aproximou-se de mim.

Dona Angela antecipou seu ato e colocou uma cadeira de frente onde eu estava; ao passo que dona Carmem pode me olhar nos olhos e acariciar minhas mãos.

Após isso ela recolheu suas tremulas e delicadas mãos ao próprio colo e se pôs a falar:

-Meu filho, seu pai foi um grande homem!

A fama pode tornar alguém rico, a riqueza poderá torna-lo famoso; porem é necessário muito mais do que isso para que se atribua grandeza a um homem.

Ele tinha nove anos quando viu o irmão se acidentar com um dos cavalos da fazenda e morrer subitamente.

O pequeno garoto ficou em estado de choque Filipe e uma repentina doença o levou para cama sem que sequer pudesse acompanhar o cortejo o irmão.

Se adultos não tivessem visto o momento do acidente teriam pensado que se tratava de algum tipo de remorso por ter ocasionado a morte do irmão.

Seu pai demonstrava uma tão grande conexão em alma com aqueles que ele amava, que aceitar esse tipo de separação era muito mais difícil para ele; sua avó dizia que ele amava de mais.

Minha família morava próximo da dele e presenciamos tudo isso.

Após minha irmã e ele se casarem iniciaram uma vida maravilhosa e tiveram quatro crianças lindas!

Mas o pesadelo começou quando o pequeno Miguel passou a sentir fortes dores de cabaça e foi diagnosticado com um tumor raro no cérebro.

Seu pai passou a surtar quando viu que o caso de Miguel não teria um final feliz, ele praticamente ficava louco quando o medico parecia querer prepara-lo a fim de que suportasse a morte de deu filho.

Muitos funcionários do hospital eram prestativos, mas para alguns deles Miguel era só mais um no corredor da Morte.

Lembro-me de um dia em que um dos enfermeiros parecia estar revoltado com alguma coisa e antes de entrar no quarto sua mãe o abordou no corredor do hospital; lembro-me como se tivesse sido ontem!

-Oi tudo bem? Você sabe como esta o caso do pequeno Miguel?

Parecendo querer descontar seus problemas encima dos outros ele falou:

-O doutor disse que ele teria seis messes de vida e já se passaram quatro, é só fazer a conta!

Antes que ele pudesse deixar a impressão de exclamação no final da frase Luiz já tinha deixado seu olho roxo.

Aquela foi a única vez que Luiz realmente agrediu alguém em toda sua vida!

Enquanto enxugava as lágrimas com as mangas da camisa dona Carmem falou:

A vida foi realmente dura com vocês! Miguel estava internado quando Maria Luiza caiu daquela escada.

Seus pais decidiram esconder de vocês por um tempo, mas o fato é que Maria Luiza morreu algumas horas depois do acidente. A partir daquele dia o Luiz passou a dizer que a vida estava deixando de ter sentido.

Sua mãe também sofreu muito Filipe; mas ela não poderia se dar ao luxo de surtar também sabendo que você e o Rick precisavam dela; inclusive o próprio marido.

Ficamos sabendo que no dia do acidente o hospital havia ligado para a casa de vocês no período da manha; provavelmente no momento em que sua mãe, Rick e você, foram à padaria.

Pediram para os pais comparecerem no hospital em caráter de urgência, apesar de o telefonema esconder a verdade do fato, Luiz percebeu que Miguel. –Nesse momento dona Carmem falhou a voz, enxugou as lágrimas e continuou. –Estava morto!

Após alguns segundos de silêncio e lágrimas Rick me olhou e disse:

-Filipe; venha comigo!

Quero lhe mostrar uma coisa; quero convidar os demais também!

Tendo se dirigido ao quarto do casal Rick se aproximou de uma linda e tradicional penteadeira, que entre muitos enfeites frente ao espelho tinha em destaque quatro ursinhos de pelúcia.

-Filipe; a mamãe fazia questão de escolher o enxoval dos bebes e o papai mandava confeccionar esses ursinhos; vê nossos nomes estão bordados neles!

Naquele momento um sentimento maravilhoso tomou meu coração e me aproximei daquele móvel como se estivesse encurtando a distancia entre mim e um local sagrado.

Completamente fascinado apanhei dois dos ursinhos que traziam bordado em suas roupinhas os nomes Miguel e Maria Luisa.

Trouxe-os juntos de meu rosto e enquanto rememorava os poucos momentos que estive ao lado de Miguel e Maria Luiza minhas lágrimas eram absolvidas pelos belos presentes.

A ursinha Maria Luiza tinha uma tiara na cabeça que chamou minha atenção, ao que Rick Falou:

-É a princesa dos ursos!

E tinha também um belo vestidinho rosa.

O ursinho com o nome do Miguel era igual ao do Rick e o meu; ambos tinham olhos castanhos; não pude evitar o sorriso.

-São castanhos e são grandes, Rick!

-É! Nós somos assim!

-Mas sabia Rick que as vesses ficam maiores?

Rick sorriu e disse:

-Sim!

Estou vendo!

É quando choram!

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