Encontros de família. Não percebo porque abdico de um dia para estes eventos. Ah, porque a minha mãe não me deixa escapar e porque tenho de ocupar os silêncios ocasionais no meio da vida dos vizinhos e política. Ocupo o silêncio calada. Deixo que os outros me usem como tema, que outro remédio tenho? Estudos, profissão, vestuário, aparência, escolhas, personalidade... Tudo está errado em mim e acaba por ser discutido nos silêncios da minha família.
A primeira filha da minha avó, irmã mais velha da minha mãe acha sempre que eu sou nova demais para tudo: estudar dança aos 14 anos, pintar as unhas aos 16, ter um namorado aos 18 e levá-lo aos almoços de família. Nem vou falar dos piercings e tatuagens. E "que deus me ajude" quando dou a entender que a neta dela vai ser como eu ou pior. Ela acha que a netinha linda vai ser sempre ao lado da sua geração e perfeita, mesmo que não preencha os requisitos dela. Desiludi o avó desta pequenina quando tinha 10 anos e ele me deu uma guitarra de prenda quando eu só queria dançar. Não me lembro da última vez que falamos.
A pessoa que me criou, a minha tia, a segunda mais nova da minha avó, era a única com quem eu ainda conseguia falar e ela fazia questão de me ligar para matar saudades quando estavamos muito tempo separadas. Ultimamente tornou-se fria, acena como resposta a tudo o que sai da minha boca e não retribui os meus abraços, quase não os recebe sequer. O marido dela, meu segundo pai, decidiu ficar do lado da minha mãe no que toca à minha responsabilidade para ir viver sozinha. O filho deles atormentou a minha infância com "brincadeiras" que uma criança não deve ter e ainda hoje, mesmo estando bem com o assunto, não consigo estar perto dele.
As outras 3 irmãs da minha mãe estão tão distantes e certamente não me reconheceriam se passasse por elas na rua, mas é provável que as opiniões delas não se distanciassem muito das do resto da família.
E vejo-me agora com 18 anos, com a insistência da minha mãe para sair de casa e sem um familiar a quem me agarrar.