Preparação completa

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E então? Como está correndo tudo?

- Por aqui, está tudo ótimo. A sua mãe ainda continua reclamando que você quase nunca vem cá visitar.

- É.... Bem, você sabe que é um pouco complicado para mim, até porque no momento ainda estou muito ocupado com essa papelada. Então não tenho tido tempo suficiente para ficar indo lá sempre. Mas não se preocupe, tenho tudo sobre controle...

- Mas espero que você apareça aqui para o casamento de sua irmã. Ela ficaria muito feliz em te ver.

- Claro, eu faria questão de ir. Afinal, ela era a pessoa que cuidava de mim, quando mamãe estava doente e você ia trabalhar. Mas agora preciso sair rápido. Fico feliz em ter falado com você, pai.

- Eu também, filho. Quero também dizer que eu e sua mãe estamos muito orgulhosos de você.

Após ter desligado o telefone, ele respirou profundamente, antes de retomar o que ele estava fazendo. Osvaldo, ou Valdinho, como era chamado pelos familiares mais próximos e amigos do colégio, já estava há já uns 5 anos, sem ver a família que ele tanto amava. Crescendo numa casa pobre e humilde, ele sempre foi ensinado por seu pai que você é o que você faz, e ele então decidiu fazer.

Viajou para a Europa, para fazer a faculdade, e acabou encontrando um emprego lá. E quando ele ganhou algum dinheiro, ele foi visitar a família. Depois, regressando novamente, este se juntou a mais um outro colega fundando uma empresa. Era um mundo arriscado, um verdadeiro mar infestado de tubarões, no qual o mínimo descuido podia arruinar a sua carreira, e talvez até mesmo a sua vida. Mas Osvaldo foi cuidadoso, e em menos de um ano, aquela pequena empresa que apenas possuía um balcão, já tinha se expandido de forma a ser multimilionário. De todas as perspectivas, Osvaldo era um empresário de sucesso. Mas ele tinha perdido o contato que possuía com a família. Agora as viagens que ele fazia, se resumiam a países como a Alemanha, França e Itália, aos quais ele nem sequer podia apresentar uma visita turística, visto que não se passavam de viagens de negócios que raramente demoravam mais do que 5 dias, 5 dias esses que ele passava a maior parte trancado num escritório, espaçoso e bem iluminado, mas bem solitário. Ele passava os dias a ver documentos, formulários e várias outras folhas de papel que precisavam ser assinadas. E ele teria de analisar os documentos de forma sucinta, e ao mesmo tempo, rápida, pois ele não podia assinar documentos com lacunas legais ou letras minúsculas que podiam o prejudicar, mas ele não podia ficar tanto tempo num único documento, afinal vários documentos precisavam ser vistos e revistos.  Ele ainda tentava deixar uma lacuna livre no seu horário após esses documentos, mas Osvaldo nunca foi bom em organizar o tempo. Isso sempre foi um desafio para ele. Adorado por seus funcionários, por seu carisma e seu ar confiante, sempre era visto como um líder, mas será que ele era mesmo feliz? Talvez sim. O estereótipo associado à maioria dos empresários eram de caras frigidos e calculistas que não mediam escrúpulos para atingirem seus objetivos. Tão corruptos que eram várias vezes, erroneamente comparados e assimilados a políticos. Osvaldo foi educado numa família estável e correta, mas isso não seria o suficiente para ele ser um empresário de sucesso. O que lhe rendeu esse sucesso, foi seu espirito de simpatia, e a confiança que ele transpirava em seus seguidores e colegas, o sorriso que ele apresentava apresentações e que lhe rendiam contratos e vários financiamentos de sucesso.

Ainda são 11:30 e ele já terminou de ver os documentos. Hoje devia ser um dia bem calmo. Ele relaxa, e vê por sua janela, aonde pode contemplar a cidade por baixo de si. É engraçado ver os humanos lá em baixo, andando de um lado para o outro, como formigas. Ele sempre gostava de se imaginar como tendo um mundo particular no qual ele seria o criador, e se entretinha vendo suas criaturas a superarem vários desafios, no entanto sem interferir, a não ser que fosse necessário. "Deus não interfere nos afazeres do homem, então eu não deveria interferir na vida dos meus homúnculos", como ele costumava pensar consigo mesmo. Mas é claro, ele raramente tinha tempo para fantasiar assim, então ele com certeza não teria problemas mentais por causa. A razão de suas criaturas hipotéticas se chamarem homúnculos.... Simplesmente porque ele gostava de alquimia, e tinha um estranho interesse por aspectos mitológicos e ocultos. Ele costumava brincar com seus amigos, andando com livros estranhos, alguns até proibidos. Ele uma vez encontrou "Mein Kampf" de Adolf Hitler, livro que por acaso, foi dos poucos que ele não leu, e o único que ele queimou. "Lixos como esses não deviam ser vendidos como livros", disse Osvaldo, se sentindo um tanto culpado por ter visto aquele livro. "No entanto, devo confessar que ele deve ter tido uma imaginação que supera a minha. Ou seria estupidez? " Ainda suspirou, enquanto via a suástica arder em chamas, este símbolo que em duas décadas arruinou séculos do simbolismo budista e hinduísta. Mas ele não gostava de se lamentar por ações do passado, uma de várias outras razões para o seu sucesso. Claro, ele tinha de confirmar se tinha alguma reunião naquele dia. Ao confirmar, pode ver com alegria que seu horário estava livre. Se ele quisesse, podia ir já para casa e descansar.... Como ele gostava de descansar, era um paraíso. Mas hoje não. Hoje ele tinha outros planos. Saindo da sala, ele encontra sua secretária e confidente pessoal:

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