Capítulo VII

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Então, foi isso o que aconteceu. Ela não o quis — Rick concluiu.

— O pai de Jayne os separou.

Cynthia abriu o diário de Alfred e, enquanto a Mercedes deslizava pelas ruas de Seattle, leu algumas linhas ali escritas:

— Eu estava com pouco dinheiro na carteira, mas, ainda assim, gastei minhas últimas moedas para comprar o vinho de que ela gosta e algumas rosas para alegrar seu coração.

— Tonto!

— Alfred não era tonto — Cynthia o defendeu. — Na casa de Jayne — ela continuou —, desta vez, eu sugeri que fugíssemos. O pai dela escutou a proposta, entrou na sala e, furioso, expulsou-me de lá. Assustada, Jayne esbarrou na garrafa de vinho, derrubando-a no chão junto com as flores.

— Muito romântico! — Rick ironizou.

— Na ocasião, Alfred escreveu este pequeno poema para ela. Ou­ça: Parto e levo comigo apenas o brilho de seus olhos azuis. Coração sofrido, amor perdido, o pranto contido. Voltarei para lhe buscar e prometo sempre a amar.

Rick olhou para ela atônito.

— Jamais pensei que Alfred fosse capaz de escrever tal tolice — divertiu-se.

— Estava apaixonado.

— O amor não sufoca a inteligência, exercita-a. Tampouco repri­me a criatividade, estimula-a.

— Não se pode usar a razão para falar sobre sentimentos, Rick.

— A razão e a sensibilidade devem estar ligadas, minha querida.

— Não pode negar que Alfred era sensível e racional ao mesmo tempo. Além do mais, era jovem quando se apaixonou por Jayne.

— Também eu sou jovem e...

— E é por isso que às vezes não usa a razão e é muito preconceituoso — Cynthia rebateu.

— Jayne, Jayne — Rick cantarolou —, não permita que eu a ame em vão.

— Pare com isso — ela pediu. — É falta de respeito com seu avô.

— Tenho muitas recordações boas dele. Algumas delas, muito engraçadas. — Rick sorriu. — Quando Graham e eu éramos crian­ças, vovô costumava escrever infindáveis versos que, para nós, não faziam o menor sentido. No entanto, fazia-nos ouvir suas poesias, oferecendo presentes que só podíamos abrir depois que ele acabasse de declamá-las.

Cynthia riu descontraída.

— Uma doce tortura! — Rick recordou.

— Não era um grande poeta — Cynthia admitiu. — Contudo, não tinha medo de falar sobre suas próprias emoções. Conseguir demonstrá-las é sempre um ato de coragem, concorda?

— Graham já escreveu alguma poesia para você? — perguntou Rick.

— Não.

— Entendo.

Cynthia compreendeu que a pergunta havia sido proposital.

— E você? Escreve poemas? — ela o desafiou.

— Não, mas tenho a impressão de que seria capaz de escrevê-los melhor do que Alfred.

— E por que não tenta?

— Poderia tentar, mas... — Rick viu que havia uma vaga em frente ao atelier de Phillip Michael e posicionou o carro para esta­cioná-lo. — Chegamos. Prepare-se para experimentar seu vestido de noiva.

Definitivamente... Amor! (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora