Capítulo V

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Na entrada de Wingate Manor, Cynthia se identi­ficou perante a guarda. Os enormes portões de ferro se abriram, dando as boas vindas à nova proprietária. E a longa reta até a casa foi iluminada pelos faróis do carro velho que ela estacionou em frente ao pórtico.

— Então, esta é a sua casa. — Maravilhada, Tiffany teve dificul­dade em acreditar no que via.

O pequeno Hondo dormira durante todo o trajeto. Ainda sonolento, no colo da mãe, apoiava a cabecinha em seu ombro.

Cynthia abriu a porta da casa, colocou a mala no chão e acendeu as luzes.

— Parece um sonho! — Tiffany exclamou. — Jamais pensei en­trar em uma mansão igual a esta.

— Ela também é sua — Cynthia convidou.

Rosy Cheeks corria e escorregava no mármore que cobria o piso do hall de entrada. A lembrança de Alfred foi inevitável. Elegante, mesmo quando doente; generoso em todas as ocasiões, terno como um pai, sábio e verdadeiro mestre, patriarca respeitado por todos, sempre alegre e carinhoso.

Sem ele a casa estava vazia de amor. E as paredes muito frias e discretas guardavam seus sonhos e segredo, para sempre. Como seria viver naquela casa sem ele? Com certeza, todos os aposentos já haviam sofrido uma grande transformação: mudos, sem sua voz; vazios, sem a presença magna. O silêncio fez com que Cynthia se entristecesse, tivesse vontade de voltar para seu apartamento, de tirar os sapatos e largá-los jo­gados no meio da sala. Queria se atirar no sofá com uma xícara de café quente na mão para sorvê-lo gole a gole. Na outra, um livro escolhido com esmero para lhe fazer companhia no final de semana.

Sentiu falta de seu cantinho aconchegante e único, e quis fugir. Olhou para os quadros majestosos, para as esculturas modeladas com sublime talento, para os pingentes de cristal impecavelmente brilhantes do lustre central e temeu a opulência sem proteção. Veio-lhe o receio de se tornar vulnerável.

Pensou em Katherine. Ela seria a dama ideal, senhora de si, para aquele cenário. Era fácil visualizar ali a mãe de Graham, esfuziante, recepcionando personalidades e colunáveis em noites de gala ines­quecíveis. Harrison a seu lado, consorte complacente, orgulhoso e radiante, ainda que humilde sob seu comando.

Todavia, não houvesse o destino sido tão cruel, inexorável em suas decisões, Alfred, ainda jovem, o teria precedido naquele mesmo lugar, ao lado de outra musa, seu grande amor, proprietária genuína da Seattle Heights Wingate Manor, para onde Cynthia acabara de se mudar.

Por que Alfred lhe legara a mansão? Ela era apenas uma estu­dante, não tinha família, não precisava de uma casa tão grande.

A alguns passos, Tiffany, estupefata, não conseguia conter seu deslumbramento.

— Ainda não acredito no que estou vendo — confessou.

— Confesso que tampouco eu me acostumei com a idéia de que esta casa é minha.

— Pretende ficar durante quanto tempo naquele apartamento minúsculo?

— Este lugar é grande. Tenho a imprecisão de que não me acos­tumarei a morar aqui sozinha.

— Você agora é uma mulher rica, Cynthia. Uma mulher rica!

— Vamos lá para cima. Vou acender a lareira e deixar o quarto quentinho para você e Hondo. Quero que se sintam muito confortá­veis na suíte que escolhi para os dois.

— Uma suíte para mim e para Hondo? Só para nós dois? — E virando-se para o filho ela vibrou: — Está ouvindo, Hondo? A titia escolheu uma suíte só para nós dois!

Após certificar-se de que os hóspedes estavam bem acomodados, Cynthia se dirigiu para o lugar onde decidira passar aquela noite: o quarto de Alfred.

Definitivamente... Amor! (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora