Parte 8 - Diego

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Com o tempo, trabalhar com a Andréia se tornou a melhor coisa do dia. Ela era uma garota divertida e, apesar de não ter experiência alguma, aprendia rapidamente. Na verdade, ela era brilhante, e eu me perguntava o porquê dela não fazer faculdade.

Uma vez, até perguntei isso a ela e a resposta foi direta, como sempre.

- Ainda não achei minha vocação, Diego. E pare de ser chato. Vai implicar comigo?

Eu só balançava a cabeça e não dizia nada. A verdade é que eu não me importava com aquilo. Não mais. Até conhecer a Andréia, eu achava que a graduação fosse a coisa mais importante. A principal meta de vida. Mas a Andréia via as coisas de outra forma e eu gostava disso.

- Se um dia encontrar algo que ame fazer, eu faço. De que me adianta uma graduação se vou viver na frustração?

Mal sabia ela que era exatamente assim que eu me sentia às vezes.

É claro que no começo era um pouco estranho ter a presença constante de alguém do meu lado. Ainda mais se esse alguém fosse uma garota tão linda.

Uma garota linda e divertida. E como tínhamos um acordo, ela jamais me chamava de senhor. Mas isso não era ruim. No fundo, era muito bom ouvir meu nome saindo da boca dela.

***

- E como vai o namoro, seu Diego? – perguntou dona Maria enquanto varria a sala e eu assistia televisão.

- Que namoro, dona Maria? – perguntei com um sorriso que não pude esconder. Eu sabia exatamente do que ela estava falando.

Ultimamente ela havia cismado que eu tinha encontrado alguém.

- Seu Diego, não tente enganar a mim. – disse ela me dando alguns tapinhas nas costas, e voltando a varrer a casa.

Eram esses os momentos que eu mais pensava na Andréia, ou melhor, pensava em não pensar nela. Ela era apenas uma garota. E continuar com aqueles pensamentos só iria dar confusão.

Eu gostava da companhia dela. Gostava da forma como a Andréia levava tudo na brincadeira, gostava do meu sorriso e do meu humor ao lado dela, que confesso que tinha melhorado muito a partir do momento que ela foi trabalhar comigo.

Mas eu não podia esquecer que entre nós havia mais diferença do que apenas o cargo ocupado na empresa. E essas eram as horas em que eu ficava triste.

Peguei o controle e mudei de canal.

***

- Ei, Andréia, o que aconteceu? – perguntei quando cheguei em nossa sala e a encontrei chorando.

- Nada, Diego. – ela respondeu, secando os olhos rapidamente.

Sentei-me ao lado dela.

- Senhorita Rodriguez, - disse - posso parecer um cara mal humorado e sem sentimentos. Mas eu sei que ninguém chora por nada. Sempre há um motivo. Tenho certeza de que você também tem algum.

Ela deu um pequeno sorriso.

- Diego, você me acha feia? – perguntou, me pegando desprevenido para aquele tipo de pergunta.

- Não. – respondi o mais sério possível.

- Então me diz Diego, por que os homens são todos uns babacas?

- Quer me explicar o que aconteceu? – perguntei a ela.

- O Lucas, Diego. Meu ex. Ele terminou comigo. Mas eu gosto dele, sabe? E ele não quer falar comigo. – disse, voltando a chorar.

Fiquei triste ao ouvir aquilo. Eu sabia bem o que era ser desprezado, e sabia o quanto isso doía. E ela era uma garota legal, não merecia chorar. Mas, por mais que eu dissesse a mim mesmo que estava triste apenas por isso, algo me dizia que tinha mais coisa ali.

Saber que a minha colega, que eu tinha aprendido a gostar, ainda era apaixonada pelo ex, não era nada legal.

Mas era ela que precisava de ajuda.

- Andréia, um relacionamento é feito de duas pessoas. Por mais que você tente, não pode convencer uma pessoa a ficar com você. Se ele não quer nem mesmo conversar, será que vale a pena ficar insistindo?

- Acho que você está certo, chefe. – disse ela, parando de chorar.

- Estou sim. E agora Déia, quer almoçar comigo? –perguntei, levantando e estendendo minha mão para ela.

- Déia? – perguntou surpresa.

- Depois dessa sua confissão, acho que somos oficialmente amigos, não somos?

Ela riu e balançou a cabeça, concordando.

- Agora vem logo. – falei. – Falar sobre esses assuntos sérios me deixa com fome. –completei sorrindo.

Ela sorriu, me deu a mão e levantou.

- Vamos.

Depois daquele dia, passamos a almoçar todos os dias juntos.

****






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