Parte 11 - Andréia

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- Déia, você pode pegar o arquivo 3215 para mim?

Droga. Eu odiava quando o Di pedia para eu pegar algum desses arquivos. Eles ficavam na sala da frente, numa estante super alta. Para alcançar os arquivos milhares, precisava subir numa escada com quase três metros de altura. Eu já tinha dito para ele que não era adoradora das alturas, e não me sentia nada segura subindo aquela escada. Mas ele dizia que acrofobia não era legal. Eu já tinha repetido um milhão de vezes que não era portadora dessa fobia, só detestava lugares altos.

- Se você não tem fobia, não tem porque não ir lá pegar o que eu pedi. – dizia ele toda vez que eu reclamava da sala à frente. Isso me fazia voltar a cogitar a possibilidade de que ele me chamou para trabalhar com ele só para me escravizar.

Obediente, lá fui eu. Droga. Os arquivos 3000 se encontravam na parte mais alta da estante. Droga. Juro que da próxima vez, eu faço o "senhor não pode ter fobias" subir. Aposto que quem tem tanto medinho é ele. Se não, por que me faria subir aqui?

Eu já tinha pegado o arquivo, estava quase no fim da escada, quando me distraí, desequilibrei e fui ao chão.

- Diego! – gritei, estatelada no chão. Minha cabeça doía. Coloquei a mão na cabeça. Não, eu não estava sangrando. Isso era bom. Eu estava levantando, quando o Diego abriu a porta correndo.

- Não se mexa, Déia. – pediu ele apavorado.

Como assim não me mexer? Eu é que não ia ficar jogada ali no chão feito uma boneca de pano. Fiz força para levantar. Droga. Minha coluna doía muito.

- Vou ligar para a ambulância. – avisou, pegando o celular. Ele estava tão atrapalhado que derrubou o aparelho no chão. O pobre celular se despedaçou. Vixi. O Diego estava bem. Secretária e celular quebrados agora.

- Consegue sentar? – perguntou.

Não deu tempo para que eu pudesse responder. Quando vi, já estava no colo dele, e ele correndo escada abaixo feito um doido. Eu mereço. Isso sim era humilhante. Eu só tinha caído da escada. O cara estava agindo como se eu tivesse tido uma parada cardíaca. Ele podia agir como se eu tivesse me afogado. Hum. Já pensou? Ele teria que fazer respiração boca a boca em mim. Isso seria bom.

- Para, Diego. Eu quero descer. – exigi.

Ele nem me deu ouvidos. Correu até a garagem, me colocou dentro do carro deitada no banco de trás e correu para o hospital.

- Você não acha que está exagerando? – perguntei.

- Não. Pelo contrário. Devia ter chamado a ambulância, mas tenho medo da demora. Agora a senhorita fica quieta.

Pronto. Baixou o senhor mandão de novo. Cruzes. Tudo por causa de uma quedinha? Mal sabia ele que eu já tinha levado tombos piores. Mas a culpa foi minha. Eu não devia ter gritado, chamando-o. Claro, o cara deve ter ficado apavorado. Mas de verdade, eu estava bem. Fiz força para levantar. Ainda estava com um pouco de dor. Resolvi não me mexer mais. O senhor preocupação já tinha me mandado ficar parada mesmo.

***

Foi com alívio que eu percebi que o Diego não estava me mandando para a UTI. Porque àquela altura do campeonato, eu já estava sentada numa cadeira de rodas, com duas enfermeiras à minha volta que tentavam verificar minha pressão, enquanto o Diego ficava gritando com as duas que queria um médico. Eu só olhava para as elas tentando pedir desculpas.

Até que uma delas saiu e eu achei que tinha desistido de ouvir os gritos do Diego pedindo um médico, e então ela voltou com um homem de uns dois metros de altura e uns cinco de largura. Se não fosse pelo uniforme, eu ia dizer que a enfermeira tinha chamado o segurança. Mas aquele cara era médico. Eu não quero ser atendida por esse brutamontes, pensei. Mas não tive escolha. Fui arrastada até a sala de raios-X. O Diego, graças a Deus, ficou na sala de espera. Acho que ele não queria gritar com o senhor tamanho G.

Justa CausaOnde histórias criam vida. Descubra agora