Parte I

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A longa tradição continua. Filho de pirata, pirata é. A laranja não cai longe do galho. O show deve continuar.
Acordo de manhã cedo ao som do galo. Não, isso era o que eu gostaria. Acordo de manhã cedo enjoado com o balanço do mar. Isso, Leo Darly, filho do grande pirata Brian Darly – não sei se ele é tão grande assim, digo, ele morreu no mar no segundo ano sendo capitão do Pérola Marítima, não sei quão grande ele pode ser. – enjoa no mar.

Eu sou a grande escolha para liderar um navio e saquear todos os bares locais num adorável ritual de iniciação pirata. A frota se prepara para receber um grande pirata. Ao menos, acham que vão receber. Minha mãe está animada com isso, posso dizer com toda certeza. A uma semana me acordo com café na cama e visita de familiares – não que tenhamos muitos, somos a família de um pirata, no final das contas – para se despedir. Muitos não concordavam com o estilo de vida pirata, todos temiam o grande Bob Winteglow. O grandalhão com quem tenho que me encontrar hoje.
Bob hoje dirige a frota mais temida de navios que já se teve noticia. Bob também foi um grande amigo do meu pai e pretende na nossa conversa animadora me dar um navio e me tornar oficialmente membro de sua frota, onde poderei conviver com ladrões fedidos saqueando estabelecimentos enquanto navego – o que não sei fazer – enquanto enjoo – o que obviamente sou bom em fazer.

Dormi hoje no Pérola Marítima, o antigo navio do meu pai, que hoje é o navio líder da frota, navegado por Bob e uma equipe asquerosa que rouba até seus pensamentos se olhar por muito tempo em seus olhos.

Me levanto e olho pro mar. Volto correndo para minha cabine achando que irei vomitar. Alarme falso, posso voltar a fingir estar gostando.

Lane, um pirata cego e esquisito me encara por alguns segundos e encolho minha barriga gorducha e o dou meu olhar mais assustador por uns dez segundos até me lembrar que ele é cego e provavelmente não sabe em que parte do navio está.
- Hey, criança. – Bob bate nas minhas costas e respiro deixando minha barriga voltar a sua curvatura normal, mostrando como não estou apto a nada. Nem a correr. – Animado para conhecer seu navio?
- Eh... – muitas coisas passaram na minha cabeça nesse momento. Principalmente: ele parece animado, será que está considerando me dar um navio bacana?
Não pode ser.
Nunca velejei, enjoo no mar e não sei nadar. Como poderia navegar um bom navio? Não consigo nem navegar um bom bote – o que já tentei, num momento em que minha mãe estava se afogando e fui resgata-la. Também foi nesse momento em que descobri que não sei nadar.
- Hoje vai ser seu primeiro dia no Fantasma de Roger Taylor, seu novo navio.
Ufa.

O Fantasma de Roger Taylor é conhecido entre todos como o pior navio da frota. Eba!
Era pequeno, fedido e todos os membros da tripulação eram velhos que não tinham mais função nos navios importantes ou simplesmente pessoas loucas.
Parecia o navio perfeito para mim, que era pequeno, fedido e medroso.


O Fantasma de Roger TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora