O Mendigo

Capítulo 01

Hoje...

Acordei com algo peludo e de quatro patas lambendo meu rosto, essa era a forma que meu Toddy me acordava todos os dias. Ele é uma mistura de Poodle e Cocker spaniel, pensa em um cachorro lindo, carinhoso, fiel e arteiro, meu companheiro de todos os dias. Agora vocês devem estar pensando, porque Toddy? É eu sei, não é muito criativo. Foi assim, desde criança eu falava que quando tivesse um cachorrinho colocaria esse nome, porque eu era e ainda sou louco por Toddynho, infantil né?! Tô nem aí.

Foi só quando acordei percebi que tinha chorado devido ao sonho.  É sempre assim, uns dias são sonhos, outros pesadelos. Dessa vez foi um sonho, que me fez recordar momentos felizes com a minha família, me fazendo sentir saudades de um tempo que não volta. Será que um dia seria capaz de superar essa dor e tirar esse peso que carrego?

Acabo levantando contra a minha vontade, com uma claridade que está quase me cegando. Pois é, nunca fui de acordar cedo, mas a luta pela sobrevivência fala mais alto. Tenho que conseguir comida para mim e pro meu amigão, quando consigo alguns trocados compro algo baratinho para enganar nosso estômago, e quando não consigo o jeito é procurar nos lixos. Não é fácil conseguir um emprego sendo morador de rua, ex drogado, ex alcoólatra, e com passagem pela polícia por vandalismo, porém mudei!

— Vem Toddy, vamos mostrar o seu talento para essas pessoas. — quando peguei o Toddy, comecei a ensina-lo alguns truques a fim de ganharmos algum dinheiro, como ele ainda era filhote ficou mais fácil ele aprender. Ele é o orgulho do papai, aprendeu rapidinho, esperto que só ele.

Algumas horas depois...

— É amigão, o dia foi bom. Olha só quanto dinheiro você conseguiu! — parecia um retardado conversando com um cachorro, mas parece que ele entendia. Nos alimentamos apenas uma vez ao dia, e a essa hora meu estômago está devorando minhas tripas.

Quando estávamos a caminho do estabelecimento do seu César para comprar ração e algo para eu comer, me veio aquela vontade novamente. Havia parado de usar drogas e beber já tinha uma semana, prometi isso para meu filho e para mim mesmo.

Foi quando eu lembrei que o seu César tinha criado certo afeto pelo Toddy, ele é brasileiro e parece um bom homem.

— Já sei o que fazer garoto, você agora terá um lar. Não vai precisar passar fome ou dormir na rua. Eu sou um fraco, não vou resistir por muito tempo. Acabarei com isso ainda hoje! — acho que ele entendeu que era uma despedida, porque começou a chorar sem parar. E quando o entreguei a seu César, começou a uivar como se gritasse pelo meu nome. Expliquei o motivo de estar fazendo aquilo, e entreguei todo dinheiro que conseguimos naquele dia para ajudar a cuidar dele, e saí com lágrimas nos olhos e um aperto no coração.

Caminhei até a ponte mais próxima e quando ia subir, uma mão pequena e macia me impede.

— Moço, não faz isso! — sua voz é tão doce que pensei que não era real.

Foi quando eu virei e vi aquele rosto: " que mulher é essa meu Deus! " Seu rosto é angelical. Percebi seu olhar assustado direcionado a mim, pois nesse momento cair com tudo no chão e comecei a me debater.

— Aí meu Deus!!! Não morre moço. Alguém chama a ambulância, por favor!

E foi a última coisa que ouvir antes de tudo escurecer.

* Esse capítulo foi dedicado a meu cachorrinho, que é exatamente dessa mesma raça, só que ele não é igual ao da foto que coloquei, ele é branco. Infelizmente eu e minha família não estamos mais com ele. Ele não morreu, mais a saudade que sentimos dói muito! :'(

* Como prometido está aí meu primeiro capítulo. Aos poucos as idéias estão surgindo, espero que gostem ;)