Capítulo 02 - parte 2

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Acordo com algo pesado em cima da minha barriga. Quando abro os olhos, vejo Beth com a perna em cima de mim e toda espalhada na cama. É nisso que dá, duas pessoas com mal dormido na mesma cama. Ainda bem que minha cama é grande, quando não é uma perna ou braço em cima da outra, tem socos, cotoveladas ou joelhadas.

— Ei dorminhoca, acorda! Você vai me matar asfixiada — dou uma leve cutucada nela que apenas tira a perna de cima de mim e vira para o lado, que folgada! — Vou contar até três, se você não levantar já sabe né?!... 1, 2,...

— Já acordei, não precisa fazer cócegas — ela deu um pulo da cama nessa hora. — Aliás se você ousasse fazer, do jeito que minha bexiga está cheia, aconteceria um acidente na sua cama. Vou logo no banheiro, que meu trono me espera. — e saiu desesperada do meu quarto e eu fico ali rindo sozinha.

Levanto e vou ver as horas no celular, e percebo que ele descarregou. Procuro meu relógio de pulso e me assusto com as horas. Não acredito que já passa das 9 da manhã.

Entro no banheiro que fica no meu quarto e faço minha higiene matinal. Me arrumo rapidamente, optando por uma calça jeans escura, uma blusa de cetim branca, um blazer preto e uma scarpin bege. Faço uma maquiagem leve e deixo meu cabelo solto.

Na verdade " meu quarto " é só um modo de falar, porque esse apartamento é da minha amiga e moro de favor. Ela vive brigando comigo para eu parar de besteira que tudo que é dela também é meu. Mas não sei se um dia irei me acostumar com isso. Esse apartamento é enorme: no andar de cima tem 4 quartos - cada um com suíte, e no andar de baixo tem sala, cozinha, banheiro para visitas, um pequeno escritório, sala de academia, lavanderia e uma área de lazer que tem até piscina.

Desço as escadas e da sala mesmo consigo sentir um cheirinho bom vindo da cozinha.

— Que cheiro gostoso amiga, desse jeito vamos virar uma bolinha.

— É para isso que temos academia, comer é tão bom! Senta aí e espera eu terminar.

Beth é ótima com coisas doces, já eu sei cozinhar melhor salgados. Então nos revesamos na cozinha, e decidimos por contratar apenas uma faxineira, a dona Luce. Não temos o que reclamar dela, a casa fica impecável.

— Beth, acabamos dormindo demais e tenho que ir na agência resolver os últimos detalhes e esperar os móveis que encomendei chegar.

— Se você quiser, posso te ajudar em algo. Não entendo muita coisa de administração como você, mas acho que posso ser útil.

— Ainda pergunta! Mas é claro que vou querer, senão vou acabar enlouquecendo — me formei em administração no Brasil, para ter uma noção de como administrar meu próprio negócio.

— Eu ia esquecendo baixinha, chegou correspondência para você, deixei na sala.

— Depois eu pego, obrigada! — terminamos de tomar café e fui ver do que se tratava a correspondência, vai que era algo sério.

Quando terminei de ler, entrei em desespero.

— Aí que burrice minha! Não acredito que fui esquecer justo disso! E agora? — não percebi quando Beth desceu, pois tinha ido se arrumar para sairmos, e só a notei quando parou do meu lado.

Quando a olhei vi sua expressão ir de interrogação para preocupação. Entreguei a folha a ela, antes que tomasse de mim. Quando ela terminou de ler, sua expressão era de repreensão.

— Como você pôde esquecer de legalizar seu visto Leona. Essa carta deixa claro que você tem um mês para sair do país, e se não o fizer corre o risco de ser presa.

— Foi a correria, queria deixar tudo adiantado para abrir minha agência que me descuidei disso. Não posso ir embora, a inauguração acontece exatamente daqui a um mês — e agora mais um problema.

Ficamos alguns minutos em silêncio até que Elizabeth se pronunciou.

— Barbie, vamos achar uma solução juntas. Vamos para a Scherer models, temos o dia todo para pensarmos numa saída. Não vai adiantar você sofrer por antecipação.

— Você tem razão. Vamos então, hoje à senhorita será minha assistente.

E assim saímos, cada uma em seu carro. Provavelmente terei de ficar um pouco mais, e não quero deixa-la me esperando.

O dia passou rapidamente. Às vezes me distraía pensando no ocorrido pela manhã, mas sempre minha amiga percebia e dava um jeito de me fazer rir e conseguia.

Não voltamos para casa e pedimos nosso almoço para não precisar sair e perder tempo. Quando já estava quase no final do dia dispensei Beth, tadinha dava para ver o quanto estava cansada. Ela me ajudou muito, resolvemos algumas coisas, ficou pouquíssimos problemas pendentes que posso resolver outro dia.

— Pode ir amiga, só vou esperar terminarem de trazer os móveis, e te encontro em casa.

— Okay, nos vemos em casa — me deu um beijo na testa e saiu.

Como faltava poucos móveis a serem entregues, não demorei a sair. Fiz o mesmo trajeto de volta, que geralmente dura 30 minutos. Quando estava passando pela ponte que fazia parte do caminho, avistei um homem se preparando para subir e não tinha dúvidas de que ele pularia. Não sei o que deu em mim , mas estacionei e corri em sua direção.

— Moço não faz isso — e segurei no seu ombro.

Virando de frente para mim vi seu rosto, e achei muito familiar, só não lembrava de onde o conhecia. Não consegui identificar a expressão do seu rosto de início. Mas de repente, ele ficou pálido,caiu no chão e começou a se debater.

— Aí meu Deus!!! Não morre moço. Alguém chama a ambulância por favor!

O socorro não demorou a chegar. Colocaram ele na ambulância com urgência. Mas antes de o levarem, perguntei para qual hospital o levariam. Então me disseram que seria para o Mount Sinai Hospital.

Segui novamente para casa agora com duas perguntas rondando minha mente: Será que vou conseguir resolver o problema do visto? E de onde conheço esse homem?

O MendigoOnde histórias criam vida. Descubra agora