Capítulo 03

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Nathan

Ouço uns barulhos estranhos, mas os ignoro. Não consigo abrir meus olhos, parece que um caminhão passou por cima de mim, meu corpo está todo dolorido. Sem falar na dor de cabeça que estou sentindo, é tão forte que tenho a sensação que a qualquer momento ela vai explodir.

Tem algo estranho, estou deitado em algo muito macio. Minha cama, um papelão velho, está longe de ser algo confortável.

Não vou levantar tão cedo daqui, seja lá onde estou, vou aproveitar o máximo que posso. Em algum momento terei que abrir os olhos, mas nesse momento o que mais quero é dormir mais um pouco para essas dores passarem.

Sou forçado a levantar, pois sinto algo pontiagudo entrando em minha pele. Sento num pulo, e com os olhos arregalados.

— Aaaaí!!! Não me mata, por favor! — percebo que exagerei um pouco, a senhora que está no quarto parece assustada com minha reação.

Passado o susto, noto que estou em um hospital. Então era por isso que ouvia uns barulhos estranhos. Nunca gostei de hospitais, o ambiente me traz tristeza e sofrimento.

Percebo que ainda não lembro o porque de estar aqui. Volto minha atenção para a enfermeira que está próxima a minha cama, aparenta ter entre 45 e 50 anos. Vejo que ela está receosa em se aproximar devido ao meu escândalo, e me sinto mal por isso.

— A senhora pode se aproximar, eu não mordo — usei meu modo brincalhão para reverter a situação.

E funcionou, pois ela recolheu a seringa que eu tinha praticamente arremessado para longe quando eu levantei rapidamente, e se aproximou de mim.

— Meu jovem, quase morri do coração. Você me assustou de verdade — o jeito calmo que ela me tratava, traz uma tranquilidade.

— Me desculpe, não foi minha intenção. Me chamo Nathan, e a senhora?

— Não me chame de senhora, pode me chamar de Selena ou de você, como preferir. Você me permite agora, tirar um pouco do seu sangue para exames? Ou terei de chamar enfermeiros altos, bonitos e sarados? — seu tom de brincadeira me deixou mais a vontade.

— Não será necessário — falei parecendo bravo. — Mais vai doer? Vai ser rápido? Você promete que vai tomar cuidado? — estava parecendo uma criança chorona, só que tenho pavor de agulha, não consigo controlar.

— Não precisa ter medo. Fica tranquilo e quietinho, que será rápido.

Não conseguir olhar todo o processo, virei o rosto para o outro lado é fechei os olhos. Só senti uma pequena espetada, e nem doeu tanto assim, só que não vou admitir em voz alta é claro.

— Pronto querido, terminei — seu jeito carinhoso e olhar terno lembrava minha mãe.

Lembrar dela me trazia uma sensação tão boa, acompanhada de saudade. Só percebi que tinha deixado uma lágrima cair, quando Selena se aproximou de mim com o olhar preocupado, e tocou meu rosto.

— Você está bem filho? Está com dor, ou precisando de algo?

— Não é a dor física que me incomoda é sim a emocional.

— Sei como se sente querido — quando a olhei, ela estava com o semblante triste. — Há dois anos perdi meu filho, e um ano que também perdi meu marido.

— Não precisa continuar, se não quiser — segurei sua mão e apertei, na intenção de consolá-la.

— Eu preciso fazer isso, preciso desabafar — esperei em silêncio ela continuar, quando ergueu a cabeça seu olhar estava distante. — Henry era lindo, parecia muito com você. Se hoje estivesse vivo, teria mais ou menos sua idade. Foi numa noite normal, ele estava voltando da faculdade, ele queria ser médico. Amava crianças, e escolheu ser pediatra. Era seu último ano, faltava alguns meses para se formar. E em um cruzamento, dois assaltantes o abordam, quando ele foi pegar o celular para entregar, eles atiram pensando que ele ia reagir. Deram dois tiros na cabeça dele e fugiram. Meu marido era muito unido ao nosso filho, e entrou em depressão logo que o Henry morreu. Depois de um ano lutando contra essa doença, ele se suicidou. Hoje, vivo com minha filha mais nova, a Ágatha. É por ela que me mantenho forte.

O MendigoOnde histórias criam vida. Descubra agora