Já faz um mês e meio que to investigando o caso de estupro e não consigo achar nenhuma prova defina o caso. Tem horas que eu penso em desistir e me conformar com o que à polícia diz que teve sim o estupro coletivo. To vivendo em função desse caso. Não saio desde aquele dia de meninas com a Nique, nem na casa dos meus pais eu apareci durante esse tempo. Tenho certeza que quando eu for lá visitá-los, levarei uma bronca enorme. Eles sempre dizem que eu vivo para o trabalho e esqueço deles. Mas, não é verdade. Todos os dias rezo para conseguir terminar logo essa matéria para ter um tempo com eles. E com esse pensamento, decido ir mais uma vez na favela.
Estaciono o carro próximo à entrada da favela e subo a pé para não chamar atenção. Vou em direção ao mesmo barzinho que eu fui da outra vez, fica perto da boca de fumo e de lá eu consigo ver toda a movimentação. Peço um pão na chapa e um suco de laranja. Escolho uma mesa na calçada, e sento para esperar meu pedido. Quando vou tirar meu telefone da bolsa, percebo alguém chegando e parando em pé o meu lado. Levanto a cabeça e vejo um dos homens do tráfico, com um fuzil nas costas, me encarando.
- Vem comigo, o chefe quer falar com você.
- Comigo?
- Com você mesmo e agora. É melhor você obdecer e vir comigo quietinha ou vou ter que te levar a força.
Levanto, pego minha bolsa e o sigo. O tempo todo pensando na loucura que eu fiz de voltar naquela favela, da promessa que eu fiz ao Enzo de não voltar mais lá, da Nique pedindo para eu tomar cuidado e dos meus pais pedindo para eu mudar o foco das minhas reportagens. A minha vida inteira estava passando na minha cabeça como um filme.
Chegamos em uma casa de tijolo, sem pintura nenhuma, quem olhasse de fora acharia que ela ainda estava sendo construída. Acho que essa era idéia, despistar o verdadeiro propósito do local. Já na entrada, do que deveria ser a sala, tinha um sofá e uma mesa enorme cheia de drogas, com um menino que deveria ter no máximo dezeseis anos, sentado no chão embalando. Andamos até o final da sala e paramos em frente uma porta que estava fechada.
- Pode entrar o chefe tá te esperando.
Com as mãos tremulas e o coração quase saindo pela boca, abri a porta. Ali parecia ser o escritório. Tinha uma mesa com mais drogas e dinheiro em cima, uma televisão que estava ligada no noticiário local, e duas cadeiras, uma de cada lado da mesa. A do lado de trás da mesa, estava ocupada pelo dono do morro, o conhecia de fotos. Um sujeito mal encarado, com uma cicatriz no rosto e o olhar dele dizia que você jamais ía querer esbarrar na rua. Confesso que estava com medo, achando que estava com as horas contadas, quando ele me entregou um dvd. Não entendi o que ele queria com aquilo, então perguntei:
- O que é isso?
- Um dvd, vai dizer que você não sabe? Achei que fosse mais esperta do que isso.
- Desculpa. Eu sei que é um dvd, só não sei por que você está me dando ele.
- Sei que você está investigando o caso de estupro, sei também que já teve aqui na favela e que não encontrou nada. To te dando as provas que você precisa.
- Por que você tá fazendo isso? Achei que você fosse me matar. - Eu e a minha língua que não consigo segurar na boca.
Ele ri e diz: - É verdade que eu não gosto que venham fuxicar na minha favela, mas, você até que vai me ser útil. Não aguento mais esses policiais fazendo ronda aqui por causa daquela piranha que quis ir para uma suruba e agora que a mamãezinha descobriu, está querendo se fazer de vítima. Aí tem tudo que você precisa para fazer a sua matéria. Não pense que estou sendo bonzinho, longe disso, só quero ver aqueles canas longe daqui. Agora, você pode ir fazer o seu trabalho e me deixar em paz. Não volta mais aqui, ou você não sairá viva. Entendeu?
- Sim. - Respondi com a voz ainda tremula e sai sem olhar para trás, não via à hora de ir embora daquele lugar.
Chegando no carro, tranquei a porta e fui embora para casa. Mandei uma mensagem par o Enzo avisando que trabalharia em casa hoje, precisava saber o que tinha naquele dvd.
Entrei em casa, sentei no sofá e só então liberei o ar que nem sabia que estava prendendo. Não acredito que saí ilesa daquele lugar. Por um minuto, achei que morreria hoje. Fiquei mais uns minutos sentada, pensando em tudo que aconteceu, até me acalmar. Depois, peguei o notebook e coloquei o dvd para saber o que tinha nele. E o conteúdo me surpreendeu. A menina estava em um quarto com os quatro acusados de terem participado do estupro, na maior orgia. Ela estava participando ativamente de tudo o que estava acontecendo naquele quarto. E eu estava certa quando dizia que ela não tinha sido estuprada. Só precisava saber por que ela estava mentindo esse todo. E a minha dúvida foi respondida no final do vídeo, entre risadas, ela diz para um deles: Se minha mãe souber que eu fiz isso, é capaz de me matar.
Fiz alguns prints das cenas, montei a matéria e fui para o jornal entregar pessoalmente para o meu chefe.
Cheguei no Jornal já eram dezeseis horas. Fui direto para a sala do Enzo. Bati e entrei, não esperei ele perguntar quem era. Ele ficou me olhando sem entender nada, pois, eu tinha tido que não apareceria no jornal hoje.
- Boa tarde, Enzo, tenho a matéria de capa de amanhã. Será que ainda dá tempo?
- Como assim?
Entreguei o pen drive para ele e pedi que ele olhasse. Quando a matéria surgiu no computador, pude perceber a expressão de surpresa e de pânico no rosto dele. Ele sempre me teve como uma filha e como todo pai, tem suas preocupações. Ele sabe que eu corri algum risco para conseguir aquelas provas. E deixou claro quando perguntou: - O que você fez para conseguir essas provas?
- Você não vi querer saber. O que importa é que eu to bem, sã e salva. E então, ganhei a capa de amanhã?
Ele balançou a cabeça e disse; - A capa é sua. Parabéns sei o quanto você queria desvendar esse caso. Mesmo eu não concordando com o que quer que seja que você tenha feito para conseguir, eu te admiro muito pela sua coragem e determinação.
- Não me faça chorar, chefe. - Nos despedimos e eu fui para casa.
Sei que não conseguiria dormir aquela noite, estava muito ansiosa, contando as horas para pegar o jornal na mão e ver a minha matéria nele. Não era a primeira vez que eu fazia uma matéria de capa, mas, essa era diferente, teria repercussão nacional. Quem sabe o Enzo não me tornaria exclusiva nesses casos? Esse sempre foi o meu sonho e vi nessa matéria a chance de realizá-lo, por isso me arrisquei tanto.
Com o coração transbordando de felicidade e o sorriso no rosto, liguei para a minha mãe e contei que a minha matéria tinha chego ao fim e, claro, disse para ela não deixar de comprar o jornal amanhã. Prometi que passaria o sábado com ela e com o meu pai. Liguei também para a Nique e contei as últimas novidades. Ela ficou feliz, disse que agora eu teria mais tempo para ela. Depois de dividir a minha felicidade com as pessoas mais importantes da minha vida, fui deitar esperando ansiosamente o dia amanhecer.
-----
Capítulo antecipado para comemorar o dia do escritor!
O que estão achando? Deixem seus comentários, quero saber a opnião de vocês.
Não está revisado, desculpem os erros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DESTINOS OPOSTOS - Degustação
Roman d'amourSINOPSE Adam Clarke é o ator mais badalado de Hollywood, com inúmeras premiações e uma coleção diversificada de lindas atrizes na qual já teve um "affair" ao longo de sua carreira. Após eventos que marcaram seu passado, Adam tem aversão aos jornali...