Cap. 6 - Seguindo em frente

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Vamos de mais um capítulo. Boa leitura!

Paula sua linda, amo conversar contigo! Esse capítulo é para você. Beijo grande.

❤💚

Seguindo em frente

Tirei minha fantasia branca e coloquei minhas roupas comuns. Depois de comer uma fruta, calcei meu tênis. Duque já estava pulando, sabia que era chegada a hora de passear. Apenas posicionei a coleira e ele mesmo enfiou o focinho.

Ao sair de casa avistei um homem de aproximadamente um metro e oitenta, com roupas de caminhada, cabelos loiros escuros brilhantes e um sorriso faceiro nos lábios. Theo! Ele estava tranquilamente  encostado no poste em frente à minha casa.

Sabia!

Ele nem discutiu comigo a questão de me encontrar lá.

– Não disse que era para me esperar no parque? – O cumprimentei com um beijo no rosto.

– Você não aprendeu que sou desobediente? – Disso eu tinha certeza.

– Vamos sair daqui logo seu teimoso! – Saímos caminhando em passos lentos rumo ao parque.

– Qual é a diferença em te buscar aqui a te encontrar lá? – Theo pergunta enquanto observa um Duque radiante fazendo suas marcações alternando entre os postes e árvores pelo caminho.

– Meus pais podem criar expectativas, as pessoas podem imaginar que...

– Seus pais eu entendo, mas sobre os demais o que pensam não é problema nosso! Somos adultos, livres e desimpedidos. – Apenas continuamos caminhando em passos lentos. Por um momento ele segura o guia do Duque e me deixa com as mãos livres.

– É que eu nunca mais tinha saído com alguém. – Fiquei quieta, pois o maior problema estava dentro de mim, não nos outros.

– Já disse: um dia de cada vez! Não estamos saindo para um encontro amoroso. Para tudo há um tempo, Grazi. Eu imagino o quanto tudo tenha sido difícil. – Ele me desarma, sabe a hora de brincar, mas também sabe falar sério.

– Você tem raz... é isso. – Tento falar que ele está certo, mas esse cretino já se acha e se eu ficar dando lado para ele vai duplicar seu ego. – Me fale de você. Aquele dia da primeira consulta com a Cecília você disse que tinha acabado de chegar na cidade. De que buraco você saiu? – Eu estava mais leve e mais sorridente.

– Estava indo tão bem, precisa ser malcriada, não é? Quer mesmo que eu explique de que buraco eu saí? Não, não. Não foi a cegonha que me trouxe. Saí de um burac... – Interrompo a tempo.

– Idiota! – Dou um tapa em seu braço e ele alisa o local afetado. – Você compreendeu bem minha pergunta. – Ele sempre tem saída para minha ausência de simpatia.

– Eu estava morando em São Paulo há muitos anos. Sou daqui e minha família também, mas fui em busca de uma vida melhor na capital.

– Que legal! Bem que eu sabia que seu rosto era conhecido. Mas com certeza, pela nossa diferença de idade... eu era uma criança quando você já fazia crianças.

– Você tem vinte e cinco anos. E eu? Quantos anos acha que eu tenho? – Ele faz a pergunta e essa é minha deixa para espezinhar. – Estávamos sentados, apenas curtindo a companhia um do outro enquanto nos dividíamos em dar atenção ao meu cachorro.

– Aparentemente tem uns cinquenta e oito, – Paro de falar e vejo a cara que ele faz. É imperdível! – Mas a mentalidade é de doze, sendo assim, a média das duas é trinta... é trinta e cinco. Isso! Acho que tem uns trinta e muitos – Concluo.

– Você falou trinta e POUCOS. – Ressalta – Zoando ou é sua opinião mesmo?

– É minha opinião mesmo. Vamos, fala logo, parece mulherzinha que tem problema com idade.

– Ei. Sou muito homem viu. Tenho trinta e ... Nove. – Jesus sagrado! Ele tem quarentão. Não é possível. Não parece. – Mas minha disposição é bem melhor do que muitos de vinte e poucos. – Ainda estou parada no trinta e nove enquanto ele fala. Theo é quatorze anos mais velho que eu. – Gra... Fala alguma coisa. – Ele me chama, me fazendo voltar para a conversa.

– Já parou para pensar a diferença de idade entre nós? – Agora eu estou falando sério.

– Já parou para pensar em quantos casais são felizes quando não ficam encontrando motivos para barrar relacionamentos? Você sabia que para ser feliz de verdade, não tem idade que impeça?

– Você disse que não ia forçar. – O lembro e ele dá de ombros. – Mas... pensando bem... você deve ter pressa não é? Logo não estará funcionando mais. – Pronto, agora estoura a terceira guerra mundial.

– Olha aqui sua menininha minada, não vou te mostrar como funciono agora, porque prometi que iria me comportar.

– Continuemos com nossa conversa de amigos. Amigos! – Falo mais alto – Cadê a mãe da Cecília? – Perguntei o que mais eu queria saber.

– É uma longa história. Qualquer dia te conto. – Vejo que é uma história complicada.

– Sei. Você já foi casado? – Continuo com meus questionamentos.

– Nunca, sempre fui solteirão. – Tudo que pergunto ele responde em poucas palavras e isso me deixa cada  vez mais curiosa.

– Hum... – Mas então como ele conseguiu virar pai solteiro? – Ah... já sei! Você na verdade é uma mulher e se veste de homem, – Sem chance, ele é um baita de um homem. – Fez uma inseminação artificial e ganhou a Cecília. – Sorrio com a hipótese que levanto, mas ele continua sério. Lá vem bomba! O mais engraçado que há dois anos eu não brinco com alguém assim. Com ele tudo é natural. Ele me deixa à vontade.

– Qualquer dia eu vou mostrar para você se há possibilidade de inseminação em mim. – Eu sabia que viria uma resposta desse tipo. Nos conhecemos há pouco tempo e já consigo prever algumas respostas dele.

– Ai, só brinquei. – Sorri.

– Mas eu estou falando sério. – Theo estava com uma falsa cara fechada, mas logo deu uma gargalhada espalhafatosa, fazendo cócegas em mim.

Quando Theo percebeu que o ar me faltava ele parou, apenas fitando meu olhos, tentando analisar algo. De repente, como se fosse um sinal, eu percebi, aquele era o clima que antecipava o beijo. Os olhos de Theo eram maravilhosamente brilhantes, a boca deliciosamente acolhedora, a mão que alisava o meu rosto, totalmente tentadora. Apressadamente desenvolvi uma afirmação que desde quando o vi pela primeira vez fiquei com vontade de falar:

– Eu acho que lembro de você, seu rosto não é estranho. –  Como ele disse que já morou aqui... quero saber se já tive contato com ele.

– Sou daqui, – Minha busca de quebrar o clima foi positiva, pois ele se recompôs. – Fui embora para capital com vinte e sete anos, quando percebi que aqui eu seria apenas um repositor de mercado, não que não seja digno, mas eu sempre sonhei em ganhar o mundo.

– Conseguiu ganhar o mundo?

– Consegui ter uma filha, consegui experiência profissional, de vida, mas tudo lá era vazio, sabe? Eu só encontrava felicidade quando estava perto da Cecília. Meu mundo ainda não consegui ganhar, mas... – Ele olha para mim. – Estou tentando conquistar! – Eu me sinto envergonhada, ele é assustadoramente lindo e simpático. Toda a primeira impressão que tive foi para o ralo. Isso é de causar espanto.

– Muitas festas? – Mudo o foco.

– Várias. Muitas bebedeiras, mulherada. Tudo isso é passageiro. Como disse: vazio. Uma hora cansa e você se vê na necessidade de encontrar prazeres contínuos e não de momento. De que adianta ir a festas, depois chegar em casa e estar sozinho? – Ele estava sentado, de modo que abraçava as pernas, olhando para algum ponto no horizonte.

– Realmente deve ser ruim. – Theo agora apresentava ser mais velho do que um menino de doze anos que comporta–se igual a uma criança. Percebo que Theo tem seus momentos. Dança conforme a música. – Quem são seus pais? Será que os conheço?

– Com certeza sim, Theodor e Tônia Luckaste do Mercadinho Alemão. – Claro! Ele é a cara do pai dele. Nossa! Ele é irmão do Tony e da Tânia. O Tony é o mais novo, estudou comigo o colegial, mas nunca fomos próximos. Depois que o João morreu, ele foi um dos caras chatos que eu coloquei para correr. Tânia casou–se e foi embora para o Paraná com o marido Otávio. E o Theo... O Theo, lembro vagamente, um dia ajudou um professor a me levar para o hospital. Claro que é ele, o filho mais velho do dono da venda que já me ajudou. Nunca consegui me lembrar detalhadamente do homem que me socorreu aquele dia, mas olhando para ele é como se eu voltasse no tempo. O cabelo está mais curto e ele está mais robusto, nem meus pais se lembraram do fatídico dia.

– Óbvio! Você é a cara do seu pai. Conheço todos da sua família, me lembro vagamente de você. Uma época deu aula de capoeira na escola, não deu?

– Não acredito que se lembra de mim! – Falou sorridente. – Eu tinha uns vinte e cinco anos na época da capoeira. Faz tempo!

– Faz! Faz muito tempo! – Enfatizei – Nunca gostei de capoeira. Agora está explicado, eu já tinha uma certa antipatia por você desde aquela época. – Theo faz cara de nojo.

– Ah! Você nem se lembra direito. Tinha uns nove ou dez anos. A molecada me amava viu. Você que era uma aluna chata, isso sim, aliás, sua chatice potencializou, sabia? – Eu poderia ter ido dormir sem essa. O Theo nunca fica por baixo em suas respostas.

– Theo... – Mudo de assunto – Você se lembra que um dia uma menina jogando queimada, caiu e quebrou o pé? – Ele faz uma cara engraçada forçando a memória. O Theo já me ajudou antes e me ajuda agora. Como se fosse um anjo da guarda que está nos locais certos e na hora certa.

Sim, porque talvez se ele tivesse aparecido antes eu não estaria disposta a tentar uma amizade ou algo do tipo. Ele de novo apareceu no momento oportuno.

– Sim. Eu estava com uma turma numa roda e quando eu vi que ela caiu e começou a chorar eu corri para  ajudá-la. Ela chorava tanto, me deu uma dó. Peguei ela no colo e o professor dela me acompanhou até o pronto socorro.

– Você se lembra dela? Da fisionomia?

– Não lembro muita coisa. Ela tinha o cabelo bem preto e os olhos claros. – De repente ele parou e ficou me analisando. – Não me diga que...

– Sim, era eu. A menina que você ajudou a socorrer há tantos anos atrás era eu. – Confirmei.

– Nossa! – Ficou perplexo – Está vendo...  Isso é destino. Você era tão pequena e eu te ajudei. – Pensou um pouco e continuou falando – Se bem que não cresceu muito. – Bufei.

– Pois é. Eu era só uma criança. Era tão bom quando eu era só uma criança! Nunca imaginei que passaria por tantas coisas.

– Realmente, nunca sabemos o que a vida nos reserva. Olha que a reserva que eu encontrei aqui é boa.

– Para, Theo. – Ele sempre arruma um jeito de xavecar.

Apesar das investidas, nosso passeio foi agradável. Fiquei com a pulga atrás da orelha sobre a mãe da filha dele. Percebi que não quis falar, mas disse que em outro momento falaria, o que segurou minha onda, pelo menos um pouco. Conversamos bastante. Theo até que é amigável. Ele é alegre e descontraído. Quando estou com ele não me sinto para baixo, pelo contrário. Ele consegue tirar risos que estavam guardados há anos.

Nos despedimos e ao chegar em casa eu entrei direito para o meu quarto onde fui cercada por sentimentos mistos. Parecia que eu estava no meio de uma ponte, aquela que quando andamos não tem como voltar para trás porque as partes percorridas caem no momento que foi pisada.

Olhando para o local onde há alguns dias eu saí, estava o meu passado e junto dele o João e suas lembranças. Agora não tem mais volta. E se eu ficar estacionada corro o risco de cair e me afundar no rio que passa embaixo desse canal. O canal entre o antes e o depois.  Não posso me perder. Preciso apenas, com agilidade, seguir em frente.

NOTAS DE THEO: Pelo menos a confiança dela eu estou conquistando.

***

Votem e comentem. Beijos

Simplesmente Me Abrace - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora