Cap. 1 - Luto contra o luto!

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Música: The end - Pearl Jem

Não poderia deixar de dedicar o primeiro capítulo a você Bruninha. Minha ouvinte! Beijo amiga, tudo de bom sempre.

Luto contra o luto!

Chamo–me Graziela Ramos, sou dentista e tenho um pequeno consultório na pacata cidade de Nazaré Paulista, interior de São Paulo. Hoje tenho vinte e cinco anos, mas não conto mais a idade por dias vividos. Na minha realidade, quero saber quantos anos restam para eu morrer.

Se eu sou depressiva? Não diria que sim. Sou apenas realista. A vida pode ser mais cruel do que noticiam os jornais.

Há dois anos eu tive uma grande perda, onde o destino, a vida, a fatalidade ou Deus, enfim, não sei que nome é dado para o responsável por uma morte inesperada, só sei que perdi um homem maravilhoso que viria a ser meu marido em poucos dias.

Eu namorava há quatro anos e estava noiva de João Pedro. Um relacionamento sólido. Tudo perfeitamente programado, certo demais para dar errado! Até que o destino e suas peças incabíveis desemolduraram um quebra–cabeça quase montado, resolvendo tirá–lo de mim e acabar com todas as minhas certezas. Tudo perdeu o formato. Totalmente fora de esquadro!
De certa forma, luto contra o luto!

João Pedro era um rapaz jovem, cheio de planos, um moreno lindo, engenheiro e dono de um futuro promissor. Com certeza teria grandes conquistas, porém um acidente fatal a caminho do trabalho lhe ceifou a vida dois meses antes do nosso tão planejado casamento.

Sem pestanejar, o dia em que ele se foi, sem chances de despedidas e sem promessas de volta, foi o dia mais difícil que sobrevivi até hoje. Um filme lindo de amor, que de uma hora para outra, é reclassificado como de terror.

Junto da cova dele foram enterrados sonhos e planos de felicidade que um dia fizemos juntos. Tudo acabou ali, embaixo de terra e cimento. Sabe onde é o lugar que acumula mais sonhos a se realizar? Sim, o cemitério. Muitos sonhos lindos foram enterrados com seus donos.

Meu coração insistentemente bate dentro do meu peito, mas é como se este órgão estivesse a sete palmos de profundidade, com terras e pedregulhos sobre ele. Incapaz de ver a luz. Conotação absurda vista de fora desse cenário, mas é assim que me sinto.

Meu coração também poderia parar, assim ficaríamos juntos de outra forma. Em um outro plano, se é que existe outro além deste.
Incapaz de viver sem meu grande amor, eu apenas sobrevivo, seguindo o percurso pelo qual um dia tracei. Caminho que deveria ser percorrido a dois, porém, meu par já não existe. E nesse caso, sobrou apenas a metade podre e triste de um casal feliz. Eu.

Todo o dia coloco minha fantasia profissional e vou para o consultório. Visto branco, mas vivo de preto. Faço o que tem de ser feito: Ir ao mercado ou pagar contas. Cuidar de mim é segundo plano. Invisto meu tempo em meus pais e no meu cachorro. Aliás, até em casa tem ficado insustentável a situação.

Não quero ninguém, não pretendo que alguém se interesse por mim. Sou incapaz de amar e sou indigna de ser amada.

Se eu disser que nesses dois anos eu não me interessei por mais ninguém, certamente você diria o que diz minha família: “uma jovem, linda e inteligente precisa tocar sua vida! Virar a página é necessário!” Conselhos tipo esses, me fazem revirar os olhos. Qualquer dia, respondo para alguém: "Se vista da minha alma e reviva o que eu vivi. Hipócritas!"

Não é que falta vontade da minha parte, o problema é que não tenho um impulso para isso. Faltam–me forças.

O que minha família não sabe é que eu toco a minha vida. Sim claro, do meu jeito. Não estou suficientemente confortável para colocar outro homem nela. Porque é isso que eles acreditam fielmente: "Ela só vai superar a morte dele, se arrumar outro homem!"

Não preciso de homem em si. Preciso de uma situação que mostre que eu estou viva e que por isso, preciso realmente viver!

Existir reserva surpresas constantes. Peças essências são retiradas e outras incabíveis são recolocadas. Mexendo totalmente em toda estrutura.

Imagine um quadro com o desenho maravilhosamente pintado, perfeito e pronto para ser assinado. De repente ele cai e quebra em mil pedaços. No mesmo instante, o pintor recebe da vida uma nova tela, onde se vê obrigado a recomeçar um novo desenho. Obviamente é impossível criar uma cópia idêntica, quando as tintas perfeitas que coloriam o antigo quadro secaram e a fonte de inspiração já não existe. Nesse nível do processo, não se sabe de onde partir ou quais são os primeiros traços a serem desenvolvidos.

No meu novo quadro miserável, involuntariamente eu criei um rio cujas águas são de lágrimas. No vale de águas salgadas possui árvores com tristezas enraizadas no solo do meu coração.

João Pedro. Alguém poderá substitui–lo? Nenhum homem pode chegar aonde ele chegou. O que fazer quando tudo parece estranho? Nada faz sentido?
Hoje, dois anos depois de tudo que aconteceu, sinto uma tristeza calcificada. Dura. Insolúvel.

NOTA DO THEO: Cidade nova e mulheres diferentes. Que comecem os desafios.

***

Comentem e votem!

Espero tê-los comigo.

Beijos!

Mônica Rodrigues

***

Tradução: O fim

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Tradução: O fim

O que eram todos aqueles sonhos que nós compartilhamos
Há muitos anos?
O que eram todos aqueles planos que fizemos
Agora deixados de lado na estrada?
Atrás de nós na estrada
Mais do que amigos que sempre prometeram
Porque amigos vem e vão
As pessoas mudam como todas as coisas
Eu queria envelhecer
Só quero envelhecer
Deslize para perto de mim
Eu sou apenas um ser humano Eu vou levar a culpa
Mas mesmo assim Isso não é comigo
Você vê
Acredita
Eu sou melhor que isso
Não me deixe tão frio
Ou enterrado debaixo das pedras Eu só quero resistir
E saber que mereço o seu amor Suficientemente
Eu não acho que
Que tal coisa exista
É minha culpa, eu fui atingido Por uma doença nos ossos
Como dói te deixar aqui
Sozinha com as crianças
Somente não me deixe ir
Ajude-me a me enxergar
Porque eu não consigo mais distinguir
Olhando de dentro para fora
Do fundo de um poço
É um inferno Eu grito
Mas ninguém ouve
Antes que eu desapareça Sussurre no meu ouvido
Dê-me algo que vá ecoar
No ouvido do meu futuro desconhecido.

Simplesmente Me Abrace - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora