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"Você não pode estar falando sério!" a raposa vermelha se encolheu, os caninos à mostra.

"Não precisa aceitar se não quiser fazer isso, Cora. Sabemos que estamos pedindo muito" Leonora encostou a ponta do focinho na companheira, confortando-a.

"O que não muda o fato de que esta é a nossa melhor oportunidade... e talvez a única."

"Amelia!" a raposa negra cravou-lhe um olhar de censura.

"O que foi? Ela precisa ter consciência do que está em jogo."

"Sei bem o que está em jogo" Cora rosnou. "Só não achei que precisaria me submeter...a isso."

"Olha, eu já expliquei. O acesso às informações é bem restrito, só pode ser feito através do dispositivo pessoal de Persson. Se eu tentar uma invasão vinda de fora, é provável que a Radiant acabe descobrindo e tudo vá por água abaixo. Além disso, duvido que ele confie o acesso a qualquer outra pessoa na empresa. A nossa única chance é lidar diretamente com ele."

Um silêncio incômodo, cortado apenas pelo farfalhar das folhagens ao vento, tomou conta do pequeno Kotai. Cada uma das quatro raposas presentes encaravam as próprias patas.

Cora havia convocado Edith, Amelia e Leonora praticamente todas as noites desde o bilhete de Mahira. Amelia estava vivendo sob a vigia de Sophia, e tinha de despistá-la o tempo inteiro para garantir certa privacidade às operações do grupo. Leonora ainda estava com a família, escondida em uma propriedade secreta. Cora também tentara convocar Amaya, mas a raposa parecia estar fora de seu alcance, e nunca a respondia. Na verdade, ninguém tinha notícia alguma sobre ela.

As amigas já haviam recolhido todas as informações possíveis sobre Persson, e agora tentavam pensar numa estratégia satisfatória para encurralá-lo a qualquer custo. No entanto, a sugestão de Amelia era desconcertante.

"Acham mesmo que sou a pessoa correta?" Cora dirigiu-se à pequena raposinha cor de areia sentada a seu lado.

"Quatro ruivas nos últimos cinco relacionamentos" Edith deu de ombros. "É definitivamente um padrão."

"É um fetiche."

"Então que bom que temos uma ruiva infiltrada na empresa."

Cora revirou os olhos.

"E ele está solteiro, o que já é por si só algo raríssimo a nosso favor. Caras como George Persson nunca passam muito tempo sozinhos, eles precisam de alguém em suas vitrines. Se formos capturar esse passarinho" disse Amelia "precisaremos ser rápidas."

Cora analisou o semblante de cada uma das amigas. Em suas feições vulpinas, era possível ver a adrenalina correndo.As experiências na mansão mudaram aquelas meninas para sempre. Mesmo que o plano fosse repugnante, ainda assim conseguia agitá-las para a caça. Designada para a pior parte do plano, seduzir um figurão que provavelmente era um criminoso, Cora não tinha assim tanta certeza sobre o que sentia. Mas havia certa beleza em conspirar ao lado daquelas raposas.

"Qual o plano?" perguntou, por fim, vencida pela curiosidade.

"Sua melhor chance é o Baile Anual de Caridade que a Radiant promove. Vai acontecer daqui uns dois meses mais ou menos, e todos os figurões vão estar lá, enchendo a cara em roupas de festa" explicou Leonora. "Meu pai sempre vai. Sabe como é, puxar o saco dos donos para que ajudem na campanha. É normal que gente como Persson acabe levando alguma companhia para sua suíte depois da festa..."

"E porque eu seria convidada para um evento desse nível?" disse Cora, tentando não pensar muito na última frase de Leonora.

Os olhos de Amelia brilharam, como se ela estivesse muito orgulhosa de si mesma por já ter imaginado todos os detalhes:

Dons de Inari - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora