Capítulo 9

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Entrei em casa e minha mãe estava cochilando no sofá com uma caneca de alguma coisa na mão. Subi para meu quarto. Abri a porta e me deparei com o livro que tinha pego na biblioteca, o peguei e me joguei na cama.


Virei o livro e li a sinopse, depois o abri e cheirei suas páginas. Coisa de leitor. Até que, me aconcheguei na cama e comecei definitiva a ler. Eu virava as páginas sem ao menos perceber, tudo era tão belo tão tocante... Eu conseguia sentir o que ele queria passar, pois, era tuto tão... Tão real talvez...


Alvares de Azevedo. Morreu tão jovem, aos vinte, mas como tinha sofrido. E não, ele não precisava de uma biografia para que soubéssemos disso. Ele mesmo havia escrito. Deixado registrado todo seu sofrimento, todas as angústias de sua alma. Como me identificava com ele.


Eu tinha lido cerca de cem páginas do livro e em praticamente todas as páginas haviam pelo menos dois ou três post its.


Ele encantava com as palavras, de uma maneira melancólica, no posso negar, mas encantava. Ao ler Alvares de Azevedo, eu me sentia compreendida. Parecia que, estava conversando com um amigo.


Continuei a ler sem ver a hora passar, o relógio fazia seu Tic-Tac como sempre, ritmado a leitura dos versos. Mas, em um determinado poema, meu coração acelerou, eu li, ali naquelas paginas brancas, aquelas palavras que foram escritas a mais de cem anos tudo o que eu sentia. Eu reli esse poema cinco, seis, sete vezes, ou talvez mais. Não conseguia acreditar que, aquilo realmente tinha sido escrito, era tudo, exatamente tudo o que eu sentia. Fechei o livro e o apertei contra o peito. Fiz isso imaginando ali o próprio autor. Como eu queria tê-lo conhecido. Pobre Alvares. Pobre Magnória. Nós sentíamos exatamente a mesma coisa.


Coloquei o livro ao meu lado na cama e pensei na magia da literatura. Ela transgredia o tempo. Ela era imortal. A literatura. Tocava almas, mudavam vidas. Tudo isso com palavras. Nada mais, nada menos. A literatura.


Não conseguia mais ler pois, o poema ainda estava vagando de um lado para o outro em meus pensamentos. Cada verso, cada palavra. Era tudo tão bonito.


Me estiquei um pouco e peguei o computador que ainda estava na beirada da minha cama. O liguei e comecei a escrever. Na verdade criar algo parecido com um roteiro para a apresentação de segunda. Eu estava entusiasmada com aquilo, mas não sabia se valeria a pena me esforçar tanto. Não sabia se as pessoas daquela classe compreenderia a grandiosidade desse autor, de seus textos. Sua importância para a literatura brasileira. Não sabia sequer se aqueça classe entenderia a importância da literatura brasileira. Quantas vezes já havia escutado que nosso grandioso e saudoso Machado de Assis era chato? De pessoas que ao menos tinham lido um livro. Aquilo me causava revolta, mas não falava nada, pelo contrário, ficava ainda mais quieta com meu livro na frente do rosto.


Mas, pensar sobre aquilo tinha me trazido um gás a mais para escrever o roteiro do que eu iria falar. Não sei mas, talvez, alguém escutasse o que eu estava falando e fosse procurar um livro para ler. Ou talvez eu tirasse um dez que também seria ótimo.


Depois de duas horas eu tinha terminado o trabalho escrito e o roteiro. Salvei o arquivo e desliguei o computador.


Fui me sentar na poltrona. Já estava escuro e o céu estava particularmente claro para uma noite em São Paulo. Olhava a calçada sem prevenção nenhuma e me lembrei de Diego. Era um nome que combinava bastante com ele. Fiquei ali, parada pensando em como ele era peculiar. Eu pensava que se um dia chegasse a melhorar nós poderíamos ser muito bons amigos.


Olhei para o relógio que marcava 3h 27min PM. Sorri por lembrar que eu não era a única coisa com defeito daquele quarto. Me levantei e fui em direção à porta. Tinha quase certeza que aquela altura Thomas já tinha me escrito. Não era possível que ainda não.

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