Passou dois dias e eu estava de alta. Finalmente. Naqueles dois dias Diego não tinha ido mais me ver, antes de se despedir da última vez que havíamos nos visto ele tinha dito que não iria me ver no hospital... Não mais.
Paolo também tinha ido me visitar. Ele disse que a escola inteira estava sabendo. Que bom ne? Que ótimo. Eu tinha decidido não voltar aquele lugar nem tão cedo... Não fazia nenhuma diferença mesmo.
Minha mãe estava assinando algumas coisas e eu esperava na sala da recepção, aonde eu tinha visão para a rua.
Minha mãe me chamou e fomos embora. Fizemos todo o percurso caladas. Eu não estava afim de falar. Eu não estava afim de nada, basicamente. Minha mãe parecia respeitar isso.
Cheguei em casa e fui para meu quarto. No banheiro, tinha poças de sangue secas. Olhei e suspirei. Precisava limpar aquilo. Mas eu não estava afim; eu não estava afim de nada.
Fechei a porta do banheiro e a do quarto. Sentei na cadeira em frente à escrivaninha e fiquei girando a cadeira, para lá e para cá. Eu me sentia mais forte, fisicamente falando. Provavelmente era o que tinha passado pelas tubos indo direto para alguma parte do meu corpo. Mas psicologicamente falando... Ah... Eu me sentia pior ainda. Era como se, tivessem pisado no cacos de algo quebrado, tornando-a, além de irrecontruivel, também irreconhecível.
Minha mãe bateu na porta, me fazendo parar de rodar na cadeira e levantar para girar a chave.
Ela estava dizendo algo sobre minha alimentação, e como de agora em diante ela iria regulamentar o que eu comia.
E tinha mais isso. Fiz uma bateria de exames, que alegaram minha anemia. Ótimo.
Eu não estava dando muita importância ao que minha mãe estava dizendo até ela dizer que no dia seguinte eu começaria as sessões no psicólogo
-Que?
-Amanhã, as três horas da tarde você tem consulta no psicólogo.
Assenti com a cabeça, sinalizando que eu tinha entendido e que agora era hora de ela sair do meu quarto. Deus, como eu queria ficar sozinha.
Minha mãe disse que daqui a pouco eu iria tomar café da tarde ou algo assim. Eu não estava prestando atenção. Eu não estava afim. Não estava afim de nada.
Me vi sozinha no meu quarto de novo, e foi quando reparei que meu relógio tinha parado de funcionar de novo. Ainda girava a cadeira.
Olhei para a escrivaninha aonde estava todas as cartas de Thomas e reli, uma a uma. Naquele momento eu só queria o abraço que ele havia me prometido no pedaço de papel.
Aquele foi um dos dias mais longos da minha vida. Tive de comer sem sentir nenhuma diferença nos gostos. Eu não queria comer. Mas me esforçava, tentava. Falava para minha mãe que estava uma delícia, o que parecia deixá-la feliz.
Depois eu fui tomar um banho e limpei o sangue do meu banheiro. Aquela noite estava quente dentro de casa e muito agradável fora.
Quando minha mãe foi deitar, eu me sentei na minha poltrona e fiquei olhando pela janela. O céu estava de um azul típico do verão. As pessoas pareciam mais felizes aquele dia. Talvez realmente estivessem. Ei deveria estar?
Eu me sentia tão vazia... Tão quebrada...
Era mais ou menos três da manhã, quando vi um garoto olhando diretamente para minha janela. Ele trazia um violão na mão.. Era alto magro e tinha cabelos compridos loiros.
Ele olhava fixo para minha janela, talvez para mim. Depois de um tempo olhando. Ele acenou sorriu sem mostrar os dentes e me chamou com a mão
Reparei que ele não conseguia ficar parado. Estava sempre mexendo no cabelo, batendo o pé no chão e se movendo. O contrário de Diego.
“Sou eu Thomas” ele disse e eu sorri desacreditada. Então ele era Thomas? Ele continuava me chamando então eu desci as escadas tentado não fazer barulho.
Saí no quintal de casa e ele estava sentado na calçada. Mexendo o pé enquanto arrancava algumas notas de seu violão.
Me aproximei em silêncio e me sentei ao seu lado. Ele parou de tocar quando percebeu minha presença e me olhou. Seu olhos eram verdes e sua pele incrivelmente branca. Ser olhar era inquieto. Ele sorriu mais uma vez, e colocando o violão de lado me deu um abraço.
Fiquei sem reação e depois respondi o abraço. Apesar da noite quente e sem vento, ele estava gelado. A blusa xadrez que ele vestia da camisa amarela surrada não cobria seu braços e era ali que eu sentia sua pele fria. Mas mesmo assim, seu abraço era tão bom. Talvez eu estivesse precisando mesmo.
Quando nos soltamos ele me olhou outra vez com seus olhos verdes, sorriu e pegou seu violão.
-E então, fala uma música.
-Eu não conheço muita coisa...
-Cazuza? Legião Urbana? Mamonas Assassinas? Ou algo gringo?
-Não conheço..
Ele franziu a testa, e cerrou os olhos.
-Todo mundo conhece Legião Urbana... É impossível que você não conheça.
Ele realmente não conseguia ficar parado, seus pés mexiam e seus batiam no violão ritmados.
Eu não tinha o que falar. Não queria falar. Queria apenas aproveitar que ele estava ali. Ainda era meio surreal que ele fosse a pessoa que lia minhas cartas, que se preocupou comigo, que quis ser meu amigo. Eu só queria aproveitar aquilo.
Então eu fiquei quieta enquanto ele arrancava algumas notas do violão, e cantava com uma voz baixa e doce. Era tão calma quase falha. Eu não conhecia a música, nas também não queria interrompe-lo para perguntar o nome da canção. Fiquei ali, parada, até quando ele parou de cantar e com seus olhos inquietos disse:
-Não conhece mesmo? – balancei a cabeça negativamente – Meu Deus Mag, é Ainda é Cedo da Legião, todo mundo conhece. Vou te emprestar um discos meus.
-Você tem discos? Eu não conheço muitas bandas e essas coisas. Mas se você quiser me mostrar algumas
Ele fez que sim com a cabeça e começou a tirar outras notas do violão. Era algo muito melancólico e com a letra muito bonita e triste.
Mais tarde descobri que se tratava de “Vento no Litoral “ também da Legião.
Eu nunca tinha parado para ouvir a banda, óbvio que conhecia de nome mas nunca tinha parado para apreciar sua poética.
E ali, embasada com aquela música, Thomas me mostrava ad contrações no céu, e também me fazia rir.
Olhei para baixo e vi que seu antebraço estava cheio de cicatrizes. Voltei o meu olhar para seus olhos inquietos e ne lembrei do que Diego havia dito.
Não comentei nada. Não queria estragar o momento com meu amigo. Como era bom ter alguém para chamar de amigo.
Era quatro da manhãN/A
Oi amores. O que acharam do Thomas? Ele é um amor ne? De quem vocês gostam mais: Thomas ou Diego? Eu particularmente adoro os dois.
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Mais que respirar
General FictionHá um ponto em que nos perguntamos porque vivemos, porque tentamos e porque lutamos, e algo dói quando não se consegue encontrar a resposta. É assim que Magnoria se sente, vivendo em profunda agonia rodada por conflitos internos que a deixam mai...