Capítulo 2

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Ela chorou.
Ele chorou também.
Ele fez um pequeno discurso antes de morrer.
Ela chorou e implorou para ele viver.
Ele disse que a amava.
Ela disse que sempre o amaria.
Ele cantou o refrão de uma música.
Ela cantou também.
Ele morreu.
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NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ouvi passos se aproximando do meu quarto e tentei parar de chorar, mas não consegui. Tirei o livro de perto de mim para que as lágrimas não pingassem sobre ele e deixei o choro vir. Minha mãe interrompeu meu momento fossa com uma voz alarmada:

- O que tá acontecendo aqui? Ai meu Deus filha! Porque você está chorando? – ela sentou na minha cama e levantou meu rosto. Eu tentei explicar, mas só saíram ganidos e soluços. Minha mãe, sempre tão delicada, puxou minha mão ( que eu colocava no rosto tentando controlar as lágrimas) com força, o que fez com que eu gritasse "ai!". – Dá pra você explicar o que tá acontecendo aqui?

- Ele mo-morreu.

- Quem morreu criatura?

- O Jean ué! – falei como se fosse óbvio

- E quem é esse? Você tá namorando e seu namorado morreu, é isso? Não acredito que você não me contou desse Jean aí Alice! Agora ele morreu e eu nem conheci meu futuro genro!

Parei de chorar, e embora o momento fosse totalmente triste, comecei a rir. A expressão da minha mãe ao perceber que eu estava namorando escondido, que meu namorado havia morrido sem que antes ela o tivesse conhecido, embora isso não fosse verdade, era muito engraçada.

- Não to te entendendo Alice! Primeiro você chora porque o garoto morreu e agora começa a rir! Pelo visto você não gostava muito dele né?

Funguei uma última vez e olhei séria pra minha mãe.

- Mãe o Jean NÃO é meu namorado. O Jean é o cara desse livro aqui – peguei o livro e balancei na frente dela – e ele morreu! Mãe, a Marlene vai ficar sozinha. Pra sempre!!!

- Então esse choro todo é por causa de um livro? Faz favor né Alice! Eu larguei minha louça toda esparramada na cozinha pra chegar aqui e te encontrar chorando por um livro?

- Você queria o quê? Que Jean fosse meu namorado e que ele tivesse morrido? Nossa mãe, muito obrigada pelas coisas boas que você deseja pra mim! – falei exagerando um pouquinho. Ok, muito.

- Nesse momento eu quero que você levante dessa cama e vá terminar de lavar a louça pra mim. – antes que eu conseguisse reclamar ela acrescentou – depois você volta e fica chorando por causa dessas coisas sem sentido a tarde toda. Mas agora, a louça. – apontando pra cozinha ela saiu do quarto e eu fui logo em seguida.

Não sei se foi vantagem ou prejuízo pra minha mãe o fato de eu ter lavado a louça. Do jeito que eu estava, acabei escrevendo Jean com o detergente umas 3 vezes...

***

- Mas se 5 mais 5 é igual a 10, porque 5 vezes 5 é igual a 25?

Respirei fundo e expliquei pela milésima vez que 5 mais 5 dava 10 porque era uma SOMA e que 5 vezes 5 dava 25 porque era uma MULTIPLICAÇÃO. Matheus falou que agora havia entendido. Esperei ele fazer a conta. Errou. Fez de novo. Acertou! Dei um beijo na enorme bochecha dele, e ele me deu um tapa. Dei um tapa nele e começou assim nossa sessão tapa. Matheus era meu irmãozinho de 7 anos. Cabelo liso igual ao meu, bochechas enormes e um cheiro de neném maravilhoso, era difícil resistir. Eu sempre apertava ele como se fosse meu ursinho de pelúcia. E ele me batia como se eu fosse seu saco de pancadas. Nossa relação era entre tapas e beijos, literalmente. O telefone tocou e minha mãe atendeu na base do andar de cima. Cinco segundos depois ela gritou que era pra mim. Subi as escadas e falei "alô". Tive que tirar o telefone de perto do ouvido ao ouvir a resposta do outro lado da linha.

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