Mensagens Secretas

Capítulo 5

Ontem à noite constatei que minha irmã estava certa em duas coisas. A primeira é de que realmente a saída com o Álvaro não era um encontro de fato. Quer dizer, eu sabia ( e minha mãe confirmou também, quando comentei com ela) que no fundo o Álvaro tinha intenção de que fosse um encontro o jantar de ontem. O grande porém é que ele chegou lá em casa por volta de umas oito da noite, com o cabelo meio bagunçado, uma calça jeans surrada e uma blusa escrito "I ❤ Star Wars". Nada contra Star Wars, nem calça jeans surrada, nem cabelo bagunçado. Mas ele podia pelo menos ter colocado uma blusa mais arrumadinha. Penteado o cabelo.

Minha irmã estava linda. Modéstia a parte, mas eu arrumei ela super bem. Vestido preto, com renda na manga comprida, um perfuminho francês (que de francês não tinha nada, admito) e um rabo de cavalo com alguns fios soltos. Como compartilhávamos do alto grau de miopia (infelizmente) o óculos caiu super bem no look. Deu um estilo mais despojado, não sei exatamente. Álvaro também notou como ela estava bem arrumada. Ficou embasbacado, todo atrapalhado daquele jeito em que a pessoa não sabe muito bem onde apoiar as mãos. E quando ela passou por ele, deu um sorriso discretamente. Já eu me preparei para ouvir muito da minha irmã quando ela chegasse. Só o olhar que ela me lançou, já disse boa parte do seu discurso. "Quero tirar esse vestido para encontro e colocar minha calça jeans e minha blusa!!." Fingi que não percebi e desejei que eles tivessem uma boa noite.

E a segunda coisa que minha irmã realmente estava certa era sobre Luíza. Liguei para o celular dela, e ela não atendeu na primeira vez. Liguei de novo. Ela atendeu no quarto toque.

- Alô? - falou casualmente

- Oi Lu, er, aqui é a Alice - fiz uma pausa para me habituar ao silêncio que não é normal vindo da minha prima - e eu tô te ligando pra falar sobre o que aconteceu... ontem.

Mais silêncio. Continuei:

- Olha, eu realmente não queria ter feito aquilo, eu nunca faço esse tipo de coisa, você sabe!

- Que tipo de coisa?

Há há! Como se ela não soubesse!!

- Gritar com as pessoas desse jeito que eu fiz, e praticamente te expulsar da minha casa, eu....não tinha essa intenção. Não mesmo.

Ela ficou em silêncio. Eu estava quase agonizando do outro lado da linha.

-Lu, você tá aí?

- Tô. - mais uma pausa. Já estou quase me acostumando - Olha Alice, eu nem pensei muito quando mexi nas suas coisas, não foi como se eu quisesse mesmo fazer aquilo.

- Sim, eu sei. O que me deixou realmente nervosa foi você ter mexido no meu celular sem avisar. Mas nada justifica eu dar um show. Me desculpa de verdade.

Ela suspirou, e falou, dessa vez com uma voz mais relaxada:

- Tudo bem, eu tenho que ser menos enxerida mesmo. Foi mal também.

- Tudo bem.

- A propósito, terminei de ler seu livro.

- Terminou? Mas já? - meu tom de voz deve ter mostrado minha surpresa. Ela leu mais rápido do que eu poderia imaginar.

- Claro que sim. Eu percebi que você não tinha ficado muito feliz em emprestar, e resolvi pelo menos te devolver rápido.

Quando comecei a mentir que não me importava em emprestar, ela me cortou e falou que entendia perfeitamente. Em seguida começou a falar sobre o livro. Em poucos segundos eu já tinha a minha antiga prima faladeira de volta. Conversamos por mais uns 10 minutos, até que ela falou que precisava desligar, pois tinha que terminar um trabalho da escola. Nos despedimos e desligamos.