Capítulo 03° - Somos Borboletas

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BOA LEITURA!!!

"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses

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"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."

- Rubem Alves

ººº

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Dezembro, 1959.

Querido Bob.

Antes de as borboletas serem de fato borboletas, com belas asas e pigmentação, não passam de ovos deixados em plantas hospedeiras. No entanto, quando o tempo passa os ovos eclodem e deles saem às lagartas. Costumo pensar que elas são a fase frágil do ciclo da vida, já que são pequenas e mal conhecem o mundo. Dizem que essa fase é a parte mais feia da vida delas, só por serem lagartas, verdes e sem graça. Discordo! Acredito que são a explicação de que se leva tempo para mudança acontecer e atingir a perfeição. Nem tudo já nasce bonito, se torna gradualmente, é uma aprendizagem. Se não fosse assim não seriam os insetos mais belos, não teriam graça, pois, querido, de certa forma, sempre há uma beleza no que é feio!

As lagartas se alimentam da planta hospedeira para acumular energia e construir a pupa, quando ficam dentro daquela bolsa seguem para a penúltima fase. Desenvolvem suas asas e suas cores para serem adultas. Elas são a metamorfose mais impressionante que existe.

E hoje ao chegar em casa percebi que somos lagartas dentro de pupas, pois, nosso relacionamento é como o ciclo de vida das borboletas: os ovos eram as cartas que eu escrevia para você, antes do nosso primeiro encontro. A lagarta é a fase de conhecer um ao outro: alimentando-nos e alimentando o que existe entre nós. A pupa é o nosso namoro: estamos aproveitando a energia, nos desenvolvendo, construindo e transformando para passar para a última fase. É também um teste para descobrir se somos fortes bastantes para ir adiante.

Eu sei, como sei que o céu é azul, que iremos nos tornar um casal de belas borboletas, voaremos por aí, conheceremos novos jardins e juntos atingiremos o fim do ciclo da vida.

A fita que escolho para essa carta é branca, para representar vida que iremos construir.

Com amor, Margot!

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Estou cumprindo com minha parte do acordo há duas semanas, embora tenha momentos que penso em desistir. Faço companhia para o velho Robert e lido com o seu extremo mau-humor quase o tempo todo. Na anatomia de Sr. Harrison: corpo é cem por cento flácidos, metade dessa porcentagem é inativa e a outra metade é dividida por vinte e cinco por cento de mau-humor e vinte e cinco de reclamação. Confesso que também não sou simpática, as suas ignorâncias são respondidas com mais ignorância, é desta forma que estamos sobrevivendo um ao outro. Têm instantes que penso nos motivos de Peter - o neto adotivo anterior - mesmo que ninguém me fale imagino que ele não conseguiu enfrentar o tsunami ranzinza que é o velho. Os momentos que não estamos discutindo são quando estou lendo as cartas de Margot, ela tem certa influência sobre o humor dele. Mantenho minha boca ocupada e ele a sua própria mente. Assim não falamos grosseria um para o outro. Com as cartas fica bem-humorado: sorridente e piadista. Muitas das vezes leio para mantê-lo tolerável, outras por curiosidade e, um pouco, apenas um pouco, as leio porque gosto. Claro que não vou admitir em voz alta. Jamais! Mas são meus momentos favoritos do dia, fica logo abaixo das horas que vou para casa, é claro!

Água para Borboletas (Nova Versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora