Parte 2

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A chegada exuberante de Victoria foi seguida por toda família Belikov. As outras duas irmãs de Dimitri, Karolina e Sonya, juntaram-se a Victoria abraçando a mim e a ele. A mãe deles veio logo atrás. O russo soava rápido e furioso. Normalmente, uma reunião como esta, na porta de casa, me faria rolar os olhos, mas eu terminei me rasgando em lágrimas. Aquilo tudo era demais para Dimitri. Era demais para todos nós. Eu acho que nenhum de nós esperava compartilhar um momento como este.
Depois disto, a mãe de Dimitri, Olena, tentava se recuperar, sorrindo, enquanto enxugava as lágrimas dos olhos. - Entrem, entrem - ela falou, lembrando que eu não entendia russo muito bem. - Vamos sentar e conversar.
Entre mais sorrisos e lágrimas, nós entramos na casa, passando para a acolhedora sala de estar. Ela permanecia a mesma que eu vi em minha última visita, rodeada por painéis de madeira e prateleiras de livros encadernados em couro e letras douradas. Lá encontramos mais um membro da família. Paul, o filho de Karolina, olhava para o tio com fascínio. Ele ainda era muito pequeno quando Dimitri saiu pelo mundo, e tudo que ele sabia sobre o tio vinha das fantásticas histórias contadas. Próximo a Paul, havia um bebê dormindo em um berço, enrolado em um cobertor. Era o bebê de Sonya, eu associei. Ela estava grávida quando eu estive aqui, no último verão.
Eu fiquei o tempo inteiro perto de Dimitri, mas neste momento, eu soube que deveria me afastar um pouco. Ele se sentou no sofá e, rapidamente, Karolina e Sonya sentaram, uma de cada lado, o cercando, como se tivessem medo de que ele fosse embora logo. Victoria, parecendo irritada por ter perdido um assento, sentou-se no chão, à frente dele, encostando a cabeça em seus joelhos. Ela tinha dezessete anos, apenas um ano a menos que eu, mas vendo-a olhar para o irmão com tanta adoração, tive a impressão que ela era muito mais jovem que isso. Todos os irmãos tinham cabelos e olhos castanhos, formando um belo retrato ali, sentados juntos.
Olena finalmente se aproximou, parecendo um pouco nervosa, os observou, puxou uma cadeira e sentou-se em frente à Dimitri, segurando as mãos no colo, de forma apreensiva.
- Isto é um milagre - ela falou em inglês, com um forte sotaque russo.

- Não posso acreditar nisso. Quando eu recebi a notícia, pensei que fosse um engano ou uma mentira.
Ela deu um suspiro feliz. -Mas aqui está você. Vivo. O mesmo.

- O mesmo -Dimitri confirmou.

- Então, foi a primeira possibilidade - Karolina fez uma pausa, com o cenho franzido carregando em suas belas feições. Ela parecia escolher cuidadosamente as palavras. - Então, foi tudo um engano? Você não era realmente... verdadeiramente um Strigoi?

Esta última palavra pairou no ar por um momento, fazendo uma brisa fria soprar naquela noite de verão. Minha respiração ficou suspensa, durante o tempo de uma batida de coração. De repente, meus pensamentos foram para outro lugar, não muito longe dali, eu estava presa em uma casa diferente, com um Dimitri muito diferente. Sua pele era branca como giz e seus olhos tinham anéis vermelhos em volta da íris. Sua força e velocidade superavam e muito a que ele tinha agora, e ele usavas essa habilidades para caçar vitimas e beber o seu sangue. Ele era terrível – e quase me matou também.
Poucos segundos depois, comecei a respirar novamente. Aquele terrível Dimitri tinha ido embora. E este – quente, amoroso, vivo, estava diante de mim agora. No entanto, antes de responder, os olhos escuros dele encontram os meus. Naquele momento, eu soube que ele havia pensado as mesmas coisas que eu. O passado era uma coisa terrível, difícil de ser esquecido.

- Não - ele disse. - Eu fui um Strigoi. Eu fui um deles. Eu fiz... coisas terríveis.

As suas palavras eram leves, mas seu tom era carregado tormento. As expressões felizes dos membros da sua família se tornaram sóbrias. - Eu estava perdido. Não havia esperança para mim. Exceto... por Rose. Ela acreditou em mim e nunca desistiu.

-Como eu previ.

Uma voz ecoou pela sala, e todos nós olhamos para a mulher que apareceu de repente na porta. Ela era bem mais baixa do que eu, mas sua personalidade era tão grande que podia encher todo ambiente. Ela era Yeva, a avó de Dimitri. Pequena e frágil, com cabelos totalmente brancos, era considerada por todos como uma espécie de uma sábia ou bruxa. Tentei pensar em uma palavra diferente para definir Yeva, mas somente “bruxa” me vinha à mente.
- Não, você não previu isso - eu falei, sem conseguir me conter. - Tudo que você disse foi que eu precisava ir embora daqui, para fazer ‘uma outra coisa’.

Homecoming (Voltando Para Casa)Onde histórias criam vida. Descubra agora