Entre o coração e o dever continuação

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Pode-se saber muitas coisas sobre as pessoas pelo que elas gostam de ler — disse ele, levantando os olhos de um livro.

É mesmo ? E o que você descobriu sobre mim ?

Que é mais prática do que romântica — respondeu ele. — Você tem todos estes livros de ciências e história e quase nenhum de ficção.

A maioria é de minha mãe — expliquei rapidamente. — Tenho outros no meu quarto. Não queria que pensasse que eu era uma espécie de robô sem sentimentos, principalmente naquele momento em que meu coração gritava seu nome entre uma batida e outra. Pus as velas num castiçal de latão e coloquei-o sobre a mesa. Trouxe da cozinha duas taças para vinho e uma garrafa de soda do tamanho família.

Vou pegar os talheres — ofereceu-se Chris — se me disser onde estão.

Na primeira gaveta à esquerda — disse-lhe, enquanto me afastava para admirar o quanto à mesa tinha ficado bonita. Depois que trouxemos nossos pratos para salada e para carne, Chris afastou minha cadeira para que me sentasse. Não tive dúvidas de que ele fora educado com boas maneiras, pois esperou que eu engolisse o primeiro pedaço de carne antes de tocar na comida. Se meu copo estivesse pela metade, Chris apressava-se a enchê-lo. Toda essa atenção me deixava nervosa, mas, por outro lado, era muito romântico também. Contudo, fora diferente da noite anterior, quando conversamos horas dizendo quase tudo que nos vinha à cabeça. Naquele momento estávamos mais silenciosos. Chris exibia uma expressão doce e delicada. Quando olhava para mim e sorria, fazia com que me sentisse bonita, inteligente, querida e segura. Era um sentimento maravilhoso.

Estava delicioso — elogiou Chris, comendo o que restava de seu segundo prato. Do modo com que ele comeu a carne parecia que eu acabara de lhe servir uma ceia de Natal.

É apenas um bolo de carne — disse eu, pensando que era provável que sua família comesse coisas diferentes, como pratos sofisticados de que nunca ouvira falar.

Gostaria de copiar a receita. Gosto muito de cozinhar, mas a receita preterida de meus pais é "refeições para viagem por telefone" — contou ele. Fiquei tão surpresa que quase comecei a rir. Depois do jantar, lavamos os pratos e peguei o livro de física. Porém, quando abri no capítulo que tentara rever naquela manhã, as palavras pareciam estar impressas numa língua estrangeira.

Não me lembro de ter lido isto — comentei, tentando não entrar em pânico, pois o Sr. Tayerle ia aplicar uma prova sobre toda a matéria de astronomia na terça-feira. Chris que ficara desenhando no meu caderno ele traçara o perfil do meu rosto levantou os olhos quando eu disse isso.

Tenho de reler toda a matéria — falei, voltando as páginas freneticamente calculando que levaria pelo menos duas horas para fazer isso.

Quero dizer, você consegue se lembrar quando Copérnico publicou a teoria do universo ou quantos quilômetros há entre a Terra e a lua ?

Foi em 1543 — respondeu Chris, voltando a desenhar.

E a distância média entre a Terra e a lua é de trezentos e oitenta e quatro mil e quatrocentos quilômetros. Há cento e quarenta e nove milhões e seiscentos mil quilômetros em média entre a Terra e o sol.

Você deve ter uma memória fotográfica — disse eu, sentindo-me mais insegura diante de sua confiança e indiferença.

Acho que sim — respondeu Chris, que continuava seu esboço, sombreando os contornos da parte pronunciada da maça do rosto e desenhando sobrancelhas pretas.

Meu primeiro namoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora