Lua na piscina

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Do lado de fora havia uma brisa e a temperatura era alta, propicia para short e camiseta parecia mais uma noite de final de verão do que propriamente de meados de outono. Mas é como minha mãe sempre diz: Este é o Arizona, com suas duas estações: quente e ainda mais quente. Ás vezes, tinha vontade de morar em um lugar com um clima variável que tivesse folhas coloridas e brilhantes e as paisagens cobertas de neve que nos ensinavam a desenhar na segunda série. Mas naquela noite me sentia feliz por estar onde estava. Sentia-me feliz, sentada no canteiro de grama próximo ao nosso apartamento, inspirando o cheiro de eucaliptos e de terra fresca e observando o vento que agitava os galhos das palmeiras altas e finas. Esperava por Chris. Ás onze em ponto, ele surgiu na esquina de nossa rua, pedalando uma bicicleta. Trazia um cobertor e uma cesta de vime de piquenique amarrada no guidão.

__ Minha mãe arrumou essas coisas para nós. Cocas e bolo de chocolate – disse ele, desmontando devagar. – Sabe, para ajudar a nos manter acordados – continuou, enquanto desamarrava a cesta da bicicleta e passava-a para mim.

Fiquei com certa inveja da vida que os garotos levam você pode sair andando pela porta da frente, ás onze horas da noite, com a permissão de sua mãe e com uma cesta de guloseimas preparada por ela, em vez de ter de encher sua cama com roupas para dar a impressão de que há um corpo dormindo lá como eu fizera e sair andando pela ponta dos pés. Como receava que Chris pensasse que eu era uma criança sem permissão para sair, não lhe contei. Mudando de assunto, perguntei:

__ Por que você não veio de carro ? Na verdade, estava curiosa em saber por que um garoto de família tinha dinheiro e não possuía seu próprio carro.

__ Você promete não me achar idiota ? – perguntou ele.

__ Prometo – garanti, sem a mínima idéia do que ele ia me dizer.

__ Simplesmente acho que quanto menos poluirmos o meio ambiente, melhor – disse ele e acrescentou logo em seguida – Não sou nenhum fanático ou coisa assim. Adoro dirigir o carro do meu irmão e, se eu entrar em Stanford no próximo ano, ganharei um só meu. Mas se não preciso de um carro agora, por que deveria comprar ? – Argumentou ele.

__ Acho legal – falei, com sinceridade. Ele parecia constrangido e olhou para cima em direção ao nosso apartamento.

__ Você mora em um lugar agradável.

__ Obrigada. – agradeci. Mas percebi que ele estava sendo agradável. O conjunto de apartamentos Palms não era do tipo luxuoso. Era constituído de uma série de edifícios de dois andares com sacadas, um tanto mal conservados, construídos fazia quarenta anos tão antigo como qualquer outra coisa de Phoenix, até que novos adeptos do progresso chegassem e decidissem pô-lo abaixo. Por outro lado, a família de Chris morava num bairro cheio de casas novas e grandes mansões estilo Tudor e Chatêau Francês. Eu sabia disto porque o ônibus que nos levava para a natação já o havia deixado lá depois de alguns torneios que terminaram tarde. Levei-o até o pequeno jardim lateral. Escondemos sua bicicleta entre as espirradeiras, tiramos uma escada velha que jazia no gramado e a encostamos na parede do prédio.

__ Tome cuidado com as telhas de cerâmica. – sussurrei quando comecei a subir devagar. Havia algumas soltas na última vez que eu subi lá.

__ Você já subiu aqui antes ? – perguntou Chris, que me seguia com o cobertor em volta dos ombros e a cesta dependurada no braço. – E eu que pensava estar sendo tão original !

__ Bem, nunca estive aqui com ninguém antes – disse eu. – É um bom lugar para meditar. Você pode ver grande parte da vizinhança, embora não a cidade toda, como no Squaw Peak.

Meu primeiro namoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora