Hora de dar um tempo continuação

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Quando cheguei á piscina naquela tarde, tive o segundo choque terrível: devido ao meu mau desempenho do dia anterior, o treinador August me colocara na reserva, substituindo-me por Leila. Fiquei em completo silêncio, aturdida no trajeto de ônibus até o local da competição era a primeira vez em mais de um ano que eu não iria participar de uma competição. Chris tentou de tudo para me consolar, mas ele era a última pessoa que eu queria ouvir naquele momento.

__ O treinador está apenas lhe dando uma lição Leila não vai nadar tão bem quanto você, e você ainda vai participar da competição regional.

Mas nem bem terminara de falar e ele já estava tentando me persuadir a marcar um encontro á meia-noite. Qualquer pessoa que prestasse atenção em mim perceberia que minha vida estava um caos, mas Chris, o garoto que dizia me amar não tinha consciência disso.

__ De jeito nenhum e em tempo algum ! – afirmei furiosa – Clube de Astronomia nunca mais !

Quando cheguei em casa, o terceiro grande choque estava esperando por mim na caixa de correio. Era um envelope endereçado á Srta. Ana Wyse, com a letra de meu pai. Tive receio de até mesmo dizer a minha mãe, que estava trocando de uniforme em sua meia hora de folga entre os dois empregos. Ela havia lhe enviado um bilhete depois que eu lhe mostrara o formulário para bolsa de estudos. Hesitei por um momento antes de abrir o envelope, ficando dividida entre a vontade de saber qual seria a resposta do meu pai e o desejo de não receber mais noticias ruins naquele dia.

Por fim, um tanto nervosa, rasguei o envelope e li as primeiras poucas linhas rapidamente. Como não vi a primeira frase Nem pense nisso ! no primeiro parágrafo, comecei a me sentir mais animada e mais forte á medida que continuava a ler. Querida Ana , começava a carta com a mesma letra apertada que ele costumava assinar os cartões de aniversario de todo ano. Sua mãe diz que você pretende ir a faculdade e, é óbvio quero ajudar no máximo que puder mas as coisas não tem sido fáceis para mim nesses últimos anos. Você sabia que mudei de emprego cinco vezes, tentando encontrar alguma coisa que gostasse? Quando li a última linha, pensei no fato de minha mãe ter de trabalhar em dois empregos para conseguir sobreviver. Tenho certeza de que ele nunca perguntou se ela gostava do que fazia.

__ Coitado ! – murmurei, sarcástica, não conseguindo me conter.

__ Você está falando comigo ? – gritou minha mãe, do seu quarto enquanto dava uma última escovada nos cabelos.

__ Não – respondi apenas comigo mesma. quero dizer com tudo isso , continuei a ler, que não posso contribuir com muita coisa para seus estudos, para falar a verdade. Mas para ajudar no preenchimento dos formulários para as escolas públicas... (esta parte ele sublinhou) gostaria de lhe dar um presente de formatura antecipado: uma maquina de escrever, á sua escolha (de acordo com as possibilidades, é claro). A última linha era tão horrível que chegava a ser cômico quero dizer: em que século esse homem estava vivendo, afinal de contas ? Tenho usado um computador desde a época em que aprendi datilografia. Amassei sua carta, fui até a cozinha e a joguei no lixo.

__ Vejo que você encontrou a carta de seu pai – disse minha mãe.

__ Você a leu ? – perguntei.

__ Não era preciso – respondeu ela, aproximando-se de mim para me abraçar.

__ Conheço muito bem seu pai para falar que ele não vai mudar nunca. - Pensei que seria melhor se nós ficássemos esperando minha mãe estava tão solidária que me deu vontade de chorar.

__ Anime-se, Ana ! – disse ela, ao ver meus olhos cheios de lágrimas. – Daremos um jeito.

Os melhores anos de sua vida ainda estão por vir. Eu sabia que Daremos um jeito significava que tinha de me inscrever numa escola pública. Não podíamos arcar com as despesas da faculdade e muito menos com alimentação e alojamento numa escola particular. Tinha receio de que arrumasse um terceiro emprego se lhe dissesse que era isso que eu queria. Enxuguei as lágrimas com as costas da mão, fui com minha mãe até a entrada de carros e fiquei olhando-a ir embora pela rua abaixo.

Meu primeiro namoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora