A decepção

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O inverno nunca havia chegado mais cedo, todas as folhas das árvores estavam no chão, mesmo faltando um mês para o ano novo a cidade já estava coberta de branco. O gelo se acumulava nas janelas, várias crianças construíam seus bonecos de neve e praticavam as típicas "guerrinhas" geladas. Pra mim o inverno é diferente, ele me torna livre, me faz ser em alguns momentos quem eu realmente sou.
Meu nome é Sarah, tenho 16 anos, moro em uma pequena cidade da Inglaterra, terminei há poucos dias o segundo ano do ensino médio. Minhas notas são altas, eu amo livros e pelo que os "populares" dizem isso me torna antipopular. Mas não me importo muito com o que acontece na escola, coloquei na minha cabeça que se eu sentar bem no fundo, não chamar a atenção ou fazer barulho fica tudo bem.
Da janela do meu quarto se vê um lindo lago, um lago que eu gosto de observar todos os dias quando acordo e todas as noites antes de eu me deitar, as vezes fico horas vendo os raios de sol refletirem na água ou cada gota de chuva mergulhar em uma viajem sem volta dentro dele. É difícil pensar que uma coisa tão maravilhosa como esse lago possa ter se tornado meu pior pesadelo.
No dia 7 de dezembro de 2009 foi o dia em que tudo na minha vida mudou, eu tinha um sonho, na verdade ainda tenho, quero um dia me tornar uma grande patinadora, mas depois desse dia ficou mais difícil acreditar no meu sonho. Minha mãe e eu íamos todos os dias treinar no lago, ela me fez apaixonada pelos patins, e foi nesse dia, quando eu tinha 12 anos que meu amor pelos patins se ofuscou. Era um dia normal de dezembro, eu e minha mãe fomos ao lago, ela me ensinava novos passos, meu pai não se ariscava,ficava só nos olhando e dando gritinhos quando eu finalmente aprendia algo novo. Não havia mais ninguém a não ser nós duas no gelo, o dia não estava tão frio como de costume e o sol brilhava, até de mais. Mamãe pediu para que eu e papai fossemos comprar chocolates quentes em uma loja bem próxima ao lago. Ela ficaria patinando, agora sem se preocupar com as minhas quedas. A fila da loja estava imensa, como nunca havia estado antes, demoramos por volta de 20 minutos para voltarmos. Quando voltamos ao lago o sorriso de mamãe brilhava, ela era a pessoa mais feliz do mundo patinando. Até que o grande e brilhoso sorriso se fechou e um tom de grande preocupação tomou seu rosto. Eu não sabia o que estava acontecendo, papai deixou os chocolates quentes caírem no chão ,me mandou ficar parada onde eu estava e saiu correndo até a borda do lago, dava pra perceber que ele não sabia o que fazer. Mamãe não patinava mais, ela estava imóvel, até que finalmente começou a arrastar os patins delicadamente pelo gelo, papai não parava de gritar "Devagar meu amor" e "Calma, vai ficar tudo bem" mamãe não respondia, ela estava pálida de medo, nunca há vi tão tensa. Alguns segundos se passaram o silêncio pairava, nem um de nós falava e de repente o gelo falou por nós e como eu via cada gota de chuva mergulhar em uma viajem sem volta dentro do lago, mamãe também viajou pra dentro dele e nunca mais voltou.

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