3. O desenrolar da história de Emma e Lucy

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Acordei  já era dia, conseguia  perceber pelo sol que entrava pela janela, uma vez que a persiana estava  corrida, não retirando nada da luminosidade  no local, fazendo  os meus olhos doerem, pelo que suspirei,  gemendo  de dor  de pescoço e coluna, mal me conseguindo  mexer, mas muito provavelmente seria por culpa do impacto do acidente.

Queria  ir para casa,  mas não sabia o que fazer, pelo  que toquei  na campainha, vendo uma enfermeira a entrar no quarto, encarando-me, o que eu achei estranho, pois eu apenas tinha desmaiado,  não  morrido, graças  a aquele homem que eu não  conhecia  ainda, e provavelmente  nunca iria conhecer.

A minha irmã  estaria preocupadissima comigo, porque não era habito meu,  passar tantas horas sem aparecer em casa, nem noites,  sinceramente.
Procurei o meu telemóvel  por todo o lado, vendo a enfermeira a aproximar-se de mim, mas eu tinha coisas  mais importantes para tratar.

- Boa tarde, como está? - parei de procurar o telemóvel,  porque se mostrava uma busca infrutífera, assim, voltei-me para ela, não  sabendo o que dizer,  pois parecia  tudo tao estranho  na minha cabeça. 
Estranho de mais.

- Foi um acidente e tanto, eu vou chamar o médico,  poderá  falar com ele, se não puder falar comigo! - eu queria dizer  que parasse, mas não  me sentia capaz de falar nada.
Apenas  uns minutos depois, a porta voltou a abrir e entrou um médico, mal olhando para mim, o que era realmente  estranho.

Eu estava num quarto de hospital, que não me parecia de todo público,  o que me soava um incómodo,  pois eu não  tinha dinheiro para nada daquilo! Eles só  poderiam se ter enganado!

- Boa tarde  Lucy, como  se sente? - olhei para o médico,  querendo gritar que estava  no local errado, que deveria estar em casa, com  a minha  irmã  e a minha avó, e que tudo  aquilo só  poderia ser mentira.

- o que estou a fazer aqui? - deveria  estar num hospital,  onde existissem  quatro pacientes  por quarto, cheios  de dores  e a chamarem  constantemente pelos médicos, não deixando  ninguém deacansar. Mas ali estava  eu, num quarto privado de hospital, tentando  entender  tudo  o que  estava a acontecer.

- Bateu com a cabeça  fortemente no embate, mas está  tudo  bem, o seu cérebro  não  teve  qualquer mazela e daqui a mais um dia de observação, poderá  abandonar o hospital. Poderá  sentir  tonturas,  nauseas, dores de cabeça  fortes durante as primeiras horas, mas se os sintomas persistirem, teremos que efectuar novos exames para tentar entender  o que se passa. - eu apenas acenei  afirmativamente, sem saber  o que dizer, pelo que recostei a cabeça  na almofada, suspirando cansada, pois existia algo que estava  bloqueado na minha mente e não  conseguia  saber a 100% o que seria.

- Tenho que ligar à  minha avó,  ela deve estar  preocupada! Mas não  tenho  telemóvel,  será que podem fazer  esse favor? - olhei para o médico,  sentindo um pouco de tonturas,  mas isso provavelmente, passaria, pois  eu já  não  me conseguia  lembrar da última  vez, em que eu tinha feito  uma refeição.

- Já  ligamos à sua familia. Daqui a pouco, será  servido uma refeição e depois poderá  descansar. Se necessitar de alguma coisa, toque à  campainha, há  uma enfermeira de serviço  a toda a hora. Disponha! - Eu deveria ter  chegado ao paraíso!

Queria poder abraçar o pequeno corpo quente de Emma e sentir que tudo estava bem, mas também queria descansar um pouco de toda aquela correria, o que eu estava a desfrutar um pouco, mas já sentia saudades da minha irmã pequena, ela era uma luz de eu adorava olhar.

A enfermeira trouxe um tabuleiro cheio de comida e eu não consegui evitar olhar para ele babando, pois a minha fome era imensa,  já à um dia que eu não comia e o meu estômago andava às voltas, matando-me completamente.

- É a hora do jantar Lucy, espero que esteja do seu agrado. - acenei com a cabeça agarrando o tabuleiro com rapidez, pois estava esfomeada, podia não ser a melhor comida do mundo, mas com certeza, já tinha comido muito pior para que não faltasse nada para a Emma.

Eu senti desde o inicio um enorme senso de responsabilidade para com ela e sabia, que apesar de tudo o que aconteceu, ela não se lembrava de nada e permanecia aquela criança pura e feliz que eu sempre tinha criado.

Sim, criado, porque antes de morrerem, os meus pais já nos abandonavam às duas em casa, durante horas, como se fossemos algo descartável e nada importante, a não ser apenas o seu relacionamento. Se eu um dia tivesse algo com um homem e tivesse um bebé, eu sabia que iria sem duvida amá-lo como eu já amava a pequena Emma, com todo o meu coração.

- Olá Lucy, estava muito preocupada contigo! - eu apanhei o maior susto da minha vida, quando vi a minha avó e a Emma a entrarem ali, vendo a preocupação no olhar de ambas. Algo que eu nunca quis provocar, mas infelizmente o destino prega-nos destas partidas, em que nada que façamos, ou planeamos, numca saí como o queremos.

- Olá meu amor! Sinto muito, foi um acidente,  agora vêm cá dar um beijo de melhoras e um xiu apertado! - ela sorriu quando me viu bem, saltanto para a cama, pelo que a abracei com rapidez, puxando a nossa avó para o abraço,  pois sem dúvida, estávamos todos muito cansados e as tonturas felizmente já estavam a passar.

- Estou tão feliz que estejas bem, Lucy, eu não  me conseguiria perdoar se algo te acontecesse! Por isso, eu estive a pensar e uma vez, que tu te andas a matar para criar a tua irmã, eu cheguei à conclusão, que quero que tu, vás viver para minha casa! Tenho 66 anos, ainda te posso ajudar muito, além disso, uma casa, é apenas o local onde a nossa familia se reúne, por favor Lucy, venham viver comigo, vocês são a unica familia que tenho e não me perdoarei se algo te acontecer e eu, não poder ajudar! - eu não queria sair de casa, mas ela estava correta, uma casa é apenas o sítio onde a famíliase junta, mas aquela casa, nunca tinha possuido qualquer tipo de valor para mim, pelo que talvez, fosse melhor, mudar-me e dar outro tipo de estabilidade à minha irmã, porque ambas andávamos num limbo, que não sabia de que forma, conseguiria aguentar mais.

- Sinto muito avó, eu não queria preocupar ninguém, mas para ser Sincera, estou farta de me sentir só naquela casa, eu aceito mudar-me, é a única familia que temos nesta vida e se eu não tivesse tão focada, eu perceberia o quanto a fiz sofrer por escolher aquele tipo de vida. Sinto muito, mas já ando à procura de trabalho. Prometo, não vou mais ser explorada em horas que não são pagas, nem compensadas. - beijei o seu rosto e suspirei calmamente, sentindo o calor da Emma encostada a mim, deixando-me tranquila, pois ela sem dúvida, mal tinha dormido, ela tinha medo que eu tivesse fugido, tal e qual como os nossos pais. - Sinto muito pequena, mas eu nunca te abandonarei, eu te amo minha princesa linda! - beijei a sua bochecha enquanto ela descansava calmamente, agarrando-se ao meu braço com força, sentindo as suas pequenas lágrimas a escorrer.

Eu nunca iria comseguir ultrapassar aquele trauma dela da rejeição e abandono, por muito que eu tivesse lutado para esconder isso dela, apesar de todas as crianças quererem o mimo dos pais, Emma, sempre soube, que só poderia contar consigo mesmo e comigo, que era a "mãgande"dela.

As lágrimas também escorriam pela minha face, vendo tudo o que se passava na pequena face dela, pelo que passei pequenas festinhas pelo seu cabelo e sussurrava palavras de carinho para ela, mostrando que ela não estava sozinha, vendo-a acalmar-se rapidamente, agarrando uma mexa de cabelo minha, como sempre fazia, quando ferrava no sono.

- Eu gostava de saber fazer isso, ela não dormiu a noite toda. Eu segurei a mão dela e puxei-a para a cama ao meu lado,  calmamente, olhando para Emma e logo depois para a nossa unica parente neste inferno de mundo e ponderei se o que eu tinha a contar, era boa ideia ou não, mas bem, eu iria tentar, e se ela se acreditasse em mim, aí, poderia sempre contar com ela, e se não...

- Avó, está na hora de te contar uma história! - suspirei e continuei as festinhas nos cabelinhos loiros de Emma, que cheirava tão bem quanto um bebé.

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Já não sei à quantos anos não venho a esta história e nada do que diga vai fazer diferença, mas as coisas não têm sido mada fáceis!

Se alguém estiver desse lado, espero que tenham gostado.

Beijinhos

Chefe Sem LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora