Eu sabia que talvez fosse algo muito difícil de se contar a uma pessoa da sua idade, mas tinha que ser sincera com ela, por muito que me custasse, pois isso tinha sido o enorme indicativo para nos afastarmos dela, apesar de não possuir qualquer tipo de culpa no cartório.
- Avó, quando eu nasci, os meus pais arranjaram uma ama para tomar conta de mim. Eles andavam sempre a trabalhar e não tinham tempo para mim. Eu ficava longas noites sozinha em casa e eles não se incomodavam de ficar comigo quando tinha algum pesadelo, eles nunca foram o modelo a seguir, pelo que quando a Emma nasceu, tudo piorou. Eu já andava na universidade e eles nunca estavam por casa, pelo que tinha que tomar conta de tudo. Eu tinha que estudar e ser mãe ao mesmo tempo. Eu tinha que correr todos os dias para apanhar a minha pequena a horas todos os dias na creche, tinha que a alimentar, estudar e tomar conta da casa, se bem que muitas vezes, eles nunca apareciam durante meses. Eu e ela estivemos presos uma à outra durante muito tempo. Quando o avião onde os nossos pais caíram, dias antes, a minha mãe disse que só tinha vontade de nos abandonar como se faz a um animal imprestável que não serve para nada mais, do que atrapalhar no caminho, pelo que a pequena começou a ter pesadelos e desde aí, tem medo do abandono. Nós estivemos sempre as duas juntas, ela é minha filha, mais do que ela pensa e muitas das vezes, nós as duas esquecemo-nos disso. Ela já me chama de mamã em vez de lucy e eu trato-a pela minha pequena. Eu sei que é muito para reter avó, sei que provavelmente a minha mãe nunca foi assim, mas... - olhei para ela que chorava desalmada, pelo que parei, olhando-a com pena, porque acho que nenhuma mãe deveria saber aquilo da sua filha. Ninguém deveria passar por isso na vida. - Sinto muito avó, eu não te quero sobrecarregar, eu apenas...
Os seus braços vieram para o meu redor e eu amparei-a da melhor forma possível, sentindo as minhas próprias lágrimas a correr, mas lutei contra elas, porque este momento não era meu. Este era o tempo de falar na pequena Emma e no que ela tinha passado.
- Eu sinto muito! Eu sabia que a vossa mãe era egoísta, mas eu sei também que o vosso pai vos amava muito. Ele sempre quis estar lá para vocês, mas o trabalho dele era muito exigente e por vezes ele não sabia para onde se virar. Eu sinto tanto! Se eu soubesse, eu tinha-vos acolhido de braços abertos, eu apenas queria que tivesse sido mais cedo, para criarmos essa menina, com todo o amor do mundo! - ela sorriu-me e eu, limpei as suas lágrimas calmamente, olhando para ela, vendo a suavidade nos seus traços, mostrando que já poderíamos ter recorrido a ela à mais tempo.
- Está tudo bem avó, eu adoro a Emma, somos apenas dependentes uma da outra, eu não me dou sem ela, e ela, o mesmo comigo. - eu sabia que era uma dependência saudável, eu tinha adotado a pequena na minha mente e nunca mais a iria largar, pois desejava que ela alcançasse tudo o que ela mais sonhasse!
- Eu não vou querer retirar o teu papel da vida dela, apenas quero que vocês façam parte da minha vida, que me deixem apoiar-vos e ajudar-vos a alcançarem os vossos sonhos. Acho que ambas sabemos que tu, não estás bem naquele teu trabalho. Tu és explorada, trabalhas de mais e és muito mal paga minha filha, tu tens qualificações, tira uns dias. Ambas sabemos que à dois anos que não descansas um segundo! Tens estado com o peso do mundo nos ombros e isso não te está a fazer bem! - eu apenas suspirei. Há anos que estava a tentar sair dali, mas nunca tinha conseguido encontrar colocação, o que era horrível! Eu era obrigada a trabalhar todas aquelas horas e mal conseguíamos viver! Eu não conseguia dar as coisas que as crianças da idade da Emma queriam, se bem que ela não pedia nada, mas isso era também, porque ela era superprotegida, ela era o meu mundo e pouco conseguia sair com ela, o que me revoltava um pouco, mas não havia nada que pudesse fazer. Nós precisávamos do dinheiro.
- Mamã, quando vais para casa? - eu olhei para a pequena, sentando-a no meu colo, vendo os seus olhinhos com sono, o que sempre me derretia.
- Eu vou para casa amanhã, hoje vais ficar com a avó, eu vou ficar bem. - ela fez carinha triste mas aceitou, sentando-se no meu colo, olhando para a nossa avó, apercebendo-se da sua cara de choro.
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Chefe Sem Limites
Fiksi PenggemarEle era a pessoa mais arrogante e galã deste mundo e o que mais me irritava, mas infelizmente teria que dobrar a minha vontade, pois era meu chefe, e eu, sua empregada. Lucy Torn