Capítulo 4

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Mikhail estreitou o esbelto corpo de Raven entre seus braços. Inclinou seu corpo para protegê-la. Estava profundamente adormecida, relaxada, mas seu rosto estava muito pálido. Tinha olheiras profundas. Sussurrou-lhe brandamente. - Sinto-o muito, pequena. Sinto haver colocado você nisto. E como animal que sou, sei que faria novamente. Não morrerá, não posso permiti-lo. - Ele abriu um pequeno, mas profundo corte sobre a veia da mão e encheu uma taça com o espesso líquido vermelho. - Ouça-me, Raven. Precisa beber isto. Obedeça-me, sem demora. - Pressionou a taça contra os lábios descoloridos e verteu um pouco de sangue em sua boca. Seu sangue era extremamente curativo e lhe daria vida. Raven engasgou, tentou impedir que o líquido descesse por sua garganta e afastou a cabeça como havia feito antes. - Me obedeça de uma vez. Beberá tudo. - A ordem foi muito mais forte esta vez. Ela odiava o sabor de sangue e seu corpo se trabalhava em excesso para rechaçar, mas prevaleceria sua vontade, como sempre. - Mikhail! - Ele ouviu o desamparado grito em sua mente. - Deve beber, Raven. Continue confiando em mim. Ela relaxou e voltou a afundar-se no sono profundo, obedecendo a contra gosto. Mikhail havia captado parte de seus confusos pensamentos, o torvelinho das emoções juntamente com o medo. Raven acreditava estar em meio a um pesadelo. A cor voltou para seu rosto. Satisfeito, deitou-se junto a ela. Ela lembraria o intercâmbio de sangue como parte do pesadelo. Apoiou um cotovelo na cama, para poder estudar tranqüilamente seu rosto, sua impecável pele e suas delicadas maçãs do rosto. Não era só sua beleza, sabia. Era seu interior, a compaixão e a luz que havia dentro dela, que a permitiam aceitar sua natureza selvagem e indomável. Jamais passara por sua imaginação, que pudesse acontecer este milagre. No mesmo momento que havia se decidido entregar ao sol do amanhecer, havia sido enviado um anjo. Um lento sorriso curvou seus lábios. Seu anjo se negava a algo que lhe pedia. Respondia muito melhor, quando ele pedia sem ordens. Estava acostumado à obediência, daqueles que estavam sob seu amparo, há muito tempo. Tinha que recordar que ela era mortal, educada numa época muito diferente e com princípios e valores muito distintos aos seus. Os homens dos Cárpatos já levavam impresso em seus pensamentos, muito antes do nascimento, o dever de proteger às mulheres e as crianças. Com tão poucas mulheres de sua espécie e sem meninas que tivessem nascido nos últimos tempos, era extremamente importante proteger todas e cada uma das mulheres que tinham. Raven era mortal, não era dos seus. Não pertencia a seu mundo. Quando partisse, levaria as emoções e as cores que ele era capaz de sentir e ver junto a ela. Levaria o ar que ele respirava. Fechou os olhos ante a idéia. Onde poderia encontrar força suficiente para deixá-la partir? Tinha muitas coisas que fazer antes do amanhecer. Queria ficar com ela, abraçá-la, convencê-la de que não o deixasse, dizer o que sentia em seu coração, contar o que ela significava para ele. Dizer que ela não podia abandoná-lo, que ele não poderia viver sem ela. Não viveria. Suspirou profundamente e se levantou. Precisava repor-se, alimentar-se e voltar ao trabalho. Voltou a pulverizar as ervas curadoras e a enviou a um sono mais profundo. Foi muito meticuloso com os feitiços de amparo ao redor de seus aposentos, e enviou uma ordem às criaturas do bosque. Se alguém se aproximasse de sua guarida, de sua casa e ela fosse ameaçada de qualquer forma, saberia imediatamente. Com a chamada de Mikhail, chegaram Jacques e Byron, encontrando-se com ele sobre as árvores próximas à casa de Noelle e Rand. Uma vez descoberto, o cadáver, havia sido apropriadamente incinerado, como era o costume. - Tocaram em algo? - perguntou Mikhail. - Só no corpo. Todas suas roupas e objetos pessoais ficaram como encontramos. - respondeu-lhe Byron. - Rand não voltou a entrar na casa. Sabe que eles poderão ter deixado algum tipo de armadilha para te caçar. O corpo era uma isca. - Estou totalmente seguro. Eles usarão toda a tecnologia moderna que possam trazer consigo, câmaras, vídeos... - Mikhail meditava, mas sua face mostrava seu estado. - Acreditam em todas as lendas. Estacas, alho, cortar a cabeça. São primitivos. - Sua voz refletiu o ódio que sentia pelos assassinos. - Tomam muito tempo em nos estudar antes de nos condenar a morte. Byron e Jacques trocaram um incômodo olhar. Neste estado, Mikhail era letal. Olhou-os com os olhos semicerrados, ardendo de fúria. - Fiquem atentos e a observar. Se eu me meter em problemas, desapareçam. Não se deixem ver. - ele pensou por um momento - Se algo sair errado, peço-lhes um favor. Mikhail empregava o tom formal do velho mundo. Byron e Jacques dariam sua vida por ele. Era um estranho privilégio, seu príncipe pedir um favor. - Minha mulher dorme profundamente. Em minha casa. Os amparos são muitos e perigosos. Devem ser meticulosos e muito cuidadosos para poder desentranhar. Ela deve ser curada e terão que a ensinar como deve se proteger, se escolher ficar vosso amparo. Através de nossa família, você Jacques, herdará a liderança. Acredito que neste momento deveria ser Gregori, o que tomasse, para dar tempo a você de se acostumar e a aprender a mandar. Se Gregori rechaçar o oferecimento, e é seguro que o fará, a liderança deve passar você, Jacques. Suponho que você não gostará muito, como noto. Farão tudo isto por mim. Byron, você ajudará Jacques e Gregori como me ajudaste. Ambos devem jurar lealdade a Gregori, se ele aceitar. Os dois responderam formalmente, pronunciando o juramento. Byron limpou a garganta. - Há...? Ou seja, ela é uma das nossas? - Fez a pergunta com supremo cuidado. Todos eles eram conscientes dos vampiros que haviam tentado converter mulheres humanas. Inclusive tinham discutido o poder tentar, eles mesmos, por causa da desesperada situação em que se encontravam. Mas os riscos ultrapassavam em muito às vantagens. As mulheres que haviam sido convertidas pelos vampiros ficavam loucas e matavam crianças e bebês e tinha sido impossível devolver a prudência a elas. A raça dos Cárpatos nascia com suas habilidades e era submetida a uma grande disciplina para a controlar. Os poucos que se diblavam as leis eram tirados do meio, de forma brutal e instantânea. Sua raça respeitava todas as formas de vida. Devia ser assim por causa dos tremendos poderes que possuíam. Mikhail negou com a cabeça.

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