Capítulo 1

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     Acordar. Essa é provavelmente a pior parte do dia. A sensação de que um longo e péssimo dia te aguarda sempre me persegue. Abri os olhos enquanto sentia o ar quente entrava pela janela. É uma manha de inverno, mas o inverno existe no Rio de Janeiro? Se existe, eu nunca presenciei. 

       O choro do maldito bebê, que eu chamo carinhosamente de irmão, preenche todo quarto, toda casa e talvez todo prédio. Todos os dias ás 6 horas da manhã em ponto essa criança chora como se o mundo estivesse prestes a acabar. Em uma manhã, há algumas semanas, eu disse em alto e bom som '' Criança maldita''. Meus pais ainda me olham torto, mas eu não pedi um irmão. Ninguém me perguntou. Agora, a escassa atenção que eu recebia é quase inexistente. Maldita criança.

        -VOCÊS PODEM CALAR A BOCA DESSA CRIANÇA?! – Perguntei aos berros em meio ao choro e soluços desesperados do meu irmão. 

       -ELE SÓ TEM SEIS MESES, CLARISSE! – Respondeu minha mãe, exasperada, no mesmo tom. 

       Talvez eu seja um pouco dura com o meu irmão, Rafael, mas ele foi desejado e amado antes mesmo de nascer, e eu não tive a mesma sorte. Eu sou o fruto de uma gravidez planejada, mas planejada para ser um menino. Minha família materna tem uma tradição antiga que ocorre com todas as gerações de uma forma até mística, todos os primogênitos são homens, eu sou a primeira em 10 gerações. A menina primogênita. A desgraça da família, como diz a minha avó. Meus tios e avôs maternos queriam que meus país abortassem, mas meu pai e meus avôs paternos não permitiram. Minha mãe disse que nunca pensou nessa possibilidade, mas eu tenho minhas dúvidas

        -Você vai ter que ir de ônibus para a escolha hoje, Clarisse. – Disse meu pai, dando-me um rápido beijo na testa e correndo para acalentar o Rafael. – Eu preciso levar seu irmão ao médico.       -Ótima forma de começar a semana. – Murmurei e fui para o quarto.

      O espelho sempre foi um dos meus piores inimigos. E eu tenho um bem grande, na frente na minha cama. Meu rosto cheio de espinha e cravos é a primeira coisa que eu vejo acordar. Talvez, essa seja uma das razões para o meu mau humor matinal. Todas as mulheres da minha família são altas, magras, morenas e uma grande maioria tem olhos claros. Novamente, eu sou a exceção da regra. Minha pele é morena, e eu sou alta, mas é só isso. Meus olhos são mais escuros que carvão, e meu corpo não é um dos mais desejáveis. Estrias e celulites para todo o lado. E Gorda, ou hipopótamo, elefante e baleia, como dizem meus caros colegas de classe. O excesso de gordura nas coxas, barrigas e braços são o principal motivo para eu usar calças jeans todos os dias, mesmo morando no Rio de Janeiro. Cabelos cacheados, normais, bonitinhos, mas só normais. Tudo perfeitamente comum. Perfeitamente imperfeita. Perfeitamente feia.

       -Não vai tomar café da manha? – Perguntou meu pai quando sai do quarto. -Não estou com fome. – Respondi contrariando o meu estomago que não parava de roncar. 

       -Não vai dar um beijinho no seu irmão, Clarisse? – Perguntou minha mãe. Concordei com a cabeça, mas quando cheguei perto dele coloquei minha língua para fora, fazendo ele gargalhar e consequentemente meu pais também. É infantil mas eu não posso chama-lo de ''criança maldita'', isso é o que me resta.                                                                                                                                            Como forma de protesto sai de casa cantarolando: '' Foi quando meu pai Me disse: "Filha, você é a Ovelha Negra Da família" Agora é hora de você assumir Uh! Uh! E sumir!''. Minha mãe deu um gritinho de ódio e meu pai só suspirou.

   TOUCHÉ!



                                                                                    ...

UHUUL! ESPERO QUE TENHAM GOSTADO DESSE PEQUENO PRIMEIRO CAPÍTULO E CONTINUEM ACOMPANHANDO! 

 Recomendem pros migos e pras migas, beijãoooooo!

ASS: Amanda Souza

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