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TRÊS DIAS DEPOIS

- Louis, você precisa comer. - Brendon suplicou pela vigésima vez naquele dia. - Você está fraco e pálido. Se não quiser comer por mim, tudo bem, mas coma pela Lindsay.
- Não fale o nome dela se não tiver nada de convincente pra dizer. - O garoto respondeu ríspido. - Eu não estou com fome, quantas vezes vou precisar dizer?
O quarto de Louis estava escuro e bagunçado, assim como seus sentimentos. Lindsay era sua única irmã, a cuidava como seu bem mais precioso que um dia foi capaz de ganhar e ele insistia em pensar que era tudo culpa dele que sua pequena tivesse desaparecido.
Seus olhos estavam avermelhados, parte por chorar incontrolávelmente e parte por não dormir direito. Emagreceu visivelmente, seu rosto fechou-se de uma maneira que só a volta de Linds poderia abrir novamente, perdera todo o brilho de viver.
- O que Pete disse? - Louis indagou. Mesmo sabendo da resposta, uma ponta de esperança ainda surgia a cada minuto dentro de seu peito.
- Nada ainda. - O outro respondeu desolado. - Ainda estão fazendo as buscas, mas não a encontraram até agora. Eu sinto muito, Louis.

- Sente muito por quê? - Alterou a voz. - Acha que ela está morta? Pois escute só, ela não está, entendeu? Ela não está! Vá embora, Brendon. Sai já daqui!
Brendon tentou falar várias vezes mas foi coagido pela falta das palavras certas e se dando por vencido, saiu do quarto de Louis as pressas, o deixando para trás com lágrimas nos olhos e uma agonia incontrolável no coração.

xx

Já estava na terceira noite com sua nova companhia. Harry - seu nome verdadeiro, mas que poderia contar nos dedos as pessoas que sabiam disso - não se sentia no direito de reclamar da garota, afinal, quem estaria de bom humor em uma situação daquelas? Lindsay era completamente instável e aquilo estava o deixando louco, pois o único louco que poderia estar naquele ambiente era ele e Harry começou a se sentir incomodado.
- Quando eu sair daqui, todos vão saber quem você é e vão te colocar na cadeia mais imunda desse mundo. Pra sempre. - A moça falou tentando se ajeitar no chão úmido e gelado do porão de Harry, mas tudo tornou-se mais complicado quando lembrou-se das correntes que a aprisionavam àquele lugar horrendo, deixando-a menos de um palmo de distância da parede. Ela estava pior que um cachorro mal cuidado.
Harry, por sua vez, estava descendo as escadas até o cômodo e ouviu as palavras de desgosto de Lindsay.
- Você acha que eles vão? - A voz do homem era de completo deboche. - E você vai dizer o que pra eles? - Perguntou aproximando-se de Lindsay e agachando-se a frente dela. - Acha que eles vão ligar para uma pessoa completamente louca que alega ter sido capturada pelo Coringa? Não seja ridícula, não estamos em Gotham, estamos em Boston, onde ninguém liga pro seu sumiço.
- Eu só quero sair daqui, por favor. - Lágrimas brotaram dos seus olhos e não demorou muito pra que elas escorressem pelas bochechas pálidas dela.
- Parabéns, você foi libertada! - Harry gritou entre risadas. - Fiquei com pena de você depois dessa súplica.
- Você é um doente.

xx

Louis não saía do lado do telefone, esperando algum tipo de sinal ou pedido de resgate. Porque ela, logo ela? Estava sozinho e com medo. Onde ela está? Por que ela não volta? Muitas perguntas rondavam a mente do garoto que sempre preferiu pensar pelo lado positivo mas que agora só desejava que Lindsay não estivesse morta em qualquer canto daquela cidade.
Naquele instante ele achou que finalmente alguma coisa estava dando certo; o som do telefone eccou pelo quarto, mais alto que o usual por conta do silêncio que ele fez questão que se instalasse. Ele estava tão desesperado que nem pensou em olhar no visor.
- Lind? - Atendeu com a voz baixa.
- Não Lou, é a mamãe. - Ele sabia que isso a deixava chateada e constrangida mas isso era mais uma coisa que ele não conseguira evitar. - Acabamos a entrevista, eu e seu pai estamos indo pra casa. A polícia ligou?
- O que você acha? - Respondeu prestes a chorar. - Eles nem se importam.
- Vamos encontrá-la, meu amor. Você está bem? Comeu hoje?
- Sim, está tudo bem comigo.
- Ela vai aparecer, ok? Nos vemos em casa.
Louis não precisava de palavras por que isso qualquer um poderia lhe proporcionar. Ele precisava de ações, precisava da irmã ao seu lado.

xx

- Se alguém souber alguma coisa, alguma notícia ou o que for, por favor, nos contate. Estamos desesperados atrás da nossa menina. Eu só... - A mulher na televisão caiu no choro e seu marido logo a amparou, a abraçando e tentanto confortar. Dois segundos depois o rosto da desaparecida foi estampado na tela de Harry e debaixo de sua foto um dois números de telefone. O homem gargalhou sem poder conter seu divertimento para si:
- Tá brincando! Que mundo maravilhoso!

- Lindsay, querida! - Harry, com o rosto pintado e uma peruca (como em todas as vezes que andava até o porão) não conseguia tirar o sorriso dos lábios. - Você está famosa.
- De que merda você está falando? - Lindsay estava tão fraca que mal podia apoiar-se no chão para sentar, mas mesmo assim o fez pois não queria parecer mais patética do que já estava.
- Seu rosto. - Ele aproximou-se - Está na televisão. Com fome?
- Só se for de vingança.
- Não temos isso no menu. - Harry forçou um sotaque francês que só fez a garota ficar com mais medo dele. - Só temos spaghetti. - Dessa vez, sotaque italiano.
- Você está falando sério? - Lindsay se permitiu rir pela primeira vez desde que foi parar dentro daquele porão úmido, mas não por muito tempo, pois se lembrou das condições em que estava e que o homem à sua frente era um completo psicopata.
- Mas é claro! E depois vamos dar uma voltinha.
Lindsay não entendeu a mudança repentina de humor, mas como tudo o que estava acontecendo, preferiu não falar muito sobre. As coisas poderiam ficar perigosas e só o que ela queria era voltar pra casa, mesmo que fosse quase impossivel.

Killer At Night - au l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora