Capítulo 9

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•P E T E R•

A paranóia toda começou quando a vó disse que ela viria passar a semana conosco.

Freddie teve a ideia de eu finalmente me declarar à ela,não que eu a amasse,mas eu nunca interagi tanto com uma garota quanto ela,e nunca pensei tanto quanto nela e...outras coisas.

Descobri que meu irmão é um romântico ambulante,ele bolou todo um plano e disse que me ajudaria no que pudesse.

Era segunda ou terça –não me lembro muito bem porque eu tenho uma memória falha,e estou de férias– quando Fred falou que íamos fazer um acampamento,segundo ele,seria bom "pros dois lembrarem dos velhos tempos" ,e ele já tinha dito a ela que íamos,e não dava mais para voltar atrás.

Passaram-se os dias,e eu a evitava. As pessoas sempre me julgaram antes de conhecer,eu era o órfão,o antissocial,o calado,o tenebroso. Se eu tinha que falar em público minha voz falhava,ninguém nunca conseguiu se aproximar de mim,além de Fred.

Confesso que fiquei nervoso quando ela me perguntou "Peter,o que eu te fiz? Todos aqueles anos e eu nunca entendi porque de ser tão ignorada." E eu me senti mal. Demonstrar nunca foi meu forte. Eu não consegui responder,eu não sabia responder. Fingir,sim essa com certeza é a minha especialidade.
E eu odeio,odeio mesmo machucar as pessoas sem razão.

Também não entendia o porquê de ela querer tanto se aproximar de mim,não podemos deixar quieto? Continuar esse relacionamento desse jeito,normal. Contudo,eu não consigo vê-la sofrer,eu só faço as pessoas sofrerem.

Agora estamos em frente à casa do meu "amigo de infância",se posso chamar assim,Kane. Clarisse dormia serenamente ao meu lado,e imaginei por um momento se ela fosse minha,se eu a beijaria ou tiraria as roupas dela. Como iríamos nos virar no meu jeito de ser.

—Acorda. Acorda.—eu a chacoalhei—Eu deixo ela sozinha aqui dentro?—perguntei ao Kane.

—Acho que não faz diferença pra você se alguém levar ela embora,ou...—tapei sua boca antes que ele falasse algo que não devia...

Porque ele sabia dos sentimentos confusos que eu nutria por ela.

—Cala a sua merda de boca.—eu disse.

—Ahn?—Clarisse falou sonolenta.

Ela estava incrivelmente fofa. Quase sorri.

—Toma conta do carro.—eu falei e fechei a porta.

Kane deu uma risada.

—Ela é bem gata,quem é,aquela garota lá que você vivia falando no primeiro ano do fundamental? Ou é outra...

—Você faz questão de saber?—perguntei.

Entramos em sua casa,não havia nada de diferente,o mesmo corredor onde passei dias correndo,a mesma escada que tropecei,a mesma janela que quebrei. Tudo igual,só nós dois que não éramos os mesmos.

É incrível como as pessoas mudam radicalmente,Freddie,o cara que odiava garotas namorando;Kane o nerdão que agora é o popular;eu,o extrovertido sendo antissocial. São os famosos clichês da vida. Acho que pode ser um dos motivos para eu gostar da Clari,ela nunca mudou,sempre continua a mesma.

Acabamos de por os marshmellows no porta-mala,me despedi de Kane e desejei um bom feriado.

✿✿✿

Eu simplesmente não consigo me controlar perto de pessoas,só saem grosserias da minha boca,quando penso outra coisa. Eu tenho algum transtorno mental;preciso procurar no Google.

E nem perto da Clarisse isso muda. É quase uma auto-defesa minha.

—Você sabe que o objetivo da Clari é fazer você se abrir,né?—perguntou Freddie enquanto subíamos a trilha.

—É,sim.

—E que ela não vai parar até que você conte à ela?—continuou ele.

—Obviamente.

—Talvez ela seja a melhor pessoa pra te ajudar,boa sorte cara.—deu um tapinha na minha costa e logo gritou alguma coisa,que o vento e as folhas abafaram-me,para as garotas.

Talvez seja ela.

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