Capítulo 6

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A voz do narrador parou e o vídeo em que famílias extremistas são mortas passa mais uma vez. Estou chocada, ainda não consigo assimilar totalmente essas informações. Estou completamente encostada em Lucas, praticamente grudada, tamanho meu choque. A pressão de seu braço em minha cintura está forte, como se fôssemos desmoronar a qualquer momento e precisamos de apoio um do outro. Talvez seja isso que vai acontecer.

Ouço um som baixinho e olho para a direção de onde vêm. Percebo que é Matt, ele está chorando baixinho, com o rosto apoiado no abdômen do irmão, como se tivesse vergonha por ser visto assim. Minha única reação é abraça-lo com força, mas não tanta para mão machuca-lo.

- Shh Tudo bem - sussurro. - É só um vídeo, nada demais. Já passou.

Lucas finalmente sai da transe em que se encontrava, percebe que o irmão está assim e o pega no colo, mesmo ele não sendo muito leve. O menino se agarra em Lucas como um macaquinho.

- Me desculpem ser grosseira, - Alice diz, percebo que ela está abalada - mas preciso mesmo sair. Vai dar tudo certo. - Ela pisca, parece que está prestes a chorar. Ela se vira e sai por uma das portas da lateral do palco. O auditório está vazio e silencioso. Olho para Lucas e ele parece me entender perfeitamente. O que está acontecendo com nossas vidas?

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Esses dois anos passaram depressa, meninos e meninas de diversas cidades chegavam toda semana durante alguns meses.
Estudávamos e fazíamos as refeições normalmente, no início não tocávamos no assunto do porquê de estarmos aqui, mas conforme ficamos mais velhos conversamos livremente sobre o isso. Fazíamos piadas e riámos, quase sempre de coisas idiotas. Talvez agora sabemos o que significava felicidade.

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Preto é uma cor tão bonita, principalmente por ser na verdade uma ausência de cor, como nós, que tínhamos ausência de boa parte de nossas memórias, penso enquanto pego meu vestido. As meninas não estão no quarto, já estão no auditório guardando nossos lugares. Ouço a porta se abrindo e me viro rapidamente, até lembrar que estou apenas com minhas roupas íntimas.
- Desculpa! - Lucas grita envergonhado e se vira. Reviro os olhos, um hábito que criei.
- Sem problemas, não é como se eu estivesse transando e você interrompeu. - Rio, ele fica tenso, mas logo ri. Coloco meu vestido. - Pronto. Pode me alcançar a bota a que está do seu lado? - Peço.
- Aqui. - Ele diz me entregando.
- Obrigada. - A calço e me levanto. - Como estou? - Pergunto fazendo uma pose.
- Feia como sempre, horrorosa. - Ele fala brincando, dou um tapa leve em seu braço. Ele revira os olhos. - Quer que eu diga o que? Você está sempre linda, sempre está, não precisa que eu fique repetindo. - Ele diz sem jeito. Eu o abraço.
- Obrigada. - Digo sorrindo.
- De nada. - Ele dá um beijo no topo da minha cabeça. - Agora vamos, princesa, senão vamos chegar atrasados. - Reviro os olhos, odeio quando ele me chama assim. Seguimos para o corredor de braços dados em direção ao auditório, aquele auditório onde tudo começou.


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prepared, restarted & mutatedWhere stories live. Discover now