"Borboletas não conseguem ver suas próprias asas. Elas não conseguem ver o quanto são verdadeiramente lindas,mas todas as outras podem ver. As pessoas também são assim."
Harley passara o fim de semana em minha casa. Praticamente era uma espiã da escola, não tinha muitos amigos assim como eu. O que lhe restara observar, e ela tem um talento bem especial para o cargo.
Várias façanhas de Milah foram contadas de graça, e particularmente eu estava adorando tudo aquilo. Milah não tinha o cabelo ruivo natural. Era pura química. Isso pode ser até fútil e idiota, se ela não se gabasse tanto da sua cor "única" alaranjada, diz que apenas um cabelo hidratado e bem cuidado, ficaria com aquela aparência, menosprezando todos os outros estilos, que o consideravam inferiores ou feios para ela. E ainda não parava por aí, muitos segredos, que acabariam com ela num só dia, que ela negava até a morte.
"como você descobriu isso tudo?" Perguntei enquanto Harley se espreguiçava no sofá.
"Não é só você que a odeia." Ela fala colocando mais uma tortilha de Doritos na boca. "Ok rainha do drama, te conheço há algumas longas horas" ela olha para mim como se eu estivesse escondendo algo dela. O que era uma enorme verdade. "Eu sei que tem um rolo com o Dylan! Eu os vi" ela sorri e sinto meu rosto ficar púrpura. "No Píer" ela alarga o sorriso mais ainda, eu achava que era impossível crescer ainda mais.
"Você sabe de alguma coisa?" Pergunto e ela procura mais uma tortilha e mergulha no molho de queijo.
"Você se refere a ele?" Eu confirmo com a cabeça devagar, e ela cruza as pernas em borboleta como se fosse uma criancinha.
"Boa pergunta, rumores dizem que ele terminou com a Milah. E ela anda espalhando o contrário."
"Espera. Então, ele namora mesmo ela?" Quero chutar algo com força, mas receio de que se eu fizer isso, a minha única amiga humana vai achar que eu devo ir a psiquiatria.
"Namorava" ela me corrige. "Sabe, a Milah meio que o obrigou, não acho que ele fez por mal sabe? Ele parece gostar de você! E tem mais!"
"Ah, mais?" Pergunto irritada.
"Não sabemos se é verdade, quem espalhou essa história toda, foi a imbecil da Milah" Harley me conforta. "No decorrer desse 'relacionamento' ele não parecia se sentir bem com ela. Sabe o que eu acho?" Ela cruza os braços " que ele é tão legal, que só aceitou essa palhaçada por pena."
Milah não merece Dylan, é um absurdo cogitar que uma pessoa nojenta como aquela, tenha se aproveitado da bondade dele.
"É bem estranho ele não frequentar as aulas, geralmente é um bom aluno, não é?" Mudo de assunto rapidamente, para não parecer mais uma integrante do Fã Clube do 'Dylanzinho'.
"Uhum." Harley responde passando os canais da televisão.
"Eu tenho que vê-lo" digo depressa "ele não responde às minhas mensagens, e pelo visto as de ninguém! Preciso saber o que está havendo!" Me levanto a procura do meu celular, que tinha metido nas brechas do sofá.
"Quer que eu vá?" Harley se oferece.
"Não. Preciso de alguém aqui, se ele aparecer,por algum milagre, diga para esperar, e você me liga na hora! Faz isso por mim Harley?" Pergunto desesperadamente como se precisasse de mais oxigênio, meu pulmão parecia estar sendo esmagado pelo nada.
"Deixa de ser boba! Claro que fico, vai lá e, não poupe os detalhes quando voltar, quero saber de tudo! Minha casa é bem menos interessante do que a sua com Tv a cabo."
De súbito pego as chaves da bancada, e saio voando para o elevador, que para a minha infelicidade está em manutenção, vou de escada e após 30 segundos chego ao térreo, o porteiro me dá boa tarde, mas, nem respondo de tanta ansiedade.Entro no carro e dou ignição. Após sair da rua, me deparo com um problema; onde Dylan mora.
Busco em minha memória, fagulhas de quando eu o segui quando não passava de mais uma alma. Porém quando mais preciso, mais parece que tenho 86 anos e sofro de alzheimer .
"Vamos!" Falo repetidas vezes, mas nada acontece. Aperto com tanta força o volante que os nós dos meus dedos ficam brancos. No mesmo instante meu GPS acende como se tivesse vida própria.
"Vire à esquerda" a moça do GPS fala calmamente, e eu agradeço aos céus e a Liv em várias línguas.
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Obedeço a voz até ela me informar que chegamos. E logo reconheço a casa de Dylan. Não mudou nada. A tinta descascada do assoalho, e o tapete de "Bem-Vindo" surrado e quase se apagando com o tempo.
Respiro bem fundo antes de dar duas batidinhas na porta da frente. Aflita, dou mais algumas batidas e finalmente a porta se abre, e o meu sorriso se desmancha imediatamente. A imagem mais triste que eu já vi em minha vida, Dylan, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, olheiras escuras que cobrem a parte acima das bochechas pálidas, que antes eram rosadas, denunciam a sua insônia. Seu cabelo que antes brilhava, estava opaco e sujo. Uma dor imensurável dominou meu coração e a vontade de chorar me consumiu. Após alguns segundos, reparo que Dylan segurava em sua mão direita uma espécie de convite negro, várias palavras que não consegui ler por conta de seu tamanho. Ao lado da mensagem contém a foto de uma mulher, cabelos castanhos claro, e olhos azuis, reconheci a mãe de Dylan. Logo abaixo da foto, lia-se;Alice Francine Dixon
1978 - 2016"Oi" Dylan quebra o silêncio, com a voz embargada de dor.
Não consegui produzir palavras o suficiente para conforta-lo, não podia, a verdade é que não há palavras para conforto, tudo o que Dylan quer é sua mãe.
Entro com cautela, e o envolvo num abraço. Não sinto seus braços responderem ao meu gesto. Percebo a surpresa em seu corpo contraído e logo ele me abraça com uma força inesperada, sinto falta de ar, mas deixo que ele vá afrouxando o abraço, é tudo o que ele precisa agora.
"Eu sinto muito Dylan" falo sem olhá-lo.
"Eu também."
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É meninas, o negócio tá bem tristeXOXO😘
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Almas Distintas
RomanceA morte é inevitável. Todos irão morrer, não tem como estar preparado para isso, talvez consigamos nos adaptar a ela. Bem, eu? Eu sou invisível aos teus olhos, silenciosa como a névoa e pálida como a nuvem. Minha alma vaga como todas as outras, hipn...