Dois Dias Antes

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Era o primeiro dia desde a morte da Professora.

Eu passei o meu tempo parada na mansão. Desde a noite anterior eu tinha estado sentada desse jeito, olhando para o cenário do lado de fora da janela da sala de estar. O céu estava ironicamente azul, e os pássaros estavam cantando. Eles quase pareciam estar cantando um hino de paz. Mas eu sentia como se fosse a única pessoa do mundo. Ao invés de cair em tristeza, eu era incapaz de entender completamente a verdade.

Sem saber o que fazer, eu eventualmente voltei ao meu usual trabalho de rotina.

As tarefas.

Eu limpei a mansão, cortei a grama e paguei as contas.

Quando eu estava tentando lavar as roupas da Professora, eu percebi que minhas mãos tremiam. Depois de preparar as refeições, eu estava em choque, percebendo que ninguém comeria elas.

A cama no quarto da Professora estava fria. Quando o pensamento de que a cama nunca mais estaria quente veio a minha cabeça, eu senti como se o meu peito fosse partido em pedaços.

Eu nem sabia o que estava fazendo. Mas eu continuei com as tarefas. Desse jeito eu continuei escapando da verdade. Era simplesmente assustador demais encarar a realidade.

A noite, eu eventualmente não tinha mais nada para fazer.

Eu me sentei no corredor do lado de fora do quarto, abraçando meus joelhos. Eu sentia que se esperasse por tempo o bastante a Professora poderia voltar. É por isso que pela noite toda, eu estava segurando firmemente a caixa de cigarros dela e a esperando.

Mas, a Professora não voltou.

--AVISO--

Ao nascer do sol, havia uma voz eletrônica vindo do meu circuito mental.

--A BATERIA VAI ACABAR EM 5 MINUTOS--

Uma voz sem entonação, falada roboticamente.

-POR FAVOR, COMECE A CARREGAR A BATERIA AGORA-

Eu levantei sem força e fui para o laboratório.

No caminho, eu caí das escadas porque estava ficando sem energia. Meu pé direito girou numa direção estranha. Arrastando uma das minhas pernas, eu andei lentamente para o laboratório.

Sentada na cama branca, eu abri o meu pulso. A unidade de ligação para o recarregamento apareceu.

Foi naquela hora que eu tive um súbito impulso de cortar os meus pulsos.

Se eu cortasse os meus pulsos, eu morreria. Eu teria uma saída fácil. Eu poderia ir para onde a Professora estava.

Como meu estado mental estava terrível desde a morte da Professora, eu rapidamente comecei a realizar o meu desejo.

Segurando um maçarico usado para propósitos de manutenção, eu apertei o botão.

Uma trêmula luz de ar quente saiu da abertura dele. Logo depois, um pilar de fogo vermelho apareceu. Lentamente, eu movi o maçarico na direção do meu pulso. Gotas metálicas como suor apareceram e a unidade de conexão lentamente derreteu. Em dez segundos, a conexão elétrica estava totalmente queimada. Uma grande quantidade de óleo de máquina preto saíu dela.

Era uma cena miserável. O óleo saído do meu pulso chegou até ao teto. O laboratório que era branco como um campo de neve se transformou numa sala escura cheia de óleo fedorento. Enquanto eu olho para essa cena em um estado de êxtase, a voz eletrônica de "CUIDADO! CUIDADO! CUIDADO! CUIDADO!" dentro do meu circuito mental parece com gritos histéricos.

Em cinco minutos, todo o óleo de máquina tinha fluído para fora do meu corpo.

Havia apenas um líquido escuro saindo do meu pulso. Era quase como a fonte de água na praça perto da estação de trem.

Foi naquele momento.

Eu tive um veemente ataque de tremores.

Era uma coisa que eu nunca tinha sentido antes. Tontura, náusea, e uma intensa dor como se o meu crânio estivesse sendo torcido e arranhado, me atingiram muitas vezes rapidamente. Como humanos que haviam bebido veneno, meus lábios estavam tremendo. Me sentindo extremamente mal, eu rolei no chão em dor e agarrei o meu peito.

-- CUIDADO! 30 SEGUNDOS ATÉ A BATERIA ACABAR! POR FAVOR COMECE OS PROCEDIMENTOS DE MANUTENÇÃO IMEDIATAMENTE--

No seu tom normal, a voz eletrônica declarou minha morte que se aproximava.

Subitamente, como um lunático, meus olhos se arregalaram.

-- Não! Eu não quero morrer!--

Eu me levantei em pânico e peguei o tubo de recarregamento violentamente.

Repetidamente eu tentei enfiar o tubo na ligação elétrica do meu pulso. Porém a unidade de carregamento já havia se deformado com o calor. Como tentativas de tricotar, todas as minhas tentativas de ligar o tubo com a unidade falharam.

-- A BATERIA VAI ACABAR EM 10 SEGUNDOS, 9, 8, 7...--

Arquejando de medo, eu continuei a perfurar a unidade de ligação do meu peito com o tubo. Perfura. Perfura. Perfura. Perfura. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer.

Com um som claro do tubo sendo inserido na unidade de ligação, eletricidade e óleo de máquina começaram a ser carregados para dentro do meu corpo. O som de aviso parou, e eu fui aliviada dos tremores e sensação de náusea.

Eu estava aliviada, do fundo do meu coração.

Ah...... dessa vez eu não tenho que morrer.

Ótimo.

— Ótimo?

Eu fiquei chocada com meu pensamento.

É uma coisa boa que eu não morri?

... Quando a Professora já morreu?

Viver sozinha é uma coisa tão feliz?

Me agarrar a vida sem vergonha e viver em desonra uma coisa tão feliz?

O outro eu dentro do meu corpo continuou sussurrando.

Camila Rain Umbrella. Por que você ainda está vivendo? Você é uma robô afinal. Por que você tem medo da morte? Como a mestra que você servia, não existe mais significado para a sua existência. Apesar disso você ainda está se agarrando a vida? Morra! Morra! Morra rápido agora!

Estando extremamente enojada comigo mesma, eu arranhei minha cabeça firmemente e tentei arrancar meu cabelo.

Era uma verdade inegável, eu estava obcecada com viver. Eu queria viver. Eu não queria morrer. Isso era o que eu sentia, o que eu percebi, logo depois da minha primeira vez encarando a morte.

Eu odiava a mim mesma. Apesar de amar tanto a Professora, apesar de passar o dia a dia dizendo a ela o quanto eu a amava, eu não conseguia me forçar a segui-la.

Quando eu arrancava meu cabelo, o tubo preso ao meu pulso batia no chão. Era extremamente problemático, mas eu não tinha coragem de tirá-lo.

As paredes e teto estavam negras, com um cheiro fedorento. Sentada no sangue negro saído do meu corpo, eu continuo arrancando meu cabelo como uma lunática. Dúzias e dúzias de pedaços de cabelo arrancados da minha cabeça caíam no chão.

Camila on Rainy DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora