ANGEL

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Fundação Whithout – Porto de Cable Beach/ América Central/ Nassau/ 02:45


Meu dia estava sendo mais longo do que esperava. Após chegar da casa de Gabe com os dados de Reynald Morninglight, pulei a janela da fundação com a maior cautela que conseguir manter e fui em direção a minha cama.

Parei um instante e percebi que todas as camas estavam ocupadas. Isso era impossível, tenho certeza que pulei a janela certa. Ninguém aqui conhece Without Parents como eu. Virei em direção à cortina e vi o rosto de Bea adormecido na cama ao lado da janela, estava babando feito gorila e daria tudo por um celular com câmera agora.

Contei novamente as camas e fiquei perplexa ao olhar em direção a minha.

Tinha alguém lá! Minhas cobertas estavam cobrindo um corpo que definitivamente não era o meu. Andei sobre o tapete segurando a respiração ofegante e vislumbrei o lugar na onde eu chorava quando estava sozinha. Minha raiva estava por explodir, odeio que invadam minha privacidade.

Seja quem for vai me pagar caro.

Avanço as mãos sobre as cobertas, e apalpo somente maciez. Eram travesseiros! Não tinha ninguém lá.

    - Ei, Angel – ouço uma voz baixa sendo sussurrada ao lado da lareira.

    - Karina? – digo com o mesmo tom de voz e me dirijo a sua cama – o que foi? Por que está acordada? Por que me chamou de Angel?

    - A me desculpe, sei que não gosta de intimidades. Minha mãe se chamava Angeles, assim como você – vi seus olhos lacrimejarem de um estante para outro, aquilo me cortou o coração – eu e Kajon a chamávamos de Angel. Ela tinha os mesmos olhos que você.

    - Sinto muito por isso. Sinto muito por estar aqui – minha voz falhou e percebi que estava a ponto de chorar, limpei as lágrimas que não chegaram a cair com a manga da camiseta – por que está acordada?

    - Estava preocupada com você. Pensei que Madame Nora a tivesse prendido no porão novamente.

    - Aquela mulher não teria essa audácia duas vezes.

    - Estou aliviada – sua voz era sincera e pela primeira vez sabia que ali estava alguém que podia confiar – coloquei seus travesseiros por baixo da coberta para Bea e as outras não perceberem sua ausência. Perdoe-me por ter tocado nos seus pertences, mas não vi outro jeito.

Fitei seu rosto por alguns minutos em silêncio. Por que ela fez aquilo? Eu nunca dei atenção pra ela, nem ao menos era sua amiga. Por que tinha me ajudado?

    - Não precisa pedir perdão sua boba. Muito obrigada... nem sei porque fez isso, mas só posso te agradecer – levei meus braços em volta de seu pescoço e senti o calor que era abraçar alguém pela primeira vez após a morte de Joanne.

    - Nossa. Essa não é a Angeles que conheço – seu sorriso meigo se estendeu pela sua face – fiz isso porque sei como dói fingir ser forte o tempo todo, sei que nesse coração de pedra tem vida Angel.

    - Você...

    - Não diga mais nada – ela colocou o dedo indicador sobre os lábios – as meninas podem acordar. Faça o que tiver que fazer e não se meta em confusão.

Os olhos de Karina brilhavam como a lua naquela madrugada. Puxou sua coberta sobre o rosto e virou para o seu lado direito com os olhos já fechados.

Levantei-me e sai pela porta em direção à sala de Madame Nora. Corri descalça com as lágrimas banhando meu rosto, tendo junto de minha mão a folha azul do caderno de Gabe com os dados de alguém que depositava minha esperança de ser ajudada.

    - Uma ligação, só uma ligação, por favor...

***

Minhas mãos estavam trêmulas como a chama de uma vela, o suor de nervosismo já se espalhava por toda a camiseta. Nunca tinha desafiado tanto Madame Nora como neste momento, além de roubar sua chave mais cedo durante seu banho, tinha acabado de invadir sua sala e estava desesperada para ouvir uma voz do outro lado da linha de alguém que nem ao menos conhecia.

    - alô?

Pela quarta vez seguida caiu na caixa postal. Estava ficando tarde e não tinha mais tempo para ficar exposta pelos corredores, as inspetoras chegavam sempre às quatro horas e se eu fosse pega novamente fora dos aposentos, acabaria por esfregar o banheiro durante o ano todo.

    - Coragem Angeles, coragem Angeles – respirei fundo e apertei o redial – Por favor, sr. Reynald escute até o final, meu nome é Angeles Gottshalk e sou de Bahamas na américa central. Sei que pode achar que sou louca, mas preciso da sua ajuda. Após o meu décimo quarto aniversário coisas estranham veem acontecendo e minha marca de nascença sempre responde a essas anormalidades. Vi no seu blog que é o único pesquisador com a teoria dos continentes, bem... eu tenho a América central no meu antebraço – uma porta não muito longe havia sido aberta, o som da madeira vez meu coração parar – professor eu não tenho mais tempo, me procure, pergunte por mim, sou a lava de água de Cable Beach.

Desliguei o telefone e me abaixei sobre a mesa de Madame nora. Ouvi os passos de salto alto cintilando pelos corredores.

    - Ela sempre será um problema Sophia, eu bem que tentei prevenir Nora, mas ela insistiu em criar essa garota aqui.

    - A menina cresceu aqui e nem assim Nora colocou juízo em sua cabeça, Bea sim é uma garota excelente.

    - Temos que dar um jeito de expulsa-la daqui. Temo pela reputação de Without Parents.

Os sons de seus passos se foram ao virarem pelo corredor em direção à biblioteca. Levantei com mais rancor do que antes já adquiria.

    - Shopia, Ashley, Bia e Nora – repeti seus nomes até voltar ao quarto.

Tirei os travesseiros que Karina tivera colocado por debaixo das cobertas e me deitei. Olhei para a fraca luz do luar que clareava o quarto e pensei na mensagem que enviara a Reynald.

    - Shopia, Ashley, Bia e Nora – havia raiva em minha voz ao pronunciar seus nomes, meus dentes rangiam a cada palavra que lembrava ter escutado por todos aqueles anos – ouça a mensagem professor, ouça, por favor. Eu preciso sair daqui.

Meus olhos reviraram e arderam, a dor me tomava, mas meu grito não saia. Uma luz forte me segou por alguns instantes e ao abri os olhos não estava mais em Cable Beach. Árvores, muitas árvores. Levantei do chão lamacento em que me encontrava e ouvi passos as minhas costas.

    - Menina invadiu nossa tribo! – gritou alguém perto dali.

Senti uma pancada na nuca, forte e dolorida. Não sabia onde estava e, além disso, fui atacada. Cai no chão de barro e meus cabelos ruivos se encheram de pó. Vi pés descalços vindo em minha direção e minha visão turvou.


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⏰ Última atualização: Aug 21, 2016 ⏰

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