Sweet Scape

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Ploc ploc.

Observo a água a escorrer pelo meu corpo caindo depois pelo ralo com a cabeça encostada aos azulejos da parede.

Sinto a garganta apertada de querer chorar mas recuso-me a deixar as lágrimas caírem.

Ninguém saberia. Ninguém saberia que eu deixei a emoção apoderar-se de mim. Ninguém saberia que eu desabei em prantos ao recordar de memórias esbatidas e frágeis. Ninguém saberia que eu não tinha sido forte o suficiente para encarar a realidade sem ruir. A água abafaria o som.

Mas eu saberia. Eu saberia e não iria suportar os remorsos de saber que não tinha sido forte e corajosa o suficiente para deixar passar isto. Eu não queria dar a parte fraca, pelo menos para mim. Tinha uma pontada de orgulho que me impedia, inspirei fundo quando desliguei a água, antes de sair do chuveiro e enrolar-me na toalha.

Apertei o seu tecido áspero contra o meu corpo -tudo me parecia desconfortável e feio, até uma simples toalha não me estava a proporcionar o conforto da sua suavidade normal- enquanto encarava um ponto invisível da casa de banho. Os meus olhos eventualmente rolaram sobre o objecto rectangular de vidro e eu enchi os pulmões de ar enquanto me pus em cima de si vendo os números subirem e subirem e subirem.

Porque não sofrer mais um bocadinho?

Os meus punhos apertaram em torno da toalha e eu não aguentei os soluços que se começaram a formar. Lágrimas quentes rolavam pela minha cara formando um trajecto infeliz e apetecia-me gritar e atirar a balança contra a parede.

Merda, eu não devia de estar a chorar. Eu estava a ir tão bem, eu não posso chorar, eu não quero.

Para de chorar, repeti interiormente mas a minha vontade de o fazer só aumentou e eu vi-me desesperada.

Inútil, feia, gorda, algo na minha cabeça gritava e eu só queria calar o que quer que fosse.

Ninguém te quer, todos te vão abandonar, repetiu e eu apertei a mão em torno dos cabelos, no fundo eu sabia que era a razão.

"Eu só quero desaparecer." Admiti quando a voz finalmente se calou.

(...)

Tinha acabado de vestir uma suéte e umas leggings, quando a música do meu telemóvel irrompeu pelo quarto.

Mãe estava escrito no ecrã e eu inspirei fundo quando atendi.

"Estou?"

"Olá meu amor." A sua voz doce e melodiosa como sempre.

"Olá mãe."

"Como estás?" Ela pergunta e ao longe eu ouço um guincho de bebé fazendo-me sorrir um pouco. "Oh espera um pouco Rosie." Ela diz e eu respondo com um ligeiro ok "Ernest McCan, tu és um rapazinho muito irrequieto para o teu tamanho." resmunga e eu rio um pouco. "Estou de volta. O teu irmão não para quieto um segundo e tem pouco menos de dois meses, nem quero ver quando começar a andar. Tu eras tão sossegadinha." Recorda e quase a imagino a sorrir ao olhar para o pequeno bebé rosado.

"Ele deve estar lindo."

"E está. Sabes, eu só fabrico material do melhor. Tenho os filhos mais lindos do mundo." Reviro os olhos, todas as mães dizem o mesmo. "Como estás?" Volta a perguntar.

"Bem."

"Não me convenceste. Estás com a voz rouca, estiveste a chorar?"

"Não não, nada disso. Acho que estou a ficar um pouco constipada." Minto e fungo propositadamente.

The way you got meWhere stories live. Discover now