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Chovia.

Gotas grossas e pesadas faziam barulho ao irem de encontro com os vidros fumê do carro. As gotas que lembravam pequenas pepitas de cristal que escorriam feito lágrimas pelas janelas por conta da velocidade do veículo. Contudo, o clima não se encontrava deprimente; pelo contrário, ele estava quieto e descontraído.

"Você concorda Amy?" A voz de meu irmão mais velho, Lukas, me tirou de meus devaneios.

"Me desculpe Luke, pode repetir?" Um vinco se formou entre as sobrancelhas do maior antes de ele revirar os olhos azuis herdados de nossa mãe e repetir.

"Você não concorda que é muito injusto nós irmos embora do Oregon e nos mudarmos para cá?"

Seja aonde esse fim de mundo for - adiciono mentalmente.

As sobrancelhas de meu irmão se levantaram em expectativa a minha resposta. Demorei um pouco pensando na resposta. Eu concordava que estarmos sempre a nos mudar constantemente era inconveniente e incomodo por vários fatores — os quais predominavam os estudos, se enturmar com novas pessoas e empacotar e desfazer todas as malas de mudanças. Mas fora isso, eu quase já conseguia me acostumar aos costumes nômades de minha família. Quase.

"Acho que nós não deveríamos encarar isso como a mudança para uma nova cidade, mas...como uma volta para casa" Pensei bem em minhas palavras antes de proferi-las. E de todo era verdade. Para onde estávamos indo era a cidade onde eu e Luke havíamos dado nossos primeiros passos. Beacon Hills.

Mas nem um argumento a essa altura conseguiria aquietar as reclamações e protestos de Lukas. Ele tinha muitos argumentos para caber todos em seu corpo alto e modelado a base de treinos na academia. Por isso ia liberando-os ao vento durante todo o trajeto.

"Acho que você tem toda a razão Amy" Meu pai me olhou pelo retrovisor e pousou a mão em meu joelho em um gesto de carinho e condescendência.

Um sorriso fraco levantou os cantos de minha boca enquanto retornava o olhar de meu pai pelo retrovisor. Seus olhos eram de um verde escuro que variava para vários tons mais claros conforme o dia, e no momento refletiam com a mesma intensidade que o sorriso que realçavam as comissuras de sua boca.

"Mas eu também perdi a final do Campeonato Estadual de Futebol Americano!" Um vinco se formava em sua tez e podia jurar que ele faria um beicinho ao cruzar os braços, amuado. As vezes me perguntava se ele realmente era o mais velho.

"Nada nos impede de inscrever você em um novo esporte típico de Beacon" Concluiu minha mãe que até o momento estava entretida em sintonizar o velho radio de nosso Honda 2010, e com o costumeiro levantar de suas sobrancelhas bem delineada para Luke, a discussão encerrou-se por ali.

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Pelas informações precisas do nosso bom e velho Google Maps, a casa que iríamos passar nossos próximos meses ficava alguns poucos quilômetros fora do centro da cidade tendo como único ponto de referência, uma paragem de ônibus a 5 metros do nosso terreno.

Pelas janelas, como um daqueles flip-book, a pequena cidade que era Beacon Hills reavivava, a cada "nova" esquina, um pedacinho de minha memória.

As casas vitorianas com seus belos jardins — a maioria enfeitados por peônias, rosas ou uma flor de cor variante entre roxa beirando o lilás e azul bebê. Eu já havia visto aquela flor, mas não me lembrava aonde.

A cidade não havia mudado muito sua aparência desde a minha ultima passada aqui a 9 anos atrás. Os fliperamas, as lojas de artesanato local e as ruas pouco movimentadas continuavam quase as mesmas — apenas com um toque de modernidade. Suas peculiaridades como a Delegacia e depósitos deixados á mercer do tempo continuavam lá, assim como alguns moradores locais, eu podia apostar.

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