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"O corpo pequeno da garotinha estava pousado sobre o banco traseiro de couro do velho Clio de cor prata. Era para ela estar a dormir, mas tinha acabado de acordar de um sonho ruim, a chuva que caia torrencialmente do lado de fora também acabava por assusta-la um pouco.

Seus pais estavam a conversar em um tom baixo nos bancos dianteiros. Sua mãe tinha dito que eles estavam indo viajar novamente naquela manhã, mas o que a pequena garotinha havia estranhado era que todas as suas roupas tinham sido colocadas em malas e postas no carro. Talvez fossem ficar um bom tempo viajando.

"Não podemos continuar assim, Elliot" a voz da mãe da garota parecia carregar preocupação e as suas mãos inquietas no colo delatavam também seu nervosismo.

"Mas também não podemos ficar parados, ele iria nos encontrar, e não vou arriscar a vida dos nossos filhos e a sua!" O tom de grito sussurrado de seu pai, fez os pequenos olhinhos claros da garota se abrirem mais, ela nunca tinha visto seu pai usar aquele tom com sua mãe. Queria falar alguma coisa, mas consequentemente chamaria a atenção de seus pais e ela não conseguiria entender toda a história. Mesmo pequena, grande parte do corpo frágil da garotinha era preenchido pela grande curiosidade.

Um suspiro ocupou o ar do carro e a mão de seu pai largou o volante por um segundo e pousou-a sobre as mãos finas e delicadas de Anne, que retribui-lhe o gesto confortante com um pequeno sorriso, mas com uma sombra de pesar.

"Eu sei que mudarmos constantemente é para o bem de Amy. Eu apenas queria dar a ela uma vida normal" E dito isso a mãe de Amy se virou minimamente no assento para dar uma rápida vista de olhos sobre a pequena criança que, automaticamente fechou os olhos para fingir estar a dormir.

Quando teve certeza que sua mãe já não a observava mais, voltou a abri-los.

"Ainda vamos conseguir isso..." E logo a cena parece começar a passar-se em câmera lenta.

"Cuidado!" Sua mãe grita enquanto o carro parece cantar pneus na pista encharcada. O seu pai pisa abruptamente no freio, uma silhueta totalmente deformada e escura bate na lateral do carro. O corpo leve da garotinha é projetado para a frente e apenas é impedido de continuar seu trajeto por conta do cinto de segurança. O carro girou na pista e bateu com o para-choque da frente com toda a força em uma arvore, atravessando a cerca de segurança que delimitava a estrada.

O ambiente do carro logo fica quieto. Um silêncio mortal pareceu se estabelecer, o medo paralisou a garota que olhava para o escuro a sua volta sem poder distinguir muito as imagens ao seu redor. A chuva lá fora pareceu apertar-se mais, um relâmpago ribombeia e faz o interior da menina estremecer.

A ponto de chamar desesperadamente sua mãe ou seu pai, ela dá uma ultima olhada pela janela ao seu lado. Um grito fino sai de sua boca. Dois olhos vermelhos e luminescente iluminavam fracamente os dentes arreganhados do que quer que fosse que a encarava do lado de fora na chuva."

Acordo.

Mais um de meus pesadelos estranhos. Antigamente, eu teria acordado exaltada, suando frio e com medo. Hoje, apenas lamento por não ter uma noite de sono decente. Eu já havia falado sobre esses "sonhos ruins" para meus pais, e tinha até já visitado um médico conhecido de minha mãe, mas não apareceu nada clinicamente errado comigo. Eram coisas de minha cabeça, os flashes de cenas que nunca aconteceram, segundo meus pais.

Sento na cama, e esfrego meus olhos respirando fundo antes de abri-los. O quarto estava como o havia deixado ontem a não ser por uma janela aberta. Não me lembrava de te-la deixado assim, mas como ultimamente a minha mente parecia fora de órbita, não estranhei a possibilidade de ter me esquecido de fecha-la na noite anterior.

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