Capítulo XIV - "Ele está morto."

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            Olívia descansava sentada na beirada da cama, enquanto George fazia um grande e estranho desenho em um tecido largo. Ela o observava com um olhar inconformado, pois antes de George ficar daquele jeito, não houve um dia sequer que não presenciavam sua inquietude. O príncipe era imparável. Ele não gostava de ficar no castelo por muito tempo, e sempre achava um meio de fugir. Seja lá para onde fosse. Para ele, o importante era não ficar entediado naquele castelo. Portanto, era estranho ver George silenciando daquela maneira. Olívia só conseguia pensar em coisas do tipo: "O que aconteceu com meu filho?" "Por quê ele não fala nada mais?"
— O que desenhas nesse tecido, George? - perguntou - É um pequeno animal? — acrescentou ela. Algo que não adiantou, pois ele não emitiu nenhum som sequer. O único som que se podia ouvir dele, era o leve som do pincelar que fazia pelo tecido.
— Sabe, George. Hoje é o último dia do festival, e você não compareceu a nenhum dia. Que tal se você dançasse com a pequena Alice hoje no baile, hum?! — ele nem ao menos parou o que estava fazendo, apenas confirmou sacudindo a cabeça.
— Sim? Ótimo então! Vai ser espetacular!
— Toc-Toc! Podemos entrar? — perguntou Marty com a pequena Alice em seu colo.
— Sobrinhos! Entrem! — exclamou Olívia os recebendo com um reconfortante sorriso.
— Essa pequena me acordou com uma disposição que eu já não tenho mais. Então eu pensei em trazê-la aqui.
— Ótima idéia! George está mesmo precisando de companhia. — conformou-se Olívia.
— Ah, e eu já ia me esquecendo. Minha mãe está acompanhando a rainha Charlotte em um chá, e ela pede pela sua presença junto dela.
— Christine dividindo um chá com a rainha Charlotte, de Fierce? — perguntou surpresa.
— Não me pergunte. Eu estou por fora das intenções da rainha Christine. — respondeu o risonho Marty.
— E você sabe se a asquerosa rainha Elise está lá também?
— De jeito nenhum! Elas duas em uma mesma sala é coisa quase impossível de se acontecer. — e assim aliviou-se Olívia.
— Não é tão ruim então. Vou imediatamente. Deixemos esses dois pequenos com a serviçal, que já era pra estar aqui agora. — logo em seguida, os dois saíram do quarto. Olívia parecia um tanto agitada. Pois bem, lá estavam George e a pequena Alice. Ela nem quis saber do que ele estava desenhando, porque parecia que até sabia qual era o desenho. Alice apenas sentou ao seu lado, e com um olhar preocupado, ela disse:
— A feiticeira traumatizou a nós com aquela história, não é mesmo?! Eu venho tendo pesadelos depois daquele dia. Eles me parecem tão reais, tanto que eu acho que são visões. Entretanto eles não fazem sentido algum. Eu não sei. — Mesmo com todas as informações dadas a ele, George continuou mudo enquanto pintava aquele tecido. Por mais que Alice tentava dizer coisas a ele, nada o fazia parar. Ela percebeu e tentou motiva-lo a parar. A pequena puxou o pincel da mão dele, porém ele rapidamente tomou o pincel de volta a suas mãos. Tentou inúmeras vezes mexer com ele e chamar a sua atenção. George continuava a ignorar quaisquer fossem as suas distrações, então Alice se irritou de vez, pegou o pote de tinta e derramou por todo o tecido. E de uma forma impressionante, o desenho que George fazia se manteve imutável. Era simplesmente surreal, ou para os mais crentes naquilo, era a clássica mágica. Alice se surpreendeu e perguntou espantada:
— O que é isso, George? — o príncipe apenas sorriu para ela e voltou a dar lentas pinceladas naquele tecido.
— George, aquela mulher era má! Ela me deu pesadelos! — exclamou Alice — não me diga que isso é...— a pequena nem precisou completar tal pergunta, pois com aquele desenho mais trabalhado, ele já ganhava a sua forma. Se tratava de um mapa, porque tinha vários traços ligados a outros indicando caminhos, e  também vários pontos marcados. Eram provavelmente locais específicos. Mas ainda faltava uma coisa importante naquele suposto mapa. Os nomes dos locais. E foi exatamente o que Alice perguntou a ele: — Se isso é um mapa, onde ficam esses pontos? Que lugares são esses? — George deu de ombros, pois até mesmo ele desconhecia tais pontos do mapa. Então pra quê ele desenhara aquele mapa? Talvez tenha sido um pedido da tal "feiticeira" da floresta, que por sinal, ninguém nunca mais a viram depois daquele dia.
     
          Já havia anoitecido, e era o grande final do festival de Opes, que era marcado pela tradicional dança das cortes. E esse momento funcionava da seguinte forma: Todos dançavam com um parceiro. Além do rei e da rainha que dançavam juntos, todos os demais tinham de escolher um par para dançar de outro reino. Então todos usavam suas melhores vestes naquela noite. Penélope já planejara dançar com o príncipe de Fierce, Robert Heck. Sabendo disso, ele não pensou duas vezes ao aceitar o seu convite, e aliás, quem iria recusar uma dança com a princesa da poderosa Intrepidus? Ninguém. Tinha chegado o momento tão esperado, e os homens esperavam as dama a três passos da porta dos seus quartos. Como todos os cavalheiros, Robert usava uma túnica de gola redonda trabalhada nas cores de sua bandeira, calça feita com um tecido pouco largo e sapatos bicudos feitos de couro escuro. Penélope não demorou muito para sair, porque sabia do horário. Então ela começou a se arrumar muito antes. Enquanto ele dava uma arrumada na sua veste, a porta se abriu e de lá saiu Penélope. Ela usava um vestido rodado de pano duplo, junto de um corpete fazendo sua cintura parecer mais fina, e seu decote mais firme. Eles se cumprimentaram, e sem dizer muita coisa, foram para o salão. Aquele era um dos maiores lugares do castelo, sem dúvida. Ali era feito cerimônias, homenagens, festas ocasionais e tudo que marcava uma data especial. Os músicos da corte opesiana animavam e davam ritmo a comemoração. Todos já estavam apostos com seus pares, e o Rei Vladimir estava prestes a dar o último de seu pronunciamento no festival, e todos já estavam prontos para ouvi-lo.
— Senhoras e senhores, hoje o festival chega ao seu fim. Foi uma honra recebê-los em nossa cidade durante esses dias que se passaram. Faremos agora, a nossa última dança. Músicos! — Vladimir pegou Olívia pelas mãos e foi junto dela até o centro do salão. Os músicos começaram a tocar uma nova melodia, assim todos os casais iniciaram a dança tradicional. Era de se notar alguns detalhes enquanto dançavam. Weiland e Charlotte Heck eram corpulento demais para se abraçar, então dançavam apenas de mãos dadas. Alice e George dançavam totalmente fora do ritmo, contrariando quaisquer fossem os passos certos da dança. Christine e Kirk Black conduziam seus passos, encarando-se olho no olho. Entretanto, o casal Greenleaf estava totalmente desconfortáveis. Olívia olhava para o chão, e Vladimir observava os sorrisos de Marty e Diana, aliás eles mais divertiam-se que dançavam. Até que uma hora, os dois primos se juntaram aos pequenos e fizeram uma ciranda. Todavia, nem todos levavam a dança na brincadeira. Alexander e Elise Sun dançavam como se disputassem algum concurso. Eles foram exemplares, com os seus passos precisos e sincronizados. E do lado de fora do salão, havia um observador. Ele olhava fixamente em direção ao príncipe Marty, como se planejasse algo. Era um dos guardas mais fiéis de Intrepidus, seu nome era Maraz e ele planejava algo contra o jovem príncipe. Aliás, ele ainda sentia a ferida em seu rosto que Marty deixara da última vez que se encontraram. Então ali ele ficou, até que a música terminasse. Depois de encerrarem a dança, e enquanto aplaudiam, parecia que Maraz já possuía um plano em mente. Mas, ele precisaria de alguém para ajudá-lo com o seu plano. Ele avistou - no meio daquela gente toda - um jovem um tanto atrapalhado que de imediato, sabia que tinha de ser ele. Maraz aguardou o rapaz sair para recompor as garrafas de vinho, e o puxou pelo braço, recostando-o na parede. Maraz pegou alguns Ikis de prata de sua bolsa de moedas, e os exibiu para o rapaz, e então disse:
— Quer ganhar 10 Ikis de prata sem esforço algum? — Sebastian nem pensou duas vezes e logo perguntou:
— O que eu devo fazer?
— Preste atenção. Quero que entregue um recado a duas pessoas. Eu mesmo poderia fazer isso, mas não quero incomodá-los. Aliás, você tem livre acesso com as bebidas pelo salão. Então é o seguinte. Trata-se do príncipe Marty e da rainha Christine Black. O que você deve falar para a rainha, é que o Comandante Erik chama por ela urgentemente. E para o príncipe Marty, diga que a mãe dele está no jardim colhendo flores, e ela precisa ter uma conversa com ele.
— Eu suponho que devo dar o recado primeiro a rainha, e depois ao príncipe. Estou certo? — Maraz se impressionou com a resposta.
— Com toda a certeza! Para um serviçal, até que você não é burro. Mas tenho uma última coisa a dizer. Dê um certo intervalo entre os recados, para que eles não saiam na mesma hora. Entendido?
— Sim, mas quando eu ganho os Ikis?
— Agora. Mas não me passe para trás, garoto. Você sabe o que vai acontecer se você me passar para trás, não sabe? — amedrontado, ele sabia e acenou com a cabeça. — Então vá!
Portanto, Sebastian fez o que lhe foi pedido. Primeiramente, ele deu o recado a Christine, causando estranhamento nela e em Kirk. Contudo, mesmo assim ela foi. Depois de instantes, Sebastian entregou outro recado a Marty, que nem ao menos questionou. O príncipe apenas foi. Assim que ele deu os recados, procurou Maraz para confirmar. Porém ele não achou o guarda. Maraz já havia sumido.
— Onde ele foi? — se perguntou Sebastian. Ninguém o viu e ninguém sabia.
         Marty percorreu todo o castelo até o jardim, e ele olhava para ambos os lados. Ele sentiu um frio inexplicável subir por seu corpo todo, embora estivesse um clima agradável naquela noite. Saindo em direção ao jardim, Marty não encontrou sua mãe. Aliás, ele não avistou ninguém além dos guardas intrépidos. Então, ele resolveu procura-la por ali mesmo. Deu uma volta pelo jardim, e não achou nenhum sinal de sua mãe. O príncipe - confuso e preocupado - parou perto fonte de água em meio ao jardim e coçou sua cabeça.  Até que, de repente, Maraz o agarrou pelas costas, perfurando sua barriga em um só golpe. O jovem príncipe podia sentir o seu sangue de sua barriga escorrer entre os seus dedos. Tentando aguentar a dor que sentia, Marty ainda teve que ouvir Maraz dizendo em seu ouvido: "Lembra-se de mim, não é?" E Marty conseguiu dizer só uma coisa antes de cair ao chão.
— Maldito seja! — disse o príncipe, em bom e alto tom. Em seguida, lentamente ele caiu, e Maraz limpou sua espada em um pano que tinha consigo. Já com a espada na mão, e perplexo com o que tinha acabado de assistir de longe, Dragomir foi sedento - com sua espada na mão - golpear o guarda opesiano. Maraz usou seus reflexos ao defender o primeiro golpe, mas o segundo que Drago desferiu foi certeiro, porém não letal. Ele o atingiu na altura do ombro direito, fazendo Maraz largar a espada e sentir a dor do golpe.
— Mataste o jovem príncipe de Potens, e ele ainda estava desarmado. Como teve a coragem? — perguntou Drago retoricamente. Maraz avistou Olívia saindo ao jardim, junto do Comandante Erik. O plano dele estava se saindo melhor do que imaginava. Assim, Maraz teve uma atitude brusca, que poderia ajudá-lo naquela situação. Ele trocou sua expressão de dor, por uma de indignação, e então apontou para Drago, e gritou para todos ouvirem: — Você matou o príncipe de Potens! Assassino! Assassino! Assassino!!! — os guardas intrépidos se alertaram, e Dragomir sem entender o porquê daquela loucura, caiu em gargalhada. Olívia e Erik foram correndo ver o que acontecia, e quando viram o comandante de Intrepidus com a espada ensanguentada na mão, gargalhando e com o príncipe morto ao chão, ficaram abismados.
— Você matou meu sobrinho! Assassino! — gritou Olívia. Erik puxou a espada de sua bainha e ameaçou partir para cima de Dragomir. O Comandante ficou sem reação, pois mesmo que ele fosse inocente, não havia testemunhas que tivessem visto Maraz golpear o príncipe.
— Peguem-no! — ordenou Olívia. Quando percebeu a situação, Dragomir só pôde pensar em uma coisa. Fugir e proteger a sua vida. Então ele correu para a saída que daria na floresta. Os guardas de Opes que tentaram persegui-lo foram impedidos pelos de Intrepidus. Dragomir era um grande comandante, e seus soldados eram fiéis a ele. Sabiam de seu caráter e de sua bravura. Erik foi até o corpo caído de Marty, colocou dois dedos em seu pescoço e assim constatou. "Ele está morto." E de fato, estava. Olívia caiu aos prantos. Marty era o herdeiro legítimo de Potens, portanto era uma perda não só para a sua família, como também para o seu reino inteiro.
— Descanse em paz, meu jovem. — murmurou Erik, fechando os olhos de Marty. Era lamentável para a rainha Christine, que iria se afogar em um mar de choro, e para o rei Kirk que nadaria em um mar de fúria.

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Olá! Como estão? Eu espero que estejam bem.
"Quem é vivo, sempre aparece." Não é mesmo? :D
Consigo ver quem vota e comenta nos capítulos, e queria agradece-los. É por vocês que eu continuo escrevendo. Tmj!
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Até logo!

---Thiago C---

 

         
           

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