20/09/2004. 12:00
O quarto dela foi montado com cuidado e amor. Ficou simplesmente lindo. Um quartinho digno de uma princesa, ao lado do quarto do Jacob. Depois de tanto insistir, ela quis voltar para sua casa e ter o bebê aqui. Ana não aparenta estar ansiosa, já eu, conto os dias. Ela já falou comigo que quer ter parto normal, como foi o do Jacob. Corajosa ela; só de imaginar, já começo a sentir dor. Só de pensar em seus bracinhos pequenos, eu já me apaixono. E espero que essa vida traga felicidade para uma casa tão triste e vazia.
Passamos a manhã toda comprando o que faltava para que Christiane pudesse viver bem seus primeiros meses. Porém, fui com muito sono. Ana me acordou de madrugada dizendo que nuggets gigantes corriam atrás dela. E o pior de tudo, acabei tendo de fritar nuggets para satisfazer suas vontades. Pelo menos o pesadelo foi leve, ao ouvir seus gritos meu medo só aumentava. Tinha certeza que era algo relacionado ao incidente no Poseidon.
Ao chegarmos em casa, a senhora Gonçalvez ajuda Ana a achar uma boa posição no sofá na sala, enquanto ela liga a TV. Eu pego as compras e levo para o quarto da Christiane, enquanto escuto Ana me chamar para assistir algo na televisão. Desço as escadas e me direciono para a sala onde se encontra Ana com a senhora Gonçalvez, estapeada com o que passa no noticiário.
— Uma nova onda de sequestros a pessoas ricas chega em Los Angeles. — Ana repete o enunciado da TV, acariciando sua barriga.
— Os mesmos que sequestraram o Phelipe — falo, engolindo em seco.
— Isso não a assusta? — pergunta Ana, sem perceber meu rosto amedrontado.
— Claro... que sim. — Tento falar com calma para não assustá-la, mas na verdade meu coração só falta sair pela boca. Mesmo que nossas condições financeiras não sejam tão boas, comparadas com tantos outros nesse estado da Califórnia. — Além disso, eu vi na internet que o FBI e forças especiais da polícia estão se preparando para nos proteger. Eles vão manter tudo nos trilhos, no entanto, nem somos ricos, como o papai e a mamãe já foram um dia. O que restou para mim foi uma pequena herança, e você com a renda dos seus livros, que não é absurdamente grande.
— Você tem conversado com o Phelipe, sabe mais detalhes sobre o que aconteceu com ele?
— Não, e não quero saber!
— Talvez ele tenha mudado de...
— Ele já está com outra! — A interrompo, tentando mostrar que estou calma.
— Nossa... que rápido.
Tento me manter neutra na frente dela, tudo na minha vida aconteceu muito rápido. Como uma história de um livro, com grandes e terríveis capítulos. Tudo à espera de um final, ou um epílogo que terminasse com a dor de viver nesse mundo injusto. Com uma família feliz reunida em uma grande mesa de jantar de domingo, com nossos filhos esboçando grandes sorrisos. E companheiros que irão nos dar um beijo, e sorrir para nós com um tom de ''missão cumprida''.
Encosto minha cabeça na barriga de Ana, tentando escutar alguma batida que a Christiane poderá dar. Só que a campainha toca, fico apreensiva de quem possa ser. Me levanto rápido e vou até a porta da casa de Ana. Vejo uma mulher branca com longos cabelos castanhos e olhos penetrantes, usando um terno azul, que deixa ela com um tom nada feminino. O que é estranho, já que ela está linda desse jeito. Seu olhar me analisa por completo, e me deixa sem graça.
— Emília Clarke? — Ela se pronuncia primeiro, seu sotaque é britânico.
— Posso ajudar em alguma coisa?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1
General FictionChristian e Ana Blake brigam constantemente e temem ver seu casamento ruir, então decidem embarcar em um "cruzeiro de reconciliação". Nesse mesmo cruzeiro está Cody, um jovem que fugiu de casa depois de ser agredido pelo próprio pai. Emília é irmã d...