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POV Jessie

A vida dá muitas voltas.
Nunca pensei que a minha pudesse dar uma tão grande... Mas a verdade é que deu, e agora só posso seguir em frente. É o único caminho disponível.

Uma enfermeira entra no quarto, a primeira desde que acordei, e peço-lhe que chame a Ana.

Ela entra passados alguns segundos e abre um largo sorriso assim que me vê, ao qual eu retribuo.

-Jéssica!- os seus braços rodeiam o meu pescoço e as nossas lágrimas correm em conjunto

-Ana, em preciso de falar contigo! Eu tomei uma decisão- ela parece confusa ao ver-me tão decisiva. Eu sei que devia falar sobre ele, mas quanto menos referir o assunto, melhor- Eu vou para Inglaterra! Não posso, nem quero, continuar aqui.

-O quê? Jessie, eu...eu lamento- a sua confusão é visível, deixando a sua testa rugosa- lamento por tudo o que te aconteceu...

-Tenho a certeza que não lamentas mais que eu. Eu já chorei muito Ana, desde que acordei que não tenho feito outra coisa... Mas prometi a mim mesma uma coisa, nunca mais vou chorar por este assunto. Vou falar com o Coimbra ainda hoje, encerrar tudo para depois seguir em frente- afasto o meu olhar do seu antes de continuar- Eu tive um filho, sei que sim. Mas também sei que ele me escapou por entre os dedos... Não posso ficar presa ao passado, percebes?

-Eu não sei o que te dizer... Se sentes que isso é o melhor para ti, eu só te posso apoiar- a Ana esforça-se por me oferecer um sorriso em concordância, mas é evidente que não podia estar mais infeliz

-Eu gosto muito de ti, não quero que uns meros quilómetros me afastem da minha melhor amiga! Vais ter que me prometer que me vais ligar todos os dias e que nunca me vais esconder nada, okay?- não acredito que me consiga afastar dela, mas vou ter que reunir todas as minhas forças para partir assim que tiver alta

-Tu sabes que eu era incapaz de não partilhar cada movimento meu contigo!- soltamos ambas uma leve gargalhada, a qual se desfaz com o pesar do assunto -Jéssica, promete-me que não te vais impedir de ser feliz...

-Eu prometo- abraçamo-nos mais umas vez antes de ela sair

Os seus pais são os próximos a entrar.
Sou direta em relação às minhas decisões e pareço ser um pouco mais compreendida por parte deles. Mas as mesmas expressões, tristes e algo que baralhadas permanecem presentes.

-Nós vamos estar aqui sempre que precisares- recebo os seus fortes braços e deixo-me levar

-Eu sei que sim, obrigado por tudo- a mãe da Ana dá-me um longo beijo na bochecha antes de sair, acompanhada pelo seu marido, para fora do quarto

Sou mais uma vez deixada sozinha até que começo a ouvir passos no corredor.

O Kasha e o Cristo entram com um enorme bolo nas mãos. Esta é a primeira visita que recebo que vem para, e só mesmo, me animar.

Consigo ver os seus olhares brilhantes e a enorme vontade de fazer perguntas, mas de certeza que a Ana já lhes contou tudo e nenhum deles quer tocar no assunto... Finalmente alguém que aceda às minhas más, mas necessitadas, vontades.

-E lembras-te daquela vez em que o Coimbra quase caiu da janela?- os nossos risos já duram há bastante tempo devido a estas brilhantes histórias, mas assim que o Kasha refere o apelido do Miguel todos nós ficamos em silêncio- Desculpa, eu não queria...

-Bem, talvez seja melhor deixarmos-te descansar- o Cris vem salvar o momento e arrasta o Kasha até à porta

-Esperem!- vou até eles e dou-lhes um abraço antes de os deixar ir- Obrigado

...

Adormeço a meio da tarde e assim que dou por mim de pé, encaminho-me até à porta

-Desculpe, enfermeira? Sabe dizer-me se ainda há alguém lá fora à minha espera?

-Sim há! Ele está lá há imenso tempo. Quer que mande entrar?

-Hmm..sim, acho que chegou a hora

-Muito bem, menina. Com licença

Volto para o meu quarto e sento-me na cama.
Tu não vais chorar Jéssica, não vais!

-Olá...- os meus olhos encontram os dele e a minha mente parece viajar até ao nosso primeiro beijo. Como é que ele foi capaz?...

-Olá. Coimbra eu não quero perder tempo, apenas vou ser direta!- sei que não é correto dizer tudo de uma vez, mas se não for assim não vou conseguir- Eu sei que a tua intenção não era esta, que o que fizeste não foi...quer dizer sim foi mas...

-Eu não quis fazer aquilo que fiz. Por favor, acredita em mim!

-Miguel eu não vou dizer que perdi o bebé por tua causa.
Eu fiquei muito magoada quando entrei na casa do Cris, tive a reação que tive e isso levou-me até ao acidente... Mas agora só quero seguir em frente. Eu amo-te mas não consigo estar contigo agora, nem sei quando vou conseguir. Eu vou para Inglaterra, vou tentar ser feliz lá e quero que tu faças o mesmo aqui- as suas lágrimas queimam o meu coração e é difícil resistir à vontade de correr para ele

-Não me faças isso, eu peço-te... Eu amo-te tanto

-Tu fizeste-me muito pior, sabes?... Não tornes as coisas mais difíceis- ele avança na minha direção, não o Afasto e aceito o seu abraço

-Fica bem Miguel, fica bem...- afasto-me e viro-me na direção na janela. Sinto a sua presença durante alguns segundos até ouvir a porta fechar

Do outro lado ainda consigo ver o seu corpo que se vai afastando lentamente.

Amor InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora