Douglas não chorava mais. Suas lágrimas haviam acabado.

Tinha demorado um pouco para cair a ficha dele. Quando havia visto Carlos morrer ali na sua frente, ele havia chorado, mas só um pouco, depois quando passou a tempestade, que levaram o corpo dele, que eles tiveram que dar muitas explicações e que a cidade inteira ficou sabendo o que havia acontecido Douglas se sentou em seu quarto no silêncio e ai então a realidade o atingiu em cheio.

Seu amigo, seu melhor amigo, amigo de infância, estava morto, nunca mais ele o veria de novo, nunca mais escutaria suas piadinhas fora de hora, nunca mais veria Carlos sendo Carlos.

Agora ali estava ele no seu velório. Havia se passado menos de 24 horas, porém parecia mais.

O caixão estava fechado. "Na cara não pra não estragar o velório" Carlos teria dito se tivesse tido a oportunidade.

Havia bastantes pessoas no velório, o que não surpreendeu Douglas, afinal de contas Carlos era uma pessoa que muitos gostavam.

A mãe e o pai dele estavam ao lado do caixão do filho praticamente inconsoláveis, Douglas nao sabia dizer quem estava em estado pior. Ver aquela cena doía muito pois ele havia arrastado Carlos para aquilo, então a culpa era dele.

Douglas estava mais para o canto, longe dos grupos de pessoas. Não queria falar com ninguém, quando alguém vinha para seu lado tentar consolá-lo logo ele dispensava. Não gostava de conversar com pessoas em momentos que ficava assim pois se sentia vulnerável e fraco e não gostava de ser visto assim.

Fazia uns 20 minutos que ele havia chegado quando Verônica entrou pela porta. Não havia falado com ela nem com Cristian depois do que tinha acontecido, não tinha tido tempo.

Ela usava um vestido preto de mangas curtas, o que foi um pouco estranho ja que Douglas nunca a tinha visto usando vestido. Assim que ela o viu foi em sua direção.

- Oi. - disse ela em voz baixa.

- Oi.

- Como você está?

Douglas deu de ombros como se dizendo "voce sabe como". Ela assentiu.

- Você está bonita. - disse Douglas - Ele iria gostar de te ver assim.

Ela abriu um pequeno sorriso de lado.

- Iria mesmo. Mas... - ela apertou os lábios e seus olhos se encheram de lágrimas - Ele não pode agora.

- Não pode. - ele concordou - E a culpa é minha.

Verônica o encarou.

- Não diga isso.

- É a verdade Verônica, eu arrastei ele e você pra esse inferno, a culpa é só minha, você sabe disso, eu sei disso.

Verônica segurou seu braço.

- Não adianta se culpar, isso não vai trazer ele de volta.

As lágrimas que Douglas achava que não tinha mais voltaram a rolar por seu rosto.

- Pode até ser. - disse ele - Mas que isso vai ter vingança vai.

Verônica abriu a boca para falar, mas após ver alguma coisa, talvez na expressão de Douglas desistiu e desviou o olhar para os pais de Carlos do outro lado do salão.

- Eu vou la falar com eles. - disse.

E então se retirou deixando novamente Douglas sozinho com seus pensamentos.

Logo depois chegou Cristian que também foi em sua direção.

- Eai. - disse Cristian.

Douglas se limitou a dar um aceno com a cabeça.

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