CAPÍTULO 10

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Angeline



Eu já estava encharcada. 

Corri pela areia brigando contra o vento que tentava me jogar para trás.

Droga, isso não era uma tempestade, era um maldito vendaval.

Minha visão estava embaçada por conta da chuva, então eu não conseguia olhar muito à frente. Teria que percorrer toda a extensão da praia até encontrá-lo. Eu só esperava encontrá-lo a salvo.

Tirei minha coroa da cabeça, já que o vento insistia em querer jogá-la para longe, e não era uma opção perdê-la. Eu realmente tinha adorado esse presente.

Eu já estava longe da mansão, gritava seu nome com todas as minhas forças, mas nenhum sinal dele. Caminhei mais um tempo pela beira da água, com a barra do meu vestido já suja pela areia molhada. Foi quando eu senti um pedaço de bambu bater em minha perna de encontro com a água do mar. Me assustei primeiramente achando que pudesse ser algum bicho ou sei lá o quê. Peguei-o e o olhei por alguns segundos até que me lembrei de onde ele vinha.

–– Claro! Como não pensei nisso antes? – falei para mim mesma.

Eu já sabia onde Duncan estava.

Corri até a costa da praia que era coberta por enormes pedras onde as ondas batiam com força contra elas.

Caminhei até chegar nas pedras e subi com dificuldades, por conta do vestido, em uma delas. Existia um vão entre as rochas que Duncan e eu descobrimos quando criança. Todos pensavam que a praia terminasse ali, mas não era verdade. Havia mais.

Atravessei o caminho entre as pedras até chegar ao outro lado da praia.

Nossa, fazia um tempo que eu não vinha a este lugar. Estava me esquecendo o quanto era bonito. Tão calmo, belo, paradisíaco, deslumbrante. O verdadeiro paraíso. A natureza podia ser muito bela, apesar de no momento estar realmente assustador.

Duncan e eu descobrimos esse lugar ainda crianças. Brincávamos beirando essas pedras quando achamos uma passagem entre elas. Um dia atravessamos e vimos que o mar não terminava onde todos pensavam. Nós guardamos este segredo durante todos esses anos.

Quando ficamos mais velhos, decidimos construir uma cabana, estilo A Lagoa Azul. Era divertido passar as férias aqui e com ele. Nos divertíamos muito. A companhia de Duncan não se comparava a de qualquer outra pessoa.

Conforme íamos crescendo, todas as férias que vínhamos para cá, Duncan e eu incrementávamos nossa cabana, era como um refúgio para quando queríamos ficar sozinhos. E era neste mesmo lugar que eu estava agora, de frente para a cabana, rezando para que Duncan estivesse ali. Fazia um tempo que não nos encontrávamos neste lugar. Ele sempre me chamava para vir passar o fim de semana com ele, mas eu dizia sempre a mesma coisa "Já tenho compromisso".

Suspirei enquanto passava a mão pelo meu rosto encharcado pela chuva que ainda não cessara.

Eu era uma maldita egoísta. O queria a todo momento disponível para mim, mas ultimamente eu não estava disponível para ele. Era compreensível que não tivesse se importado em conversar comigo sobre sua viagem. Claro, isso não queria dizer que eu estava feliz ou que o deixaria ir de livre espontânea vontade, mas ainda assim sabia que falhara demais com a nossa amizade.

Abri a porta da cabana. Uma fraca iluminação vinha do cômodo dos fundos. Ao caminhar silenciosamente seguindo a luz, encontrei Duncan sentado na lateral da cama improvisada, com a camisa branca desabotoada e a gravata borboleta desmanchada ao redor do seu pescoço. Suas mãos seguravam uma garrafa Jack Daniels praticamente vazia. Seus olhos estavam presos nela, mas seus pensamentos muito longes.

○ THE AWAKENING # 0.5 - A The PowerCorp SerieOnde histórias criam vida. Descubra agora